Descrição de chapéu Eleições 2018

Seria oportunismo chamar Moro se eu nunca tivesse combatido a corrupção, diz Alvaro Dias

Candidato à Presidência, senador quer magistrado como ministro da Justiça e promete acabar com os privilégios nos três Poderes

Ana Luiza Albuquerque
Curitiba

Dez mil dias. É o intervalo de tempo que o senador Alvaro Dias (Podemos), candidato à Presidência, diz estar combatendo a corrupção. É também o tempo que, segundo ele, o absolve da pecha de oportunista por ter convidado o juiz Sergio Moro para ser ministro da Justiça.

Ele afirma que seu principal adversário é o desconhecimento entre os eleitores.

O senador Alvaro Dias, candidato à Presidência da República pelo partido Podemos
O senador Alvaro Dias, candidato à Presidência da República pelo partido Podemos - Rafael Hupsel - 20.ago.2018/Folhapress

O senhor tem repetido que convidará o juiz Sergio Moro para ministro da Justiça, caso eleito. No dia do anúncio, o senhor afirmou que ele não estava ciente do convite. Não é oportunismo? Seria oportunismo se eu nunca tivesse combatido a corrupção. Se, enquanto o Brasil estivesse sendo assaltado, eu estivesse à sombra do poder. Sempre estive na linha de frente do combate à corrupção. No dia 1°, eleito, eu apanho o telefone, ligo para ele e digo 'Sergio Moro, você aceita o convite que eu lhe fiz?'.

O senhor tem reforçado que abriu mão de seus privilégios, que não recebe aposentadoria por ser ex-governador, nem auxílio-moradia. Já o juiz Sergio Moro ganha o benefício mesmo tendo apartamento próprio. Não é uma contradição? [Ri] Olha... É, é uma coisa... Em política nós temos que afirmar as nossas posições. Abrir mão do auxílio-moradia incomoda a quem? Evidentemente, a mim não. A mim valoriza. Eu abro mão do auxílio-moradia há muito tempo. Da verba indenizatória de R$ 15 mil também. Isso significa R$ 20 mil por mês. E abro mão também da aposentadoria. Estou dizendo isso porque tenho que ter autoridade para dizer que, eleito, vou acabar com os privilégios.

Mesmo do Judiciário? Dos três Poderes. Acho que um país aflito diante da crise necessita de reformas de profundidade.

O senhor tem afirmado que as mulheres terão papel importante em seu governo. Ao mesmo tempo, a síntese do programa do senhor não dedica sequer uma linha ao tema. Acho que, no nosso programa, focalizamos a questão dos direitos humanos, da eliminação das desigualdades. Em relação à mulher, não há nenhuma dúvida de que a valorização é inevitável. Não basta defender os direitos das mulheres. O que é preciso é ter uma pauta de participação econômica e protagonismo político para as mulheres. Por exemplo, à produção cultural das mulheres. Essa inserção da mulher nas políticas de arte e cultura tem que ser enfatizada. Creio que nosso plano de governo está repleto de medidas que beneficiarão as mulheres. Como, por exemplo, 4 milhões de creches. Isso diz respeito à mulher mãe que precisa ver seu filho cuidado, educado, para que possa desempenhar sua profissão.

A legalização do aborto, por exemplo, não será pautada no seu governo. O presidente da República, como cidadão, pode ter uma opinião. Eu tenho a minha. A legislação atual é suficiente porque estabelece as excepcionalidades, do meu ponto de vista. No entanto, se as mulheres desejassem alterar a legislação, poderíamos submeter a um plebiscito.

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) é seu principal adversário? Meu principal adversário é o desconhecimento. Ainda hoje vi uma pesquisa que 56% [dos eleitores] não me conhecem.

A vice de Alckmin é a senadora Ana Amélia (PP), que tem presença forte no Sul, assim como o senhor. O eleitor tem que ser convocado por nós para fazer a análise correta das candidaturas e dos projetos. A candidatura do PSDB, com esse ajuntamento de siglas, significa a sobrevivência do sistema atual, que fracassou, o sistema do balcão de negócios. Nossa proposta é de rompimento, é o oposto.

Seu programa é inspirado no governo de Juscelino Kubitschek. O senhor diz que é preciso recuperar aquele período de forte crescimento. Por outro lado, JK também é criticado por ter elevado a inflação e a dívida externa. Como financiar a industrialização sem repetir erros? Almejamos investir, até 2022, 22% do PIB nos setores essenciais, infraestrutura, educação, saúde, tecnologia. Isso será possível se promovermos as reformas necessárias. Ajuste fiscal, por exemplo, é o mais urgente.

Prevê privatizações? É parte das reformas. As privatizações ocorreriam depois da valorização das empresas que foram desvalorizadas pela incompetência e corrupção.

De que empresas estamos falando? Petrobras, Eletrobras? Obviamente há aquelas que são estratégicas e que não devem ser privatizadas, pelo menos em um primeiro momento. Em momento algum, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O entorno da Petrobras pode ser alvo de privatização. Eletrobras, a mesma forma. Futuramente, pode-se discutir.

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