Descrição de chapéu Eleições 2018

Descrito pela família como solitário, autor de atentado recusou ajuda

De raras aparições, Adelio falava sozinho e não mencionava relacionamentos amorosos

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Montes Claros

Homem que atraiu os olhares de todo o país após atacar o candidato Jair Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, é um típico retirante de Montes Claros, que deixou a cidade-pólo mais nordestina de Minas Gerais ainda na adolescência, em busca de emprego em São Paulo.

Desde então, segundo os parentes mais próximos, ele só aparecia em raras ocasiões, como nas festas de fim de ano. Ia embora deixando poucas pistas de si próprio e muito estranhamento. Falava bastante sozinho, mas pouco com os outros.

Nas temporadas em que passava na sua cidade de origem, não raro trancava-se por dias num dos barracões da família, mesmo sob o calor escaldante do Norte mineiro. Não mencionava relacionamentos amorosos.

Perdia horas em frente à TV, vidrado com noticiários, e fazia esparsos comentários sobre as matérias relacionadas a políticos. Reclamava da classe em geral, mas gostava de Luiz Inácio Lula da Silva. A parentes ouvidos pela Folha não contou sobre sua filiação ao PSOL de Uberaba, entre 2007 e 2014.

“Ele não pedia voto para ninguém. Só falou comigo, uma vez, que queria ser deputado, porque aí podia trabalhar em várias cidades”, conta a auxiliar de serviços gerais Maria Inês Dias Fernandes, de 48 anos, cunhada de Adelio, que o conheceu ainda menino.

Ela é companheira de Aldeir Ramos, de 51, irmão mais velho do algoz de Bolsonaro, com quem divide uma casa simples no bairro Santo Antônio, periferia de Montes Claros. Os dois tiram o sustento de um bazar de roupas doadas e de um barzinho quase sempre ermo.  

Ramos diz ser o irmão mais próximo de Oliveira e o viu pela última vez há cerca de quatro anos, quando, conta, fez um apelo para que buscasse tratamento, ao perceber uma certa agitação de comportamento.
“A gente falou em fazer uma consulta, mas ele não quis. Um psiquiatra custa uma nota, não é”, afirma o irmão. “Eu disse: seu irmão não está bem. Danava um ‘converseiro’ sozinho, no quarto. Sentava na cama e falava não se sabe com quem”, lembra Maria Inês.

Apesar da preocupação com a saúde de Oliveira, os parentes dizem que jamais esperavam dele um comportamento violento. “Nunca foi de arrumar confusão. Eu e ele, mesmo, não tivemos uma briga na vida”, comenta Ramos.

Ao ver o ataque pela televisão, após anos de ausência do cunhado, Maria Inês relata que se ajoelhou e orou para que Bolsonaro resistisse ao ferimento, até para “não complicar” Oliveira. “Creio que foi um surto que deu nele. Ele não tem aquele olho arregalado, horroroso. Chega que eu arrepio. Ele não está bem”.

Filho de um gari com uma varredora de rua, os quais perdeu ainda na juventude, Oliveira tem quatro irmãos que vivem em bairros pobres de Montes Claros e em lugarejos nos arredores da cidade.

Antes de cair no mundo, aos 17 anos, alternando temporadas de trabalho em São Paulo, Uberaba e Florianópolis, viveu sob o mesmo teto de uma das irmãs, Maria, ajudando-a na criação dos filhos. “Quando minha mãe ficou viúva, ele fez a parte de pai”, relata a sobrinha, Jussara Ramos, de 31 anos.

Ela também descreve o tio numa sucessão de ausências e preocupações. À Folha, contou nesta sexta (7), aos prantos, que não o via há uns três anos e, agora, todos estão “em choque”.

Sobrinhos e irmãos não têm condições financeiras para viajar até Juiz de Fora e dar assistência ao tio. Até a tarde desta sexta, ninguém havia conseguido contato com ele ou alguém que o represente.  “Achei que fosse um pesadelo. Ele está lá, largado, só, e nós não temos como ajudar”, lamentou.

Em tratamento contra um câncer, Jussara divide com o marido, o pedreiro Eraldo Fábio Rodrigues de Oliveira, de 45 anos, uma moradia de tijolos expostos no Maracanã, bairro de classe baixa de Montes Claros. Foi a primeira a ser contatada na quinta e a dar entrevistas sobre o tio.

Nesta sexta, pedia aos repórteres que a ajudassem a achar o telefone do advogado de Adelio.
O casal soube do ataque a Bolsonaro pela TV, na tarde do atentado. “Falei com a minha mulher: acho que é seu tio. Saí e, quando voltei, ela já danou a chorar”, relata Oliveira.

Na mesma tarde, segundo ele, a Polícia Militar de Minas fez uma batida na casa, em busca de eventuais objetos do agressor. “Aqui não tinha nada. Eles ficaram sabendo que ele deixou uma mala na casa do irmão e foram para lá. Falaram que a Polícia Federal viria também”.

Jussara e Oliveira têm dois filhos, um de 11 e outro de 16 anos. Estão com medo de retaliações de apoiadores do candidato à Presidência.  “As pessoas estão nos ameaçando nas redes sociais”, contou ela.

O filho de 11 anos participa de um projeto social do Exército e desfilaria na parada de Sete de Setembro em Montes Claros, mas a mãe não deixou. 

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