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Aliados de Bolsonaro investigados por greve de PMs no ES são candidatos

Paralisação da categoria durou 21 dias e aumentou em 134% as mortes em fevereiro de 2017

Carolina Linhares
Vitória

Aliados do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Carlos Manato (PSL) e o ex-deputado federal Capitão Assumção (PSL) foram apontados como incentivadores da greve da Polícia Militar no Espírito Santo por investigações à época e agora concorrem aos cargos de governador e deputado estadual, respectivamente.

A paralisação durou 21 dias e aumentou em 134% as mortes em fevereiro de 2017. Outros sete nomes em evidência no motim, principalmente de policiais do PSL, também estarão nas urnas neste ano.

Manato nega participação no movimento em si, mas diz estar à frente do projeto de lei que dá anistia criminal aos policiais processados. A medida, que tem outros dois autores, precisa ser votada no plenário da Câmara. Se eleito, afirma que dará anistia administrativa também.

O deputado federal Carlos Manato (PSL-ES), apontado como incentivador da greve da PM no estado em 2017. Aliado de Bolsonaro, é candidato ao governo do Espírito Santo
O deputado federal Carlos Manato (PSL-ES), apontado como incentivador da greve da PM no estado em 2017. Aliado de Bolsonaro, é candidato ao governo do Espírito Santo - Pedro Ladeira - 13.jul.2016/Folhapress

“Eu defendi a anistia depois do movimento. Não participei de nenhuma reunião estimulando”, disse.

Já Assumção esteve preso por quase dez meses acusado de liderar o movimento. Ele assume que participou, mas diz que não incentivou. “Apoiei o movimento dos familiares. Não foi greve, não podemos fazer greve.” Suplente na Câmara, chegou a assumir mandato entre 2009 e 2011.

Os dois candidatos afirmam que não conversaram com Bolsonaro durante o motim e que ele não teve participação. Na época, o presidenciável gravou um vídeo, com dois milhões de visualizações, em que pede que o governo do estado negocie, diz que não se trata de uma greve e alerta para a chance de outros estados sofrerem o mesmo.

“Sabemos as dificuldades que os senhores [governantes] têm, mas o policial também tem. Vocês não podem se prevalecer da disciplina do militar para subjugá-lo”, diz. Também afirma que Assumção faz falta na Câmara: “meu prezado amigo, capitão Assumção, que eu sei que está preocupadíssimo”.

Bolsonaro compartilhou ainda uma entrevista em que o comandante da PM no sul, coronel Quintino, diz que o movimento era legítimo, pois os policiais passavam necessidade.

“Bolsonaro não iria entrar numa situação dessas, a vida dele não é pautada por movimentos sindicatório”, diz Assumção. “Ele não teve nada a ver, entrou de gaiato”, completa Manato.

Para ambos, não houve ganho político: “todo mundo perdeu, eu só ganhei desgaste pela anistia”.

“Quem quer votar em ex-presidiário? Isso me maculou”, diz Assumção.

ALVOS

Durante a greve, Manato exonerou uma servidora comissionada encarregada de cuidar de suas redes sociais, Izabella Renata Andrade Costa, após ela ter sido apontada pelo Ministério Público como uma das líderes da paralisação.

Izabella, que esteve em bloqueios feitos por familiares de policiais nas portas de batalhões, é casada com o ex-policial Walter Matias Lopes, presidente da Aspobom (Associação dos Beneficiários da Polícia e Bombeiros do Estado do Espírito Santo), também acusado.

“Ela quebrou minha confiança, mas cada um tem seu CPF”, diz Manato sobre a ex-funcionária. O deputado entregou seu celular à Polícia Federal, mas não foi constatada sua participação direta.

Assumção, Matias, Izabella e mais 21, entre policiais e familiares, são réus acusados de formação de organização criminosa, atentado contra a segurança pública e incitação ao crime. Matias e Assumção publicaram vídeos mostrando os bloqueios e as reivindicações.

Segundo a denúncia do Ministério Público, a manutenção do movimento por tantos dias só foi possível pela ação coordenada de policiais, representantes de associações de classe e familiares. As investigações analisaram publicações em redes sociais, interceptações telefônicas, fotografia dos protestos e documentos apreendidos.

Entre outros suspeitos, Matias e Izabella foram presos provisoriamente em março de 2017. Eles não responderam ao contato da reportagem.

Já Assumção esteve preso de 28 de fevereiro a 23 de dezembro de 2017. No momento da prisão, houve confusão de policiais no seu entorno e ele escapou, entregando-se dias depois.

“Eu não tinha feito nada de errado. Estava lá no meu desalento, porque acreditava que o movimento iria fazer com que o governo cumprisse a obrigação de dar reajuste, mas não aconteceu”, diz o capitão sobre a prisão.

“Nunca desobedeci uma ordem legal”, afirma Assumção, embora liste uma série de manifestações das quais fez parte por melhoria de salários, ao menos desde 2002, e que resultaram em prisões.

“Participei de todos os movimentos. Tenho quatro prisões para cumprir, mas não podem me intimar porque estou em campanha. Sofro essas punições em decorrência das minhas manifestações pelos policiais que não podem falar pelo regulamento.”

Assumção tem um procedimento de exclusão em andamento, além de dezenas de processos administrativos e de crime militar. Diz que cada post crítico no Facebook lhe rende uma investigação. “Informo as covardias que os comandos-gerais, os governos, os secretários de segurança praticam, e eles colocam como se eu estivesse instigando a tropa a fazer movimento paralisatório.”

BANDEIRAS

Foi por meio de Assumção que Manato conheceu Matias e Izabella. Os dois candidatos do PSL também frequentam a mesma igreja, a Cristã Maranata. Na Câmara, ambos dizem que se aproximaram de Bolsonaro por compartilhar as mesmas ideias e mencionam, por exemplo, o combate ao “kit gay”.

“As bandeiras dele são as mesmas minhas. Nosso trabalho agora é ligar Bolsonaro a Manato, porque ele tem quase 30% e eu tenho 6%”, diz o candidato, que é médico obstetra.  

Entre as propostas para segurança, um dos temas centrais de sua campanha, Manato quer que a tropa indique seu comandante-geral, a volta das tropas especializadas e de elite, extintas após a greve, investir em equipamentos e dar retaguarda jurídica, ou seja, defender os policiais quando atiram. Pretende ainda diminuir o tempo do curso de formação dos policiais e complementar com especializações. Sobre reajustes, diz que irá trabalhar para repor anualmente a inflação para todos os servidores.

Ao governo atual, sobram críticas por parte dos dois candidatos de falta de diálogo. Assumção diz ainda que não houve melhorias efetivas após a greve e reclama das exclusões de policiais.

“O governo acha que se continuar com perseguições, vai colocar a polícia no cabresto. Não quer compreender a fragilidade que o estado ficou. Fevereiro de 2017 não acabou para o Espírito Santo.”

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