Descrição de chapéu Eleições 2018

Aliados escondem Temer em campanhas eleitorais

Ex-ministros tentaram impedir a circulação de imagem em que aparecem juntos de presidente

Débora Sögur Hous Gustavo Fioratti Paulo Passos
São Paulo

Presidente mais impopular da história do Brasil, Michel Temer sumiu das propagandas eleitorais de seus aliados.

Pelo menos 16 ex-ministros do emedebista são candidatos em todo país. Só dois deles citaram o presidente no horário eleitoral na TV, desde o dia 31 de agosto, e em publicações nas redes sociais, desde o início da campanha, no dia 16.

Um, para criticá-lo. Foi o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (PPS), que concorre no Rio de Janeiro a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Outro que citou Temer, o ex-chefe da Fazenda Henrique Meirelles, o fez de forma discreta, enquanto contava sua história na vida pública, durante o horário eleitoral. O emedebista é candidato à Presidência da República.

Já nas redes sociais, Meirelles não publicou nenhuma postagem que fizesse referência ao atual presidente. Lula, por exemplo, foi citado 26 vezes pelo emedebista desde o dia 16 de agosto no Twitter.

Outros ex-integrantes da cúpula do governo ignoram o presidente. É o que faz Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e que também foi líder do governo no Senado até agosto. O senador emedebista tenta a reeleição em Roraima.

Um dos aliados mais fiéis do presidente diz no horário eleitoral que sua proposta para barrar a entrada de venezuelanos no Brasil não foi aceita. “Continuo cobrando providências do presidente”, diz Jucá, sem dizer o nome de Temer. Nas redes sociais, apenas mencionou o companheiro de partido para anunciar que deixou a liderança do governo.

Enquanto aliados trabalham para se descolar da imagem do presidente, rivais tentam justamente lembrar quem esteve ao seu lado durante o governo.

Temer atingiu o índice mais baixo de aprovação em pesquisa do Datafolha, em junho. Seu governo foi considerado ótimo ou bom por 4% dos brasileiros, enquanto 82% da população considera seu governo ruim ou péssimo.

Em Pernambuco, Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) foram à justiça para impedir a circulação de uma imagem em que aparecem ao lado do presidente, com a legenda "A Turma de Temer em Pernambuco". Eles são, respectivamente, ex-ministro das Cidades e ex-ministro da Educação do presidente. Também estão na montagem Fernando Bezerra (PSB) e Armando Monteiro (PTB). 

0
Aliados de Temer, que agora são candidatos por Pernambuco, foram à Justiça para impedir circulação de imagem em que são chamados de "A Turma de Temer" - Reprodução

Em Alagoas, Maurício Quintella Lessa (PR), ex-ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e hoje candidato ao senado, faz menções à sua atuação no Governo Federal, mas sem nominar Temer.

Lessa é testemunha de Temer em sua defesa no inquérito dos portos. A investigação apura se o presidente beneficiou empresas no setor de portos em troca de propina, em decreto editado em 2017.

É um ex-aliado quem mais fez referências ao presidente na propaganda. Jingle do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, candidato a deputado federal, diz, em ritmo de samba, que ele “enfrentou o Geddel das malas/ e também o Vampirão/ foi o primeiro a gritar/ chega de corrupção”.

“Vampirão” é um apelido dado por rivais a Temer. E “Geddel das malas” faz referência a escândalo que envolve Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, preso após operação da Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões a ele atribuídos, em malas em um bunker em Salvador.

Quando diz que “enfrentou” Geddel, Calero faz menção direta a seu pedido de demissão em novembro de 2016. Logo após entregar o cargo, afirmou à Folha, que sua decisão foi tomada porque estava sofrendo pressão de Geddel para que interviesse na aprovação, no Iphan, órgão de preservação subordinado à pasta da Cultura, de projeto imobiliário em uma área tombada em Salvador.

O político foi preso preventivamente em setembro do ano passado, após a apreensão dos R$ 51 milhões. O emedebista foi denunciado por fazer parte, com outros integrantes de seu partido, de organização criminosa que desviava recursos de órgãos públicos e estatais, entre eles a Caixa Econômica Federal, e por ter recebido propina da JBS.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.