Atendimento a Bolsonaro opõe hospitais de ponta de São Paulo

Sírio enviou médicos a MG, mas família chamou especialista do Einstein, para onde o candidato foi levado

Igor Gielow
São Paulo

O atendimento ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), esfaqueado em Juiz de Fora na tarde de quinta (6), opôs os dois principais hospitais do país, ambos em São Paulo. Desta vez, o Sírio-Libanês, conhecido como “hospital dos poderosos”, perdeu a disputa para o rival Albert Einstein.

Bolsonaro foi atendido na Santa Casa da cidade mineira, bem equipada, mas cuja posição periférica fez apoiadores e familiares do presidenciável pedirem avaliações externas do grave quadro de saúde.

Enquanto discutiam o que fazer, o cardiologista Roberto Kalil, maior estrela do Sírio, enviou uma equipe de médicos chefiada por Ludhmila Hajjar, que coordena a Unidade de Terapia Intensiva do hospital paulistano.

Kalil havia sido procurado pelo empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio, um dos filhos de Bolsonaro, na chapa que disputa o Senado pelo PSL no Rio. Ele disse que a mulher do candidato, Michelle, queria uma UTI móvel à disposição da família. O presidente interino do partido, Gustavo Bebianno, também procurou Kalil.

O jatinho fretado pelo Sírio pousou por volta das 22h em Juiz de Fora. Os filhos de Bolsonaro agradeceram a oferta, mas já tinham outros planos. Kalil é apelidado de o “médico dos presidentes”, tendo atendido uma miríade de políticos, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff a José Serra e Michel Temer.

A família discutiu a conveniência de colocar Bolsonaro, que tem como ponto de venda sua distância da política institucional, na lista.

Além disso, pesou a proximidade do deputado com parte da comunidade judaica, que é a gestora do Einstein, assim como os árabes do Levante estão associados ao Sírio. Aconselhados pelo empresário Fábio Wajngarten, apoiador de primeira hora de Bolsonaro e expoente da comunidade, os Bolsonaro optaram pelo hospital do Morumbi (zona sul de São Paulo).

Assim, quando os médicos do Sírio já examinavam Bolsonaro no pós-operatório, desembarcou em Minas um dos papas da gastroenterologia brasileira, Antônio Macedo, que trabalha no Einstein. O médico havia sido chamado por Eduardo Bolsonaro, o filho deputado federal do candidato. Ele chegou por volta da meia-noite ao hospital e foi direto ver o presidenciável, que estava acompanhado por políticos aliados e parentes.

Bolsonaro já havia sido avaliado pela equipe do Sírio, que desaconselhou a ida a um hospital militar, como o candidato havia aventado.

Segundo informações, Macedo se desentendeu sobre um procedimento e chegou a ter uma conversa ríspida com Ludhmila, que deixou a Santa Casa e voltou a São Paulo com outros dois médicos do Sírio, Filomena Galas e Juliano de Almeida. Ludhmila nega o desentendimento, que foi relatado à Folha por um aliado de Bolsonaro que testemunhou a discussão. Os demais médicos não comentaram.

Por volta de 1h30 desta sexta (7), Macedo comunicou à família que uma avaliação a ser feita pela manhã definiria a possibilidade de remoção do deputado. Enquanto isso, Wajngarten e o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Nabhan Garcia, viabilizavam por meio de conhecidos uma UTI aérea e a locomoção para o Einstein.

Os dois viajaram num jatinho fretado com o candidato a senador pelo PSL-SP, Major Olímpio, às 6h30 para Juiz de Fora. A UTI aérea, cujo aluguel para uma viagem semelhante custa algo entre R$ 40 mil e R$ 50 mil, foi fornecida pela empresa Líder Táxi Aéreo.

Até agora ninguém tocou no assunto pagamento. No caso dos hospitais, há casos em que não há cobrança integral, até pelo ganho de imagem da instituição. O Einstein afirma que “nunca usou a presença de pacientes para promover a exposição da imagem da instituição e sempre primou pela discrição e respeito à privacidade”.

O hospital disse também que todas as contas são pagas pelo paciente, responsáveis ou planos de saúde. Bolsonaro tem direito ao plano da Câmara dos Deputados, conhecido por ser bastante abrangente. Em tese, o plano de saúde da Câmara cobre deslocamento e internação, mas no sistema de reembolso. Ou seja, Bolsonaro teria de pagar, e a Mesa Diretora decide sobre o reembolso, o que geralmente é aceito. (Colaborou Claudia Collucci)

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