A mesma Marina Silva (Rede) que, nesta eleição, partiu para o ataque contra Jair Bolsonaro (PSL) e disse que Lula (PT) é corrupto evitava embates diretos, oito anos antes, até no papel.
Embora continue pregando conciliação, Marina adotou um tom mais ofensivo em relação aos outros candidatos, com críticas a atitudes e ao histórico político.
Em 2010, o programa da presidenciável apresentado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) prometia fazer uma campanha com “debates de propostas” e sem “qualquer tipo de ataque pessoal”.
“Pautar o período de campanha pelo debate de ideias e propostas sobre o Brasil evitando factoides, embates vazios e consensos ocos”, informava um dos tópicos.
Outro pontuava que “nenhum ataque ou ofensa pessoal será dirigida a qualquer candidato”.
A aversão de Marina a críticas diretas e assuntos espinhosos era levantada nos debates por Plínio de Arruda Sampaio (PSOL, 1930-2014), que chamava o perfil escorregadio da adversária de demagogia.
Em debate na TV Record, ao responder a provocação de que fugia de assuntos polêmicos, ela disse a Plínio: “Na democracia é assim, você tem até o direito de me rotular, mas eu reivindico o direito de continuar debatendo com respeito.”
Ele rebateu. “Marina, você rotula [os outros candidatos] transversalmente —aliás você gosta muito de dizer isso”, disse Plínio, ironizando um jargão da candidata.
“Você acabou de me rotular: ‘o Plínio gosta de pôr os outros para baixo’”, acrescentou.
Quatro anos depois, ao virar tardiamente candidata após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina virou um dos principais alvos de críticas da candidata à reeleição Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, de quem foi ministra do Meio Ambiente.
Em palanque, Lula chegou a dizer que, indiretamente, que a candidata queria “acabar com o pré-sal”. “Se for necessário, Dilma, me fale que vou mergulhar e buscar lá no fundo [do mar] o petróleo”, disse.
À Folha, a candidata chegou se emocionar e chorar ao falar dos ataques que recebeu do petista.
Marina, que chegou a ficar empatada em primeiro lugar com Dilma nas pesquisas, acabou fora do segundo turno e apoiou o opositor, Aécio Neves (PSDB).
Em 2018, Marina já começou a disputa com um perfil mais crítico, apesar de continuar prometendo que não pretende “destruir a biografia de ninguém” e “oferecer a outra face a ataques”.
Tem dito que não é fraca e tentando reforçar uma imagem de firmeza. Antes do início oficial das eleições, afirmou que Geraldo Alckmin (PSDB) é “uma espécie de Dilma de calças” por causa da aliança do tucano com o centrão.
Também tem criticado Bolsonaro por ser armamentista e, no debate da RedeTV!, disse que ele “acha que pode resolver tudo no grito, na violência” e que ensinou uma criança a atirar.
Em sabatina do jornal O Globo, disse ainda que considera Lula corrupto e afirmou que o ex-presidente “está sendo punido por graves crimes”.
Procurada, a campanha de Marina não se manifestou.
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