Descrição de chapéu Eleições 2018

Esvaziada, parada de Sete de Setembro é ofuscada por ataque a Bolsonaro

Jungmann diz que candidato foi alertado e se expôs a riscos em ato de campanha

Presidente Michel Temer, a primeira-dama Marcela Temer e o filho Michel Temer Jr. durante desfile cívico na Esplanada dos Ministérios
Presidente Michel Temer, a esposa Marcela Temer e o filho Michel Temer Jr. durante desfile cívico na Esplanada dos Ministérios - Evaristo Sa - 07.set.2018/AFP
Brasília e São Paulo

Esvaziada politicamente, a parada do Sete de Setembro foi ofuscada nesta sexta-feira pelo atentado sofrido pelo candidato do PSL à sucessão presidencial, Jair Bolsonaro.

Com a segurança reforçada e um isolamento mais rigoroso que em anos anteriores, Michel Temer acompanhou o desfile na Esplanada dos Ministérios sem a presença dos chefes do Judiciário e do Legislativo.

No ano passado, tanto o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), como da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), participaram da cerimônia. Com rejeição recorde, candidatos à reeleição têm evitado posar ao lado de Temer.

Em meio a cenário de crise fiscal, o presidente desembolsou R$ 816 mil dos cofres públicos para a preparação da cerimônia. Os valores são superiores ao que foi repassado no ano passado ao Museu Nacional, que pegou fogo no último final de semana.

 

No total, a instituição cultural recebeu R$ 643 mil, montante corrigido pela inflação do período. De janeiro a agosto deste ano, foram desembolsados R$ 98 mil para o museu. 

Na plateia, alguns convidados traziam camiseta com a imagem de Bolsonaro e militares que participaram da organização lamentavam, em conversas reservadas, o ataque sofrido pelo candidato.

"O que aconteceu ontem é o desespero, porque estão vendo que ele está crescendo cada vez mais", disse o estudante Pedro Carrara, 18, que usava camisa verde e amarela com o rosto, o nome e o número do candidato.

Único militar a dar entrevista à imprensa, o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, afirmou que o país acordou nesta sexta-feira em um "dia triste".

Ele disse torcer para que os "ânimos se acalmem", que as lideranças do país procurem encontrar a "palavra da pacificação" e alertou para o risco da radicalização destruir a democracia. 

"Não é possível que nós tenhamos evoluído tanto para admitir que, em uma disputa democrática, em uma campanha eleitoral tão importante, nós reduzamos a facadas, tiros, ofensas e agressões essa festa. É um desrespeito ao país", disse. 

Na sequência, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a Polícia Federal alertou a campanha do candidato sobre o risco envolvido na participação de atos políticos que envolvessem multidões.

Segundo ele, a situação que culminou no ataque ao candidato estava fora de controle, mesmo com a presença de 13 policiais federais e 50 policiais militares. "Já se tinha conversado com a campanha e com a família que ficava muito difícil fazer a segurança quando ele se jogava na multidão", disse.

Jungmann ressaltou que não dá para culpar a equipe de segurança quando as orientações não são respeitadas. "Se os candidatos não seguem as orientações da Polícia Federal, obviamente fica praticamente impossível fazer a segurança", disse.

MOTIVAÇÕES

Perguntado, o ministro afirmou que ainda não é possível descartar motivação política no ataque ao candidato. Ele lembrou que o episódio é muito recente e que a Polícia Federal trabalha com a hipótese de que Adelio Bispo de Oliveira, 40, tenha atuado sozinho. 

“O que se trabalha basicamente é um ato isolado daquilo que se pode chamar de lobo solitário”, disse.

Ele ressaltou, no entanto, que existe no âmbito da Polícia Civil uma investigação sobre mais dois suspeitos. “Há outros que estariam envolvidos, mas, que até agora, não têm uma comprovação fática, embora continuem sob suspeita”, disse.

Jungmann não revelou os nomes, mas disse que um já foi interrogado e, posteriormente, liberado e que outro foi ferido durante a agenda de campanha e está hospitalizado.

CANDIDATOS

O ministro informou que convocou os coordenadores das campanhas presidenciais para rediscutirem, em Brasília neste sábado (8), o esquema de segurança até a eleição. O efetivo, segundo ele, será aumentado, em média, 60%.

Segundo ele, cerca de 80 agentes fazem hoje a segurança de cinco candidatos: Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Bolsonaro tinha o maior efetivo: 21 agentes, dos quais 13 o acompanhavam no momento do ataque. O reforço será definido após análise da situação de risco de cada candidato.

SÃO PAULO

O sambódromo do Anhembi, com capacidade para mais de 30 mil pessoas, esteve quase completamente lotado de espectadores interessados na parada. No entanto, na capital paulista não havia número expressivo de pessoas que estivessem manifestando apoio a Bolsonaro, apenas alguns apoiadores com camisetas com o rosto do presidenciável estampado.

A PM Katia Sastre, conhecida por matar um assaltante na porta da escola da filha, e o Coronel Telhada estavam entre os candidatos que tiveram santinhos distribuídos e bandeiras sacolejadas nas redondezas da parada militar.

Entre quem desfilava os ânimos políticos ficaram em segundo plano. 

Crianças vestidas com fardas do Exército e da Polícia Militar se preparavam para entrar em marcha. “Chorei a noite toda. E se fosse o Lula eu ficava triste também. Pra que isso tudo?”, diz um aspirante a PM de 11 anos, chateado com o atentado contra Bolsonaro.

Da Ordem Demoley, grupo com rapazes entre 12 e 21 anos patrocinado pela maçonaria, Kannan Cesar da Costa, 19, afirma “repudiar qualquer ato de violência”. 

“A gente quer a união dos povos, paz, isso sim”, diz João Paulo Brilhante, 32, que marchou sob a flâmula da Cultura Racional —religião baseada no livro “Universo em Desencanto”, com Tim Maia entre seus discípulos mais famosos. Perto dali, uma placa onde se lia “paz mundial”, da instituição religiosa Perfect Liberty, que percorreria o sambódromo do Anhembi a bordo de um carro

Entre os políticos presentes, o ocorrido com Bolsonaro sobressaiu-se ao desfile.

O governador de São Paulo Márcio França (PSB) disse que os eleitores brasileiros não recebem bem episódios de violência, o que pode afastá-los de Bolsonaro.

O comentário de França foi feito em resposta ao que disse seu adversário eleitoral pelo governo do estado, João Doria (PSDB), segundo o qual o ataque teria garantido a presença do capitão no segundo turno dos presidenciáveis.

"O Doria está revelando sua vontade, que era a de ser candidato a Presidência. Como ele não conseguiu ele fez do governo do estado um prêmio de consolação. A declaração dele foi no calor da sensação de ontem, acho tudo ainda muito prematuro", disse.

"Claro que um episódio como o de ontem, além de se lamentar, chama muito a atenção por ser grave e ir contra todas as tradições do Brasil. Mas a associação à violência nao é uma que as pessoas achem importante de fazer para o Brasil. Quando você está em um momento de calor, você se exalta, mas depois você percebe que a violência não faz bem para ninguém. É sempre um instrumento a ser desestimulado", continuou França.

"Ainda vamos ver os resultados, mas o atentado chama todo mundo a uma reflexão de bom senso. Os extremos nunca fizeram parte da realidade brasileira. O Brasil sempre foi um país de conciliação", disse o governador.

O governo de Sao Paulo emprestou um helicóptero para o transporte de Bolsonaro, que foi internado no hospital Albert Einstein, localizado ao lado do Palácio dos Bandeirantes.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) também divergiu de Doria, seu companheiro de partido, e preferiu ser mais cauteloso. Ele disse ser ainda muito cedo para dizer se a facada terá influência positiva ou negativa sobre os eleitores em relação a Bolsonaro.

"Acho que ainda é muito cedo. Não sei o quanto a população vai decidir se vota ou não  [em Bolsonaro] por causa do atentado", disse Covas após o desfile militar de 7 de setembro, no Anhembi.

Sobre a possibilidade de mudar o enfoque atual da campanha, centrado em incisivos ataques a Bolsonaro, o prefeito indicou que não prevê mudanças radicais.

"O eleitor não é de ninguém ainda. Ele só vai decidir em quem votar em 7 de outubro. Estamos atrás de todos os eleitores, mostrando aquilo que Alckmin e o PSDB fizeram por São Paulo e pelo Brasil, o que vamos fazer se ele for eleito e as inconsistências que apontamos nas outras candidaturas. É assim que vamos fazer campanha." 

Gustavo Uribe, Daniel Carvalho , Bernardo Caram , Letícia Casado , Anna Virginia Balloussier e Guilherme Seto
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