Descrição de chapéu Eleições 2018

Ex-aliados do PT, membros do clã Barbalho flertam com bolsonaristas no Pará

Para retomar poder, família de Jader e Helder se aproxima de grupo ligado ao capitão

Fabiano Maisonnave
Belém

Em 2014, Helder Barbalho (MDB) se coligou ao PT e perdeu a disputa ao governo do Pará. No impeachment, em 2016, trocou o gabinete da petista Dilma Rousseff pelo do correligionário Michel Temer. Agora, o clã liderado pelo pai, o senador Jader, aposta em aliança com bolsonaristas para voltar ao poder estadual após 25 anos.

Líderes nas pesquisas, Helder, 39, e Jader, 73, apareceram, em evento de campanha na quarta-feira (29), ao lado de parlamentares que apoiam Jair Bolsonaro, cujo partido, o PSL, está na coligação dos emedebistas.

Além da candidatura do ex-ministro da Integração Nacional, seu pai, o ex-governador Jader, e sua mãe, Elcione, tentam a reeleição para o Senado e a Câmara dos Deputados, respectivamente. 
Tentam renovar o mandato para a Câmara Federal também a ex-mulher de Jader Simone Morgado e o seu primo José Benito Priante Júnior. Todos são do MDB.

Diante de uma plateia formada por dezenas de trabalhadores da segurança pública, Helder ouviu o deputado federal Éder Mauro (PSL) defender os PMs que protagonizaram os massacres de Eldorado do Carajás (1996, 19 sem-terra mortos) e Pau d’Arco (2017, 10 sem-terra mortos), ambos no sul do Pará.

“Os policiais foram à fazenda cumprir mandado de busca e de prisão de bandidos que estavam lá instalados. Os bandidos trocam tiros com policiais, e os policiais vão presos”, disse Mauro sobre Pau d’Arco, em evento num centro de convenções de Belém. 

Sobre Eldorado do Carajás, o ex-delegado disse: “Tenho certeza de que, se fosse na época do Jader [1983-7 e 1991-4], não estaria hoje um coronel cumprindo mais de 200 anos de cadeia por covardia do governo do estado, que  abandona o policial na hora que ele precisa.” 

A investigação sobre Pau d’Arco concluiu que os sem-terra não reagiram à chegada da polícia e que alguns foram mortos à queima-roupa, já dominados. Nenhum agente de segurança saiu ferido; 15 policiais respondem pelo crime.

O coronel Mário Pantoja foi condenado a 228 anos por comandar o massacre de 19 sem-terra ligados ao MST, chamado de “organização terrorista” por Bolsonaro. Desses, dez foram assassinados à queima-roupa. 

O candidato a deputado estadual Sargento Silvano (PSD) também discursou ao lado dos Barbalho. Musculoso, tatuado, com cabelo raspado e camisa preta estampada com “Bolsonaro”, o PM e vereador de Belém disse que “bandido tem de ser tratado é na bala”.

Ao discursar, Helder leu o nome de 19 policiais que se candidataram a deputado federal e estadual pela sua coligação, quase todos PMs.

Helder faz caminhada no mercado Ver o Peso, em Belém
Helder faz caminhada no mercado Ver o Peso, em Belém - Raimundo Paccó/FramePhoto/Folhapress

O emedebista, no entanto, adotou um discurso mais comedido ao falar de segurança pública. Prometeu escolas de tempo integral nos bairros mais violentos, reforçar as guardas municipais, criar um seguro de vida aos policiais, além de pedir o reforço da Força Nacional. 

“Não devemos e não podemos abrir mão de todos os esforços necessários para trazer paz à sociedade”, disse.

Em rápida entrevista após o evento, Helder afirmou à Folha apenas que os massacres feitos por PMs “estão na esfera da Justiça, e a Justiça deve, de maneira imparcial, fazer a avaliação e a investigação”.
Questionado sobre a aliança com o PSL no Pará, seu pai, Jader, disse que a “realidade estadual nem sempre coincide com a realidade nacional”.

O senador não descartou apoio a Bolsonaro no segundo turno ao afirmar que é uma discussão prematura. “Seria intempestivo falar em segundo turno. Espero que o candidato do meu partido, Henrique Meirelles, esteja lá.”

O Pará vive uma crise na segurança pública, com uma onda de assassinatos de agentes policiais e de chacinas, sobretudo na região metropolitana de Belém. Trata-se do oitavo estado mais violento do país.

Apesar das críticas de Bolsonaro a escândalos de corrupção e à política tradicional, o PSL se aliou no Pará a uma das dinastias mais emblemáticas do país, com longo histórico de denúncias, inclusive na Lava Jato.

Apesar dessas acusações, Helder e Jader lideram com folga a disputa, segundo pesquisa do Ibope. O filho aparece com 43% das intenções de voto. Para uma das vagas ao Senado, Jader Barbalho aparece com 29%.

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