Descrição de chapéu Eleições 2018

Funcionários de Sesi e Senai bancam 54% de vaquinha de Skaf ao governo

Integrantes do Sistema S e Fiesp representam 84% dos doadores online de candidato do MDB

Gabriela Sá Pessoa José Marques
São Paulo

Funcionários do Sesi e do Senai de São Paulo têm bancado parte da campanha do presidente licenciado da Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de SP) Paulo Skaf, que concorre ao governo pela terceira vez pelo MDB.

Skaf chefiava até junho as entidades do chamado Sistema S, mantidas por contribuições compulsórias da folha de pagamento da indústria, quando se licenciou para disputar as eleições. 

Mesmo de fora, lançou uma campanha de vaquinha virtual para angariar recursos, que até o último dia 14 de agosto tinha rendido R$ 161,2 mil, pagos por quase 1.300 pessoas. Hoje, contabilizando doações até 31 de agosto, a arrecadação no financiamento coletivo está em R$ 169 mil. 

Descontando custos de manutenção da vaquinha, a campanha declarou ao TSE R$ 155,3 mil provenientes do financiamento coletivo. 

Até a semana passada, antes de entrarem novas doações e dinheiro do diretório nacional do partido, a vaquinha representava mais de 90% do valor da campanha emedebista.

Levantamento da Folha aponta que ao menos R$ 87,2 mil foram pagos por funcionários do Sesi e do Senai, principalmente integrantes do corpo técnico, além de empresários que compõem a diretoria da Fiesp e do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

São aproximadamente 1.100 contribuintes relacionados às instituições. Para chegar a esse resultado, a reportagem extraiu as informações de doadores do site da vaquinha em 14 de agosto. 

Depois, comparou esses nomes com listas de funcionários, coordenadores e diretores disponíveis nas páginas de Fiesp, Ciesp, Sesi e Senai. É possível que existam residualmente alguns homônimos de pessoas ligadas às entidades nesse cruzamento. 

O dinheiro desses 1.080 doadores (84% do total) representa 54% da quantia arrecadada com a vaquinha da campanha de Skaf.

Segundo dois funcionários do Sesi e do Senai ouvidos de forma anônima, as colaborações foram pedidas em grupos de WhatsApp de pessoas das próprias instituições, inclusive pelo número usado pelo próprio Skaf. 

Todas as pessoas ouvidas pela Folha afirmaram que a contribuição foi voluntária.

A assessoria de imprensa do candidato diz que ele, “como qualquer pessoa”, participa de grupos de WhatsApp e que diversas mensagens são enviadas em nome do candidato. 

No Sistema S, funcionários não têm estabilidade —ou seja, são demissíveis a qualquer momento.
Advogados consultados pela reportagem dizem que, em tese, pedidos de doações eleitorais em grupos de WhatsApp por superiores hierárquicos podem gerar ações por dano moral.

“É notório que esses trabalhadores vão se sentir constrangidos e coagidos a fazer a doação”, diz o presidente da comissão de direito do trabalho da OAB-GO, Wellington De Bessa. Outro advogado, Rafael Lara, contemporiza. 

“Depende do teor das mensagens. Entendo que se não houver ameaça, não há problema”, declarou.
A maioria dos doadores desembolsou pequenas quantias. Metade doou apenas R$ 10.

Entre os apoiadores há, por exemplo, professores, salva-vidas, bibliotecários, fotógrafos, assistentes administrativos, assistentes sociais e integrantes do jurídico.

Mas também há diretores e aliados de Skaf na instituição, que pagaram quantias maiores. 

Tirso de Salles Meirelles, que substituiu Skaf na presidência do Sebrae, ajudou a campanha com R$ 1.064. Antigo opositor do emedebista na disputa à presidência da Fiesp, o presidente da Abrinq, Synésio Batista, colaborou com a mesma quantia.

Ricardo Oliveira Selmi, diretor da Fiesp, colaborou com a campanha diretamente, doando R$ 10 mil fora da vaquinha, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

Essa mesma quantia saiu do bolso do empresário Ralph Gustavo Rosenberg Whitaker Carneiro, sócio de empresas transmissoras de energia elétrica do grupo Alupar.

Márcio Lutfalla, sócio de empresas como a granja Ad’Oro, chegou perto do valor arrecadado com a vaquinha: doou, sozinho, R$ 150 mil para Skaf.  

O candidato do MDB também recebeu um cheque de R$ 8 milhões do diretório nacional de seu partido, parte do fundo especial de financiamento de campanha.

Skaf tem feito uma campanha sem grandes eventos. Ocasionalmente, vai a escolas do Sesi e Senai, sua principal vitrine de campanha.

Pesam contra ele suspeitas de usar os recursos das entidades para fazer divulgação pessoal. Atualmente, o emedebista é investigado pela Procuradoria Regional Eleitoral a respeito das peças publicitárias..

Quem conhece confia em Skaf, afirma campanha

A campanha de Skaf diz ter gratidão pelos colaboradores e afirma que a doação de funcionários do Sesi, do Senai e da Fiesp, por meio da vaquinha eleitoral, é "uma das mais importantes e emocionantes manifestações de apoio que Paulo Skaf poderia receber". 

"Essas doações partem de quem conhece de perto seu caráter e seu trabalho. Elas representam, portanto, um atestado de confiança. Quem conhece confia em Skaf", afirma a assessoria de imprensa do emedebista.

"Há uma ampla mobilização em redes sociais e grupos de WhatsApp solicitando apoio. É assim que funciona a nossa campanha de crowdfunding. E ela tem obtido apoio maciço, como demonstram os números. Trata-se da que mais arrecadou no estado de São Paulo e uma das maiores do Brasil", diz nota da campanha do emedebista.

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