Morte de garimpeiro aponta tensão na área ianomâmi

Atritos entre indígenas e garimpeiros têm crescido na região nos últimos meses

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Boa Vista

Um garimpeiro foi morto por índios na última quinta-feira, 6/9, em uma comunidade da Terra Indígena Ianomâmi chamada Korikorema, às margens do rio Uraricoera, em Roraima. O corpo de Valdir Eudes Omena, 46, chegou ao Instituto Médico Legal de Boa Vista na tarde do sábado (8), segundo informou a imprensa local.

Os atritos entre indígenas e os garimpeiros têm crescido na região nos últimos meses, à medida em que aumentou a atividade ilegal. O número de não índios na área teria chegado a 5.000. Em julho, quando a reportagem da Folha esteve na região, garimpeiros armados vigiavam ostensivamente a chegada de aviões à pista de pouso oficial de Waikás (no rio Uraricoera). Nos dias seguintes, moradores dessa aldeia, de etnia Ye’kwana, sofreram ameaças. Em outro local, um confronto teria provocado a morte de um indígena do grupo ianomâmi isolado, na região da Serra da Estrutura.

No início de agosto, o Exército iniciou uma operação de combate ao garimpo na região, tendo implantado duas bases fixas de vigilância em locais estratégicos às margens dos rios Uraricoera e Mucajaí, principais rotas de entrada e saída da mineração ilegal na terra indígena. Desde então, cerca de 350 pessoas foram identificadas quando desciam o rio.

O fluxo aumentou nos últimos dias, com a primeira fase da operação completando um mês. Segundo o general Gustavo Henrique Dutra, comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, “os garimpeiros que haviam se escondido na mata, apostando no fim da operação, estão ficando sem suprimentos e como as bases são definitivas, eles desistem de esperar”, disse.

Índios de comunidades às margens do Uraricoera, que pediram para não ser identificados, disseram que a operação do Exército conseguiu eliminar o fluxo de barcos no rio, mas que a atividade garimpeira segue em diversos locais, com abastecimento por aviões.

Nos próximos dias deve ter início uma segunda etapa da operação, com a ação de agentes da Polícia Federal em pistas de pouso clandestinas.

Segundo indígenas locais, os moradores da aldeia de Korikorema estavam tensos desde o último domingo (2), quando o filho de seu líder desapareceu em Boa Vista, a capital do estado. O pai, Resende Sanoma, diretor da entidade Hutukara, sofre ameaças, como outros dirigentes da entidade, por pedir a intervenção do Estado contra o garimpo.

A comunidade é nova: foi formada há um ano por ianomâmis oriundos de área montanhosa próxima à fronteira com a Venezuela. Eles buscam a beira do Uraricoera, mais rica em caça e terras férteis, também para aumentar a presença dos índios no rio usado por garimpeiros para invadir a terra indígena.

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