Descrição de chapéu Eleições 2018

Na internet, fãs de Bolsonaro esquecem economia e defendem conservadorismo

Pesquisa da USP monitorou páginas que apoiam o candidato à Presidência líder nas pesquisas

Débora Sögur Hous
São Paulo

Doze vezes mais influentes que a página oficial de Jair Bolsonaro no Facebook —que tem 6,4 milhões de curtidas—, páginas mais populares de apoiadores do candidato geraram 38 milhões de compartilhamentos desde o início da campanha eleitoral, em 16 de agosto.

Página de apoiadores de Bolsonaro com publicação antissistema
Página de apoiadores de Bolsonaro com publicação antissistema - Reprodução - 27.set.2018/Folhapress

O conteúdo das páginas pró-Bolsonaro foi analisado por um estudo da USP. A pesquisa classificou a campanha feita pelos fãs do capitão reformado como antissistêmica, conservadora e, em dissonância com propostas econômicas do candidato, pouco liberal.

O monitoramento levantou um total de 41 mil postagens que geraram 38 milhões de compartilhamentos na rede social. Entre elas, 150 publicações, feitas por 40 páginas, concentraram 8 milhões de compartilhamentos —o que significa que elas viralizaram.

A pesquisa foi realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, projeto do Grupo de Políticas Públicas para Acesso à Informação, que pertence à universidade paulista e cuja finalidade é prover análises e tendências a partir de dados colhidos nas redes sociais. 

Também registrou-se a ausência de expressões que espelhassem valores nacionalistas no conjunto de postagens observados entre 16 de agosto e 25 de setembro —a pesquisa está delimitada neste período. Segundo ela, o que tem apelo entre militantes pró-Bolsonaro não são os conteúdos que discursam a favor da indústria ou da cultura nacional.

Já o traço antissistêmico observado diz respeito a um tipo específico de publicação, que se opõe, por exemplo, à imprensa ou ao sistema partidário. Os pesquisadores esperavam que as páginas produzissem conteúdo tematizando segurança e corrupção. Porém, os temas que mais têm apelo entre os apoiadores de Bolsonaro, e o público que o compartilha, são conteúdos antipetistas, antifeministas e antimídia, especialmente contra a TV Globo.

A pesquisa revela que são os temas morais que mais repercutem entre os grupos analisados. Os militantes pró-Bolsonaro “não estão preocupados com segurança e corrupção, mas, sim, preocupados em rejeitar as instituições, como a política e a imprensa”, diz um dos autores do estudo, o filósofo Pablo Ortellado, colunista da Folha. “Bolsonaro não ganhou um terço do eleitorado discutindo propostas, mas discutindo moral”, conclui.

Há conflito também entre o que dizem as postagens e o pensamento econômico que Bolsonaro defende em sua própria campanha. Ele se aliou ao banqueiro Paulo Guedes, defensor do liberalismo econômico e nome forte para o ministério da Fazenda caso Bolsonaro vença. Pela pesquisa, as páginas de apoio ao candidato no Facebook têm se mostrado pouco interessadas no assunto.

“Chama a atenção que os temas morais, como o papel das mulheres, o porte de armas, a punição a criminosos, a sexualização na infância e outras questões dessa natureza dominam a campanha; com exceção de menções pontuais à redução de impostos e da burocracia, praticamente não aparecem temas de política econômica ou de políticas sociais”.

Com oito segundos no horário eleitoral gratuito para a TV, Bolsonaro fez da internet sua principal plataforma de publicidade. Entre os candidatos, ele é o que tem mais seguidores no Facebook. Marina Silva (REDE) tem 2,3 milhões, Fernando Haddad (PT) tem 623 mil, Geraldo Alckmin, 1 milhão.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro também domina as buscas relacionadas à eleição presidencial no Google. Entre 16 e 22 de setembro, ele esteve em 64% das buscas do site.

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