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Não interferi em licitação, afirma secretário

Marcos Penido enviou email para comissão de licitação com roteiro da conclusão do certame

Mario Cesar Carvalho Joana Cunha
São Paulo

Responsável pela PPP (Parceria Público-Privada) da iluminação pública na Prefeitura de São Paulo, um negócio de R$ 7 bilhões que se tornou uma guerra judicial, o secretário de Prefeituras Regionais, Marcos Penido, afirma que não deu ordens para excluir um concorrente da disputa.

Em email revelado nesta sexta (31) pela Folha, o secretário diz para a presidente da comissão de licitação que um dos consórcios competidores, chamado Walks, tem de ser excluído no dia da abertura das propostas. Não foi uma ordem, disse Penido à Folha, sobre a mensagem de 7 de fevereiro deste ano. “Cabe ao gestor discutir, debater, opinar e sugerir. O que foi feito foi uma sugestão”.

O secretário diz que a exclusão do Walks foi feita pela comissão em 8 de julho de 2017, mais de seis meses antes da mensagem. A comissão havia tirado o consórcio da disputa alegando que uma empresa ligada a um dos integrantes do grupo, a Alumini, havia sido declarada inidônea pelo governo federal. O consórcio contesta a exclusão na Justiça.

A própria Corregedoria Geral do Município diz que a exclusão era temerária e poderia gerar perdas milionárias à prefeitura antes de uma decisão final da Justiça. Segundo Penido, a decisão não foi temerária porque segue a lei.

retrato do secretário marcos penido
Marcos Penido, secretário de Prefeituras Regionais de São Paulo - Bruno Amaral /Fotoarena/Folhapress

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A lei determina que uma comissão de licitação é autônoma e não pode sofrer influências externas. O sr. não violou isso ao enviar email com instruções sobre como a comissão deveria atuar?

Cabe ao gestor discutir, debater, opinar e sugerir. O resultado de uma comissão vai passar pelo crivo, a homologação e a ratificação ou comentário do gestor. O que fiz foi uma sugestão, única e exclusivamente.

A Corregedoria diz que a administração de João Doria teve atuação temerária ao não esperar uma decisão final da Justiça para desclassificar um dos consórcios, o Walks. Por que tanta pressa?

Não houve pressa. Quando foi liberado o processo do Tribunal de Contas do Município, a primeira sessão da comissão de licitação em abril de 2017 fez o julgamento e excluiu o consórcio Walks. Isso foi publicado em julho de 2017. A comissão excluiu o consórcio Walks, com a base de que uma das empresas do consórcio era inidônea, não podendo contratar com governos. A comissão excluiu e deu todo o embasamento para isso. Ela já estava excluída desde julho de 2017. 

O consórcio Walks diz que a empresa declarada inidônea, a Alumini, não era do grupo. Quem faz parte do consórcio é a Quaatro, dona da Alumini.  

A comissão, de maneira autônoma e soberana, coloca toda a vinculação entre uma empresa e outra. Os sócios e a participação são os mesmos. Esse assunto é pacificado: Alumini e Quaatro representam a mesma instituição.

O sr. foi transferido da Secretaria de Serviços para a Secretaria das Prefeituras Regionais e levou para esse órgão a PPP da Iluminação. Isso não fere o princípio da impessoalidade?

Não fere porque não fui eu que trouxe [a PPP]. Foi determinação do governo. Quando Bruno Covas me nomeou para secretário das Prefeituras Regionais, no próprio ato ele informa que toda a composição da Secretaria de Serviços vem para essa secretaria. A Ilume [departamento de iluminação] já teve outras colocações na prefeitura. É um ato normal. É bom colocar que o Serviço Funerário também estava na Secretaria de Serviços e Obras e veio para Prefeituras Regionais, no espírito de juntarmos zeladoria com serviços.

A prefeitura diz que Denise Abreu [ex-diretora do departamento de iluminação da prefeitura demitida após suspeita de fraude] jamais interferiu na licitação, mas há emails mostrando que ela opinava e preferia um dos concorrentes. A gestão de Doria não tinha ciência disso, já que muitas dessas mensagens foram encaminhadas ao sr.?

Não houve interferência da Denise Abreu na licitação. O que houve foi uma troca de correspondências, e a decisão final sempre coube à comissão, como no email que tratou da renovação da garantia, momento chave nessa licitação, quando o consórcio Walks pediu 48 horas para apresentar o documento. Houve uma opinião da diretora de Ilume dizendo que não deveriam ser dadas as 48 horas. Se a comissão não desse, o Walks estaria alijado do processo. A comissão contrariou [a opinião de Abreu]. E ali foi dado: conceda isso, até porque o processo estava parado dentro do tribunal de contas. O fato de a então diretora dizer A ou B não influenciou a decisão final.

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