Descrição de chapéu Eleições 2018

Padre anti-PT cita facada em Bolsonaro ao falar em 'perseguição moral'

Paulo Ricardo ganhou projeção ao atacar Dilma Rousseff na eleição de 2014

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

"Como você cala a boca das pessoas? Ou você dá uma facada..." 

Padre Paulo Ricardo mal termina a frase, uma clara alusão ao atentado contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), e o público que acompanha sua palestra começa a aplaudir e bradar: "Mito! Mito!" 

As palmas diminuem, e ele termina a sentença: "... ou você realiza aquilo que Bento 16 chama de martírio dos tempos modernos, que é caluniar, desacreditar e inventar mentiras sobre essas pessoas".

Jair Bolsonaro em hospital de Juiz de Fora (MG)
Jair Bolsonaro em hospital de Juiz de Fora (MG) - Arquivo Pessoal

Um trecho da palestra foi parar na internet e empolgou simpatizantes de Bolsonaro. "Padre Paulo é um profeta e tem todo nosso respeito e admiração", tuitou um candidato a deputado estadual pelo PSL-SP. 

Com 158 mil seguidores no Twitter, o clérigo é querido por movimentos de direita. Ganhou projeção em 2014, com bofetadas contínuas no PT de Dilma Rousseff, que tentava a reeleição.

Batizado por blogs de esquerda como "Malafaia da Igreja Católica", ele assinou textos como "o governo Dilma prepara-se para implantar aborto no Brasil" e protagonizou vídeos contrários ao petismo. 

"Vieram legalizar o aborto e o casamento gay", disse o padre em 2014, criticando aqueles que "fazem um escarcéu dizendo que padres celibatários são pedófilos" e, paralelamente, defendendo uma lei que garante o direito a visita íntima a menores infratores detidos —Dilma a promulgou em 2012, para adolescentes que comprovem ser casados ou envolvidos em relacionamento estável.

Antes de mencionar o ataque a Bolsonaro, o clérigo falava do mal da mentira, que precisa "ser unânime" ou "perde o efeito". Sem citar o nome do presidenciável, diz que é necessário "calar a boca" daqueles que, "como João Batista no deserto", ousam falar a verdade. Daí afirma que há "duas maneiras" de silenciar alguém, a facada ou a calúnia evocada pelo papa emérito Bento 16.   

Após o vídeo viralizar, Paulo Ricardo divulgou nas redes sociais uma "nota de esclarecimento".

 Ao "falar da perseguição moral e física que os jesuítas sofreram no século 18, por defenderem a verdade", diz, "usei como recurso retórico uma alusão ao atentado sofrido pelo deputado Jair Bolsonaro".

Sua fala foi tirada de contexto, afirma. "Nunca participo ativamente de campanhas eleitorais. Não declaro o meu voto em público. As pessoas que estão usando minha imagem para fins eleitorais, fazem-no sem a minha permissão", escreveu.

"Peço que respeitem minha decisão de não me imiscuir em processos político-eleitorais, a não ser que o exijam 'os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas' (Bento 16)", continua.

Suas postagens recentes na internet, ao contrário de 2014, poupam o PT e partidos em geral. Ele, contudo, não interrompeu sua campanha em prol de valores conservadores.

"A Disney e a mídia liberal querem dar uma namorada à rainha Elsa, de 'Frozen'. E o preconceituoso é você, pai, se não estiver de acordo com isso", tuitou recentemente num desabono ao desenho animado. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.