Quando a cobertura exige discrição e sensibilidade

Fotógrafo tentou ser rápido, sabia que iria se expor, mas fez o registro

A cerimônia em homenagem a Otavio Frias Filho, com Eduardo Knapp ao lado da imagem de Nossa Senhora - Danilo Verpa/Folhapress
Eduardo Knapp
São Paulo

Já fotografei muitos velórios, enterros e missas —e, da mesma forma que em acidentes, por exemplo, estar nessas horas e locais profissionalmente é diferente.

Quando você está a trabalho, fica protegido por uma “carapaça”. Ter que cobrir jornalisticamente um evento desses cria um distanciamento em relação aos fatos que estão acontecendo.

Isso é importante porque velórios são interessantes, fotograficamente falando: rituais que têm beleza particular e carga emocional, o que costuma render boas imagens.

Mas é claro que há um meio-termo, um equilíbrio: distanciamento não é insensibilidade. Em muitas dessas coberturas, quando cheguei em casa e desliguei, fiquei tocado.

No caso do velório de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, com quem cheguei a ter contato, eu fotografei a fila de cumprimentos à família, mas queria estar lá também. Então, não me furtei a, ao final da cerimônia, falar com os familiares —e liberar minha emoção também.

Otavio era um sujeito flexível no contato, delicado, sobretudo humano; nunca foi aquele clichê de chefe sisudo.

Na cerimônia inter-religiosa, quando cheguei à igreja, vi uma pessoa do local arrumando um arranjo de flores ao lado da imagem de Nossa Senhora, atrás do altar. Percebi que o único local de onde teria um ângulo frontal para retratar os convidados seria aquele nicho.

Antes de o evento começar, passei por lá e vi que, por sorte, passava pela porta, estreita —um pouco mais de barriga e ou eu não entrava no nicho ou derrubava a imagem.

Na hora, sem nem pedir autorização, subi com o equipamento certo (fiz imagens com duas lentes, 16-35 mm e 24-70 mm) e tentei ser rápido. Sabia que me exporia, mas não havia jeito: o ângulo era aquele. 
O registro ficaria, minha “aventura” seria esquecida.

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