Descrição de chapéu Eleições 2018

Renan enfrenta sua eleição mais apertada

Poderoso ex-presidente do Senado, do MDB, busca novo mandato contra veteranos e novatos da política alagoana

João Pedro Pitombo
Maceió

O senador Renan Calheiros (MDB) desce do carro vestindo calça jeans e camisa social branca, traje igual ao de seu filho, o governador e candidato à reeleição Renan Filho (MDB).

Rodeado de cabos eleitorais pagos que carregam bandeiras e placas-pirulito, ele acena para as famílias do bairro Santa Lúcia, periferia de Maceió, mas são raros os moradores que cumprimentam o senador.

Em contrapartida, hordas de candidatos a deputado estadual e federal, vereadores em meio de mandato e líderes comunitários com aspirações políticas cercam o poderoso alagoano que por três vezes presidiu o Congresso Nacional.

Renan Calheiros tenta conquistar o seu quarto mandato enfrentando aquela que deve ser a eleição para o Senado mais disputada em Alagoas nas últimas três décadas.

Em eleições anteriores, Renan teve uma trajetória mais tranquila. Em 1994 e 2002, firmou aliança com Teotônio Vilela Filho (PSDB), numa parceria que ficou conhecida como "senadores siameses".

Em 2010, foi superado por Benedito de Lira (PP), mas acabou ficando com a segunda vaga para o Senado.

Desta vez, o cenário é ainda mais complexo. Renan chega à eleição como réu no Supremo Tribunal Federal e chamuscado por inquéritos da Operação Lava Jato que o investigam por suspeitas de corrupção.

Para completar, enfrentará na briga pelas duas vagas ao Senado outros três candidatos chegam à campanha com competitividade: Lira, que tenta a reeleição, o ex-ministro dos Transportes Maurício Quintela Lessa (PR) e o deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB).

"É uma campanha disputada. Vamos ver como as coisas vão evoluir, mas estou animado", afirmou Renan durante um ato político em Maceió.

Na pesquisa Ibope divulgada em agosto, Renan aparece na liderança com 33% das intenções de voto.

Mas os adversários vêm logo no encalço: Lira tem 25%, Cunha tem 19% e Quintela, 18%.

A seu favor, Renan tem a popularidade do governo de seu filho e companheiro de chapa: Renan Filho é aprovado por 59% dos eleitores alagoanos, segundo o Ibope.

Para impulsionar o voto casado, Renan Filho fez referências ao pai já no primeiro dia de horário eleitoral, citando-o com um orientador e conselheiro.

O governador também faz uma defesa enfática do pai quando questionado sobre os inquéritos da Lava Jato:

"O senador Renan arquivou sete inquéritos. Os arquivamentos demonstram que houve uma campanha contra ele, de pessoas que não entendem porque um senador de Alagoas tem tanto prestígio no Congresso Nacional", disse à Folha.

Outro trunfo é a aliança com PT e o respaldo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há uma semana, Renan desfilou em carreata ao lado do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) em Maceió.

Haddad deve ser anunciado candidato a presidente da República pelo PT em substituição a Lula.

Por outro lado, os adversários também têm os seus ativos. Companheiro de chapa de Renan, Maurício Quintella Lessa (PR) deve ser impulsionado por obras viárias que coordenou no Ministério dos Transportes.

Adversário de Renan até o início deste ano, Quintela migrou para a base de Renan Filho, mas manteve um pé em cada canoa —também tem indicados na Prefeitura de Maceió, comandada por Rui Palmeira (PSDB), e aliados na oposição.

Benedito de Lira, a despeito de também ser investigado no âmbito da Lava Jato, tem a seu favor o carisma que o tornou a surpresa da eleição de 2010. Mesmo aos 76 anos, costuma fazer brincadeiras com eleitores e dançar forró durante atos de campanha.

O senador também ganhou impulso com emendas conquistadas junto ao governo federal —foi aliado de Dilma Rousseff e Michel Temer— que lhe garantem o apoio de boa parte dos prefeitos alagoanos. Seu mote é "sua cidade precisou, Biu foi lá buscar".

Também desponta a candidatura ao Senado de Rodrigo Cunha, 37. Filho da deputada federal Ceci Cunha, assassinada em 1998 a mando de seu suplente, Rodrigo elegeu-se deputado estadual pela primeira vez em 2014 com votação recorde.

Nesta campanha, decidiu fazer sua campanha sozinho depois que seu partido, o PSDB, optou por apoiar o ex-presidente Fernando Collor (PTC) para governador:

"Não vou fazer uma campanha ao lado de pessoas que para mim deveriam estar na cadeia", declarou.

A estratégia tem dado certo na capital —Rodrigo aparece na liderança com 29% das intenções de voto em Maceió, segundo o Ibope.

Seu principal desafio é conseguir entrar nos rincões, onde ainda prevalece o voto indicado pelo prefeito ou líder político da cidade.

Mesmo assim, acha que pode conseguir furar o bloqueio e repetir o mesmo feito de Heloísa Helena (Rede), eleita senadora em 1998 com uma campanha de pouca estrutura.

"Tenho convicção de que povo não é tolo. Todo mundo sabe quem é quem e o porquê de Alagoas ter os piores indicadores do país", afirmou.

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