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Eleições 2018 Pesquisas eleitorais

Saída de Lula da disputa embaralha a esquerda

Ataque a Jair Bolsonaro gerou oscilações positivas para candidato do PSL especialmente em nichos específicos

Mauro Paulino Alessandro Janoni

São tantos os fatores com potencial de impacto sobre os resultados divulgados nesta segunda (10) pelo Datafolha, que as mudanças verificadas no quadro eleitoral podem parecer até modestas.

Além da intensificação da cobertura jornalística após o registro das candidaturas, episódios de grande repercussão despertaram o eleitorado na última semana.

O início da propaganda gratuita no rádio e na TV, a decisão do TSE em barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atentando contra Jair Bolsonaro (PSL) pautaram debates e mobilizaram a opinião pública.

O saldo desse período percebe-se logo nas intenções de voto espontâneas, primeira pergunta do questionário aplicada pelo Datafolha e onde não há apresentação dos nomes dos candidatos para os entrevistados.

Nessa situação, menções a Lula despencaram 11 pontos, citações a Bolsonaro subiram cinco, Ciro Gomes também melhorou seu desempenho e Fernando Haddad, que deve assumir o lugar do petista, aparece pela primeira vez, com 4%.

Quando o cartão com os candidatos é apresentado, Bolsonaro é apontado como preferido por cerca de um quarto dos brasileiros. O ataque que sofreu em Juiz de Fora gerou oscilações positivas para o candidato do PSL em diversos estratos do eleitorado, mas com maior expressão em nichos específicos como entre os que têm de 45 a 59 anos e os que ganham de 5 a 10 salários mínimos.

O episódio, no entanto, foi insuficiente para sensibilizar de maneira importante conjuntos de grande peso quantitativo. Bolsonaro continua reprovado por quase metade do segmento feminino e pela maior parte dos que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos. O primeiro corresponde a 53% do eleitorado e o segundo a 46%.

Se por um lado o atentado não provocou uma onda bolsonarista, por outro parece ter inibido efeitos dos ataques que vinha recebendo da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano, além de continuar no mesmo patamar do levantamento anterior, vê-se rodeado pelo imbróglio esquerdista provocado pela inelegibilidade de Lula.

Empatado com o ex-governador já aparece Fernando Haddad, alavancado por seu principal cabo eleitoral na propaganda no rádio e na TV. A maioria dos brasileiros diz ter assistido ao horário gratuito, pouco mais de um terço diz votar em candidato apoiado por Lula e a taxa de conhecimento sobre o ex-prefeito de São Paulo cresceu seis pontos.

Numericamente à frente do paulista, mas estatisticamente empatados, Marina Silva (Rede) sucumbe ao conhecimento crescente de Haddad e ao bom desempenho de Ciro Gomes (PDT) na TV.

Os que hoje votam em Ciro Gomes correspondem a um dos estratos que mais valoriza o horário eleitoral e que mais considera o noticiário como fonte para decisão do voto. Talvez por isso, o pedetista tenha crescido em segmentos com maior acesso à informação, como os jovens, e entre os que têm pelo menos escolaridade e renda médias. Também ganhou apoio no Nordeste e no Centro-Oeste.

Nenhum outro dado ilustra melhor a pulverização da esquerda do que a evolução das intenções de voto entre os simpatizantes do PT.

Antes da decisão do TSE, na pesquisa de 21 de agosto, quando se substituía Lula por Haddad, diante da possibilidade de impedimento de sua candidatura, 27% dos petistas diziam votar em branco ou nulo, 19% optavam por Marina, 14% por Ciro Gomes e apenas 11% por Haddad.

Hoje, a taxa dos que dizem anular o voto nesse estrato caiu dez pontos percentuais, a opção por Haddad subiu 19 pontos (foi para 30%), a vontade de votar em Ciro oscilou positivamente para 18%, enquanto Marina perdeu nove pontos (tem 10% do estrato, hoje).

Mas, apesar da maior parte do eleitorado se dizer decidida quanto ao candidato que escolheu, tendência verificada especialmente entre eleitores de Bolsonaro e Haddad, nada pode ser descartado sobre o futuro dessa eleição. Como esse futuro é curto, tanto as estratégias de Alckmin para atrair o eleitorado tradicional do PSDB —mais rico e escolarizado—, hoje votando em um Bolsonaro vitimizado, quanto os discursos dos nomes à esquerda para desempatar o páreo diante de um forte cabo eleitoral, exigem de ambos ações contundentes, imediatas, certeiras, porém cautelosas. Desafios para as campanhas.

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