Descrição de chapéu Eleições 2018

Sebrae-SP suspende renovação de contratos com Sistema S feitos na gestão Skaf

Medida foi tomada após alerta do Tribunal de Contas da União de potencial conflito de interesses

José Marques
São Paulo

Após alerta do Tribunal de Contas da União de potencial conflito de interesses, o Sebrae (serviço de apoio à micro e pequena empresa) de SP interrompeu a renovação de contratos feitos durante a gestão de Paulo Skaf, sem licitação, com entidades do chamado "Sistema S" para a realização de cursos profissionalizantes.

Contratos em execução, segundo levantamento do Sebrae obtido pela Folha, também entraram em revisão e podem ser rescindidos.

O TCU tem entendido que essas entidades não podem ser contratadas pelo Sebrae porque têm ligação com seu conselho deliberativo, composto pelas federações da indústria, comércio e agricultura, além do Banco do Brasil, Caixa e do governo estadual.

Entre os contratos sob revisão, estão um de R$ 13 milhões com o Senai (serviço de aprendizagem industrial), três que somam R$ 8 milhões com o Senac (serviço de aprendizagem comercial) e um de R$ 4 milhões com o Centro Paula Souza (de educação tecnológica do governo estadual). Todos são para execução no ano de 2018.

Considerado "paraestatal" pelo TCU, o Sistema S sobrevive do repasse de contribuições compulsórias das empresas sobre suas folhas de pagamento.

Skaf, atualmente candidato ao Governo de São Paulo pelo MDB, é presidente licenciado tanto do conselho deliberativo do Sebrae-SP como do Senai-SP. 

Ele deixou os cargos em junho para disputar as eleições, além de ter saído do comando de outras entidades, como a Fiesp (federação de indústrias do estado) e o Sesi (serviço social da indústria).
A maior parte dos contratos em revisão é para a prestação dos serviços do programa Supermei, que capacita microempreendedores individuais.

Este é o segundo contrato do Senai-SP para tocar o Supermei. O órgão foi selecionado junto ao Centro Paula Souza sem licitação para o programa, ao custo de R$ 9 milhões.

No entanto, apesar de o Paula Souza apresentar um custo mais barato por aluno que o Senai —R$ 10 por hora contra R$ 17—, o órgão do Sistema S teve o valor de seu contrato ampliado para 2018 para R$ 13 milhões. Já o contrato do órgão estadual foi reduzido para aproximadamente R$ 5 milhões.

As dúvidas do Sebrae sobre o risco de ser penalizado por contratar entidades ligadas ao conselho deliberativo começaram em 2016, quando o TCU emitiu recomendação nacional contrária a esse tipo de procedimento ao julgar as contas do braço da entidade no Ceará.

Já havia outra decisão, sobre o Sebrae de Rondônia, que fazia as mesmas constatações.

Relator de ambos os julgamentos, o ministro-substituto Augusto Sherman Cavalcanti disse que "licitações e contratações com a própria entidade indicam um flagrante conflito de interesses e ofensa ao princípio da segregação de controle, haja vista que essa mesma instância superior é responsável pela aprovação de suas contas e aquela que, em casos de improbidade, malversação de recursos, corrupção ativa ou passiva e outros ilícitos, é responsável pela apreciação das representações contra funcionários e, se for o caso, deliberar sobre destituição dos envolvidos".

O Sebrae nacional apresentou recurso ao TCU contrário à decisão, mas ainda não há um julgamento final sobre o tema. Com a indefinição, o setor jurídico do Sebrae-SP elaborou um parecer de 6 de julho que recomenda que os contratos com as entidades sejam rescindidos, caso não resultem em prejuízo, e que nenhuma nova contratação seja firmada.

Com base nesse parecer, o Sebrae-SP baixou um ato normativo no dia 24 de julho suspendendo qualquer contratação de entidades relacionadas ao conselho.

Contratações são legais e renovação foi suspensa, diz Sebrae

Procurado, o candidato Paulo Skaf não se manifestou. 

Em nota, o Sebrae-SP informou que contratações de entidades que integram o conselho deliberativo estão sendo examinadas pelo TCU, mas ainda assim, "de forma cautelosa, a diretoria do Sebrae-SP decidiu não mais renovar os contratos com entidades do Sistema S enquanto não houver decisão final do tribunal".
"A decisão final do TCU será amplamente acatada por todo Sistema Sebrae", diz.

Segundo o órgão, as contratações do Senai, Senac e Centro Paula Souza foram feitos sem licitação porque incluiu "análise de custo com a finalidade de obter o valor referencial, sendo todas elas contratadas abaixo do valor referencial apurado no mercado".

Ainda de acordo com o Sebrae-SP, as contratações foram feitas seguindo as disposições legais do regulamento do órgão.

O órgão também informa que a diferença de custo se deve à capacidade de execução dos programas e disponibilidade de datas por parte das contratadas.

"O contrato do Senai foi expandido em razão do aumento da carga horária média dos temas contratados de 36 horas/aula para 63 horas/aula. Todavia, o custo médio hora/aula sofreu redução de 1,16% em relação ao contrato anterior", diz a nota.

Procurados, Senac e Centro Paula Souza não se manifestaram. O Senai disse que o contrato atual continua vigente e as aulas seguem normalmente.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.