Descrição de chapéu Eleições 2018

Senado deve atuar para que extremos não prevaleçam, diz candidato Mario Covas Neto

Em sua primeira disputa fora do PSDB, atual vereador defende reformas e plebiscito sobre aborto

Gabriela Sá Pessoa
São Paulo

Vereador paulistano, Mario Covas Neto, 59, disputa neste ano a sua primeira eleição majoritária pelo Podemos —e não pelo PSDB, partido fundado pelo seu pai, Mario Covas, e ao qual foi historicamente filiado.

Covas Neto anunciou sua saída do ninho tucano em março, por divergir de João Doria (PSDB), ex-prefeito da capital e agora candidato ao governo de São Paulo.

Ele ocupa um dos postos de senador na coligação do governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição.

 

As pesquisas, no momento, apontam para a polarização entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Caso eleito, como imagina que será a atuação do Senado nesse cenário?

De bombeiro. A solução dos extremos é ruim porque o país vai continuar dividido, o que gera consequências na economia. Não por acaso, a gente defende a candidatura do Alvaro Dias [Podemos], uma pessoa mais equilibrada. Se eu for eleito, a minha tarefa é procurar contemporizar e ajudar que os extremos não prevaleçam.

Quais as principais reformas em que o Senado deve se engajar? 

Algumas são muito urgentes. A reforma política tem que acontecer e rápido. Não tem sentido ter tantos partidos neste país, não tem ideologia para tudo isso. A previdenciária precisa acontecer, sob pena de logo não ter mais orçamento para pagar o sistema que está aí. Mas não estou defendendo a proposta do Temer.

O candidato ao Senado pelo Podemos, Mario Covas Neto, em jantar em 2015 para homenagear João Doria
O candidato ao Senado pelo Podemos, Mario Covas Neto, em jantar em 2015 para homenagear João Doria - Bruno Poletti - 07.ago.15/Folhapress

O sr. é a favor do teto de gastos? 

É importante estabelecer limites para o governo. Não defendo Estado mínimo, o Estado tem que interferir na economia em áreas que quer desenvolver. Mas não tem sentido aumentar o seu tamanho simplesmente para agregar companheiros. Tem que ter uma reforma fiscal e, junto com ela, a tributária, em que você possa dar aos municípios mais recursos e atribuições. E a reforma político-eleitoral. A gente defende que eleições gerais [como a de 2018] e municipais aconteçam [conjuntamente] a cada quatro anos, e não a cada dois.

Não dispersa o eleitor?

As eleições presidenciais concentram a atenção. Dois motivos: o primeiro é que o custo do processo eleitoral é alto. O país, a cada dois anos, para.

A gente também propõe que o suplente de senador seja o segundo colocado na eleição. Também implantar o voto distrital para os deputados federais, usando como base o colégio eleitoral de São Paulo.

A Câmara deveria ter a mesma dimensão para todos os estados. Se fizer isso, reduz de 513 deputados para cerca de 300, com a representação correta. Haverá economia de verba de gabinete e vai ao encontro do que cidadão quer —ele acha que há muito desperdício num sistema que, muitas vezes, é o toma lá dá cá. Tem gente defendendo que o Congresso nem precisa existir.

É factível que o próprio Senado aprove isso?

Não acho que vou chegar e vou encontrar o campo aberto. Mas se tem uma coisa que a gente aprende com a vivência do parlamento é que o parlamentar é suscetível à pressão popular.

Outra coisa que tem que ser mudada é a reforma eleitoral. Vou propor de volta o financiamento de empresas, criando um fundo eleitoral de forma que [para] cada real doado para um candidato [a empresa] tem que doar mais um real para esse fundo, dividido entre outros candidatos. Se o poder econômico estiver interessado em eleger alguém, vai contribuir para outro, também.

Nesse sentido, a quê o sr. atribui seu desempenho nas pesquisas [quando a entrevista foi feita, Covas Neto estava em segundo lugar; sondagens mais recentes apontam que foi ultrapassado por Mara Gabrilli, do PSDB, e Major Olímpio, do PSL]? O sr. está hoje num partido de médio porte e é sua primeira disputa majoritária. 

Ao meu pai, não tenho dúvidas. Meu pai deixou um legado muito forte. A pessoa está apostando que eu possa, de alguma forma, ser próximo da postura dele.

O que pensa de temas como redução da maioridade penal, descriminalização das drogas e do aborto?

Não sou a favor da redução, mas de uma mudança na legislação de forma que o menor de 18 anos tenha uma avaliação técnica de psicólogos e psiquiatras para ver se tem consciência do ato que praticou. Não adianta diminuir [a maioridade], daqui a pouco estamos discutindo de 16 para 15 e assim por diante.

Sobre aborto: primeiro, tem que descriminalizar a mulher. Acho que a mulher não pode ser condenada por um ato em que ela já, por si só, tem um trauma. Por outro lado, é um tema muito complicado, o Congresso por si só não tem uma representação de tomar decisão como essa.

Teria que acontecer um plebiscito?

Exato, uma consulta popular. Acho que já houve avanço do aborto em alguns casos.

Sobre drogas, no caso da maconha, para mim sim [deveria haver descriminalização]. E por vários motivos: é uma droga que é base de terapias.

Segundo: a minha sensação é de que a maconha é uma droga recreativa, não é uma droga como outras que deixa a pessoa fora de si a ponto de cometer ou de não saber o que está fazendo, de perder a consciência.

Além disso, tem vários exemplos no mundo que deram certo, não deram certo. Acho que já avançaram e a gente tem bom caminho para trilhar. No caso da maconha, sim, sou favorável.

E a liberação do porte de armas?

Sou a favor do desarmamento, mas tem alguma coisa que tá errada. O Brasil lidera o ranking mundial de pessoas mortas por arma de fogo. Como um país que tem proibição de porte de armas tem o maior índice de pessoas que porre por arma de fogo? Há um comércio, não é difícil para uma pessoa conseguir uma arma.

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