Descrição de chapéu Eleições 2018

Acabamos no centro e não tivemos sintonia com pensamento brasileiro, diz Azambuja

Governador reeleito de MS diz que PSDB precisa refletir sobre futuro e defende pauta conservadora de Bolsonaro

Daniel Carvalho
Brasília

Reeleito governador de Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja defendeu que o PSDB discuta internamente, o quanto antes, o futuro do partido, que desidratou nesta eleição.

Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja, que foi reeleito
Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja, que foi reeleito - Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Além do fracasso de Geraldo Alckmin, que terminou em quarto lugar no primeiro turno da eleição presidencial, com apenas 4,76% dos votos válidos, os tucanos perderam as disputas em MG, CE, MA, PI, GO, MT, RO e RR, fazendo apenas os governadores de SP, RS e MS.

"Acabou polarizando entre uma extrema direita e esquerda. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender", disse Azambuja à Folha.

O governador, que declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, quer saber quais as prioridades da futura equipe econômica do presidente eleito e se diz favorável às reformas administrativa e tributária, além de pedir parceria federal para o controle da fronteira.

O tucano defende também as pautas conservadoras como a facilitação do porte de arma. "Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificação de certos tipos de crime", diz o tucano.

 

O sr. disse no fim de semana que o PSDB precisava fazer um mea culpa diante de sua atual situação. Gostaria que o sr. começasse. Onde o PSDB errou? Eu disse que não deveríamos entrar no governo Michel Temer porque era um governo novo com a cara velha, que não representava os nossos pensamentos. Fui voto vencido. Este foi um dos grandes erros. O partido precisa se reciclar, fazer um mea culpa, sentar, discutir. Qual a prioridade? O PSDB é um partido de reformas, qual vai ser nosso posicionamento nas reformas do Estado brasileiro? Como vamos nos manifestar? São questões importantes. E [é preciso] olhar o futuro, entender a voz das ruas, que deu um recado muito claro do que a população espera de todos nós.

O que mais contribuiu para o desempenho ruim do ex-governador Geraldo Alckmin na disputa presidencial? Geraldo é um grande homem público, admiro ele como governador de São Paulo, mas não soubemos comunicar com a voz das ruas, com as prioridades das pessoas. Acabou polarizando entre uma extrema direita, o Bolsonaro, e esquerda, o Lula, PT, Haddad. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender.

É preciso mudar o comando do partido para fazer esta discussão? Temos uma regra estabelecida da eleição dos dirigentes partidários. O Geraldo deve convocar uma reunião da executiva para discutir o futuro, quais encaminhamentos que serão dados no partido. Ele tem essa prerrogativa como presidente do partido. Vamos aguardar o chamamento. Mas temos pressa em saber qual a posição.

Ainda há espaço para a convivência entre Alckmin, como presidente do partido, tendo sido derrotado na disputa pelo Planalto, e João Doria, eleito governador de São Paulo, sabendo que eles não se dão bem? Se depender de mim, temos que buscar o diálogo. Temos que ter as discussões internas, mas nunca cessar o diálogo. São dois grandes homens públicos. Muitas vezes o estresse eleitoral cria essas cisões, mas tem espaço para a gente sentar na mesa e buscar o avanço desta pauta do PSDB.

Com o que o sr. concorda com Bolsonaro em relação às terras indígenas e que compromissos que o sr. assumiu com essa população? Conseguimos distensionar muito aqui as questões dos conflitos, tanto que, no nosso mandato, tivemos só dois conflitos nestes três anos e dez meses. Invasões são todas remanescentes de governos anteriores. Nós criamos uma subsecretaria de políticas indígenas, os indígenas fazem parte desta secretaria com todas as etnias e a gente está fazendo política pública. Tem o programa de apoio às comunidades indígenas, que leva assistência técnica, equipamentos, melhorias para as comunidades, investimos no artesanato, no turismo, [tem o vale-universidade indígena, programa que criamos para dar acesso à universidade privada. Essa questão da demarcação é muito mais jurídica, de interpretação das leis. A Constituição Brasileira é muito clara.

Outro assunto que dialoga com MS por causa da quantidade de produtores rurais é a unificação dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. Qual sua posição? Quando comecei o governo, uma das partes da reforma administrativa, foi unificar Meio Ambiente e Desenvolvimento. Melhorou muito, principalmente os avanços nos licenciamentos ambientais, preservando a legislação vigente. Aqui, o resultado foi positivo porque conseguimos conciliar preservação ambiental com desenvolvimento do estado. Sou favorável a isso. Já temos a regra, que é o código florestal. Agora, é seguir esta regra, mas com agilidade.

Na FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) não existe um consenso. O Ministério do Meio Ambiente tem outras atribuições ligadas a infraestrutura, esgoto, lixo, e alguns representantes do agronegócio não querem ficar com este elefante branco. [Em MS] Essa parte está na Secretaria de Infraestrutura, mas o licenciamento ambiental está dentro da pasta de Desenvolvimento.

O sr. já se diz favorável a que propostas do governo Bolsonaro? Reforma administrativa, em primeiro lugar. Diminuir o tamanho do estado brasileiro. Reforma tributária, vamos sentar à mesa. Qual a proposta? Tem que mexer numa reforma mais completa, desburocratizar as questões tributárias, facilitar a vida do empreendedor e que não tire recursos dos estados. Discutir a Lei Kandir também é uma prioridade, principalmente para nós, estados exportadores. Segurança pública: quais as prioridades? Que tipo de parcerias quer fazer com os estados? As fronteiras do Brasil estão escancaradas há muito tempo. Precisamos de uma atenção nas fronteiras.

E da pauta mais à direita, como facilitação da posse de arma? Qual a sua posição? Hoje não é impedido de você ter armas registradas em casa. O estatuto do desarmamento permite que você tenha armas dentro de casa. Ele pode mudar a questão do porte, de você poder andar armado. Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Isso que a população quer. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificação de certos tipos de crime. A polícia prende e o Judiciário solta. [É preciso] endurecer a legislação para a gente poder endurecer contra o crime organizado.

Em relação ao estatuto do desarmamento, o sr. é favorável a uma flexibilização? Sou favorável. Flexibilizar para o produtor poder ter um porte de arma com mais facilidade, eu sou a favor. Isso também é importante. Acabou o Brasil desarmando o cidadão de bem e o bandido continua armado, cometendo criminalidade. Precisamos ter uma legislação penal mais dura na questão de tipificação dos crimes e a manutenção do delinquente preso. E, na questão do desarmamento, acho que poder portar uma arma, uma pessoa que tenha bons antecedentes, não é problema no nosso país.

Em alguns estados, ao menos no PR e em PE, já vemos movimento da sociedade civil para que alunos registrem aulas dos professores para se verificar doutrinação de esquerda. Como o sr. vê esta questão? A função do ensinamento é levar o bom aprendizado sem tendência nem para a extrema direita nem para a extrema esquerda. Isso não é função da escola nem dos professores. Tem que ter uma escola pública que trate de temas de aprendizado e não politizar a escola. Não precisamos politizar a sala de aula. Não precisa chegar a este extremismo [de filmar professores] porque você ficaria fazendo uma vigilância dentro da sala de aula. A gente tem que confiar nos nossos professores. O Brasil ficou muito politizado nos últimos anos, principalmente no setor educacional. Agora é ter um novo olhar para a educação pública brasileira.

No seu discurso da vitória, o sr. disse que é hora de unificar a eleição. Na teoria, isso é interessante. Na prática, é possível? Esta é uma missão de todos nós, da classe política, da imprensa, da sociedade. Extremismo não leva a nada. A pacificação depende de todos. Dialogar com a sociedade organizada, ver pontos de convergência e divergência e fazer avançar uma pauta Brasil, independente de lado A ou lado B.

Para um estado exportador como MS, quais devem ser as prioridades de negociação internacional? Paulo Guedes [futuro ministro da área econômica] disse que o Mercosul não é uma prioridade. O sr. concorda? O Brasil tem que ter negociações com todas as regiões, inclusive com o Mercosul. Nós, aqui, abrimos frente de exportação muito forte com a Argentina. Tanto Argentina como Bolívia, países sul-americanos. O agronegócio tem dado respostas rápidas na economia. É preciso olhar os blocos e não restringir países. Oportunidades vão surgir.

O que o sr. pretende priorizar neste seu segundo mandato? Temos um trabalho de regionalização da saúde. Outra questão importante é a nossa vigilância quanto à questão da segurança pública. MS evoluiu, melhorou os indicadores, mas temos a questão da fronteira, que está desguarnecida. Precisamos muito desta parceria com o governo federal nesta polícia de fronteira, nos investimentos para a gente fortalecer uma blindagem na área de fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, que a maior quantidade de drogas e armas que adentram o Brasil passa por MS. Fazendo isso, a gente tem um resultado melhor na segurança.

Como se chegou a um segundo turno entre o sr., que está na política há 21 anos, e um estreante que perdeu, mas teve uma boa votação? Tivemos um governo que fez transformações num momento difícil de governar no pais. Tomamos atitudes: encolhemos o tamanho do estado, fizemos reforma previdenciária, reforma fiscal, implantamos teto de gastos e fizemos políticas públicas. Mesmo neste ambiente da política de renovação, de mudança, de uma campanha muito forte contra a questão da corrupção aqui e no Brasil todo, a gente teve um apoio. O que sustentou foi o resultado do trabalho realizado.

 

RAIO X

Reinaldo Azambuja da Silva (PSDB), 55, é governador de Mato Grosso do Sul e foi reeleito para o cargo no domingo (28) com 52,35%, derrotando o Juiz Odilon (PDT), que obteve 47,65%. Já foi prefeito de Maracaju (1997 a 2000 e 2001 a 2004), deputado estadual (2007 a 2010) e deputado federal (2011 a 2014). Em 2012, disputou a prefeitura de Campo Grande, mas perdeu. Dois anos depois, foi eleito governador de Mato Grosso do Sul (2015 até agora).

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.