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Acenando a petistas e tucanos, Márcio França segue a cartilha do político tradicional

Candidato à reeleição acomoda aliados e faz promessas difíceis de caber no orçamento

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São Paulo

Em festa de tucano, pomba não pia. A frase é uma das mais frequentes na boca de Márcio França (PSB), 55, ao descrever a relação de seu partido, representado pelo pássaro, com o PSDB. 

Acontece que França piou e, neste domingo (28), disputará o segundo turno para o governo de São Paulo contra João Doria (PSDB) em meio a um tucanato em erosão.

Caso se reeleja, o pessebista colocará fim a 24 anos de administrações tucanas no maior estado do país.
Ex-prefeito de São Vicente (1997 a 2004) e ex-deputado federal (2007 a 2011), França chegou ao Bandeirantes em abril, com a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) para disputar a Presidência.

O governador de São Paulo e candidato à reeleição Márcio França (PSB) - Bruno Santos/ Folhapress

Filiado há três décadas ao PSB, o estranho no ninho se aproximou do PSDB em 1997, em visita do governador Mário Covas (1930-2001) à cidade para conhecer o terreno onde seriam construídas habitações da CDHU para moradores da favela México-70.

França, aos 33 anos, caiu nas graças do tucano, a quem dedicou um viaduto na cidade. Uma das últimas fotos de Covas, nascido na vizinha Santos, é ao lado do pessebista em visita à comunidade.

Desde aquela época França exibia talento para acomodar aliados. Hoje, construiu uma coligação de 15 partidos, aos quais prometeu cargos e benesses nos próximos quatro anos.

Recebeu o apoio formal de Paulo Skaf (MDB) —que derrotou no primeiro turno— ao senador eleito Major Olímpio (PSL), do DC de Eymael ao MST.

Eleito vereador em 1988, participou, segundo ele próprio, de inusitado bloco formado por PSB, PT e PSDB, com objetivo de eleger um petista à Prefeitura de São Vicente. O vencedor, Luca Pedro, queria fazer um sucessor, mas França decidiu se candidatar. "Ele lidera 13 picaretas na Câmara", atacou à época o prefeito Pedro.

Eleito, França conseguiu um novo mandato em 2000 com 93% dos votos e foi pressionado pelo PSB a apoiar Telma de Souza (PT) à Prefeitura de Santos no segundo turno contra o então prefeito Beto Mansur (à época no PP). Sem querer desagradar, viajou à Europa e só voltou após o segundo turno.

Ainda no seu segundo mandato, pediu uma licença para trabalhar na candidatura fracassada de Anthony Garotinho em 2002. Repetiu a tarefa em 2014, coordenando a campanha de Eduardo Campos ao Planalto.

Alckmin e França se aproximaram em 2006, quando o pessebista se colocou à disposição no estado para trabalhar pelo tucano no segundo turno da eleição presidencial contra Lula. O ex-governador acabou derrotado. 

Apesar de a relação do PSB na Câmara não ser das melhores com o PT, França liderava um bloco de esquerda independente e participava do conselho político de Lula.

"Ele era mais de conciliação, de articulação. Não entrava para os enfrentamentos, era pragmático, tinha visão mais estratégica. Tanto que chegou onde chegou. Eu continuo deputado e ele pode se reeleger governador", diz o colega Júlio Delgado (PSB-MG).

Da vida parlamentar, França conserva, além do tino para articulação política, hábitos como distribuir seu telefone por onde anda. Em evento da maçonaria, no fim de setembro, rasgou um pedaço de papel que sacou do paletó e escreveu nele seu número de celular para um irmão.

Da época de prefeito, levou ideias de São Vicente para o Palácio dos Bandeirantes. Notadamente, o programa de alistamento civil de jovens, sua menina-dos-olhos, segundo a candidata a vice, a coronel PM Eliane Nikoluk (PR).

Segundo João Carlos de Souza Meirelles, um dos mais próximos aliados de Alckmin e secretário de Energia de França, o tucano o escolheu como vice e sucessor mirando a eleição presidencial deste ano. 

Ele intuía que, para vencer, precisava abrir espaço na centro-esquerda, esperando apoio nacional do PSB.
Não foi o que aconteceu. Por insistência de França, a sigla ficou neutra no primeiro turno.

Sem abrir mão de candidatura própria, os tucanos lançaram Doria. A divisão das bases alckmistas no estado —Doria levou o DEM e o PP, França o PTB e o SD— foi o pano de fundo de uma disputa polarizada.

Em campanha, França seguiu a cartilha do político raiz: loteou órgãos para aliados, liberou R$ 440 milhões para prefeitos e fez promessas que dificilmente caberão no orçamento.

"O PT e o PSDB viraram duas faces de uma só moeda. Acham que hegemonicamente o estado é tucano e o Brasil, petista. Vão ver que São Paulo não é tucano, nem o Brasil, petista", tem repetido.

Apesar das críticas, caso reeleito, Márcio França não dispensa o apoio de ninguém.

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