Descrição de chapéu Eleições 2018

Aliado de Alckmin, prefeito de Santos apoia França e diz que Doria é traidor

Tucano Paulo Alexandre Barbosa afirma que seu partido precisa se reinventar

Thais Bilenky
Santos

Aliado do candidato tucano derrotado à Presidência, Geraldo Alckmin, o prefeito de Santos (SP), Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), declarou em entrevista à Folha apoio à candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo.

O tucano afirmou que seu correligionário João Doria não representa os ideais do partido e é movido por oportunismo eleitoral.

Eleito em 2012 e reeleito em 2016, Barbosa é filho do ex-prefeito Paulo Gomes Barbosa (1980-84). Formado em direito, foi deputado estadual (2007-10), secretário de Desenvolvimento Social (2011) e de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (2011-12)

O prefeito de Santos (SP), Paulo Alexandre Barbosa, durante entrevista em maio de 2017 - Ricardo Nogueira/Folhapress

A candidatura de Doria não é consensual no PSDB. Qual é a sua posição? Minha posição é de preservar os valores da social-democracia. O PSDB em que eu acredito é o do Montoro, Covas, Alckmin. Um partido com compromisso com o interesse público predominante, que não é suscetível a projetos pessoais de poder. 

Existe necessidade de avanços em SP, mas não é correto deixar de defender o legado do PSDB no estado por 24 anos. Márcio tem defendido de forma clara. Por isso e pela lealdade a Alckmin, não no discurso, mas na prática, ele terá meu apoio no segundo turno. Ele vai estar com a cabeça focada em São Paulo nos próximos quatro anos.

Doria está em uma ofensiva para tomar conta do partido com uma caça aos infiéis. Inclusive sugeriu a sua expulsão. Estou com a consciência tranquila, porque a minha vida pública sempre foi coerente. Fui candidato a prefeito em uma cidade que o PSDB nunca tinha administrado, cumpri meu mandato e fui reeleito com votação recorde.

Tenho a consciência do dever cumprido. Ao contrário do candidato do PSDB, que foi escolhido nas prévias com a expectativa de ter um prefeito por quatro anos e houve uma traição aos filiados que o escolheram. 
Depois, eu diria que houve uma traição ao grande responsável pela escolha do João Doria, que foi justamente o Geraldo. Traiu seu padrinho político.

Quando Doria tentou ser candidato a presidente? Sem dúvida alguma. Eu não renuncio às minhas convicções. Eleição a gente ganha e a gente perde. Os princípios e valores a gente tem ou não tem. Quando João Doria me procurou com 90 dias de mandato na prefeitura para se apresentar como opção como candidato à Presidência, isso obviamente me afasta.

Ele falou abertamente? Na presença de outros colegas. Manifestou que teria mais viabilidade eleitoral que o candidato que foi determinante na sua eleição passados 90 dias. Esse tipo de atitude não me representa. Então eu fui claro, olhando no olho dele. Disse que não havia hipótese de ter o meu apoio. 

Mas a maior traição foi ao povo de São Paulo, aos milhões de pessoas que escolheram um prefeito para quatro anos e que ficou pouco mais de um. Sendo o critério para expulsão a traição, João Doria é o primeiro da fila. Quem deve ser expulso é ele.

No primeiro turno, ele flertou com Bolsonaro. Foram sinais claros. Abandonou o legado do PSDB e o candidato do PSDB à Presidência. O movimento Bolsodoria é oportunista. 

Caberão o sr., Alckmin e outros no mesmo PSDB que Doria? A urna mandou um recado claro que vai exigir uma reinvenção das estruturas partidárias, não é exclusivo ao PSDB. Se nessa reinvenção o PSDB estiver próximo daquilo em que acredito, estarei nele. Se não, não terei dificuldade nenhuma de sair.

Se Doria ganhar, o sr. sai? Meu posicionamento não tem nada a ver com a disputa eleitoral. Tem a ver com as minhas convicções. Hoje a candidatura que está se apresentando não reflete aquilo que eu penso, por isso estou distante. Não compactuo.

Sua decisão pode ser seguida por outros tucanos? Não tenho dúvidas de que outras pessoas tenham o mesmo sentimento e vão ter a oportunidade de se manifestar. Estou falando por mim. A coerência é fundamental.  

[Doria] demoniza o Márcio como representando o PT. Em 2014, ele foi protagonista na chapa que elegeu o PSDB ao governo de São Paulo como vice de Alckmin. Em 2016, ele coordenou a campanha de Doria para a prefeitura pelo PSDB. 

Ou seja, em 2014 e 2016, ele não era socialista nem petista. Agora em 2018, passou a vestir esse figurino? Isso é muita contradição e oportunismo eleitoral. É querer enganar a população. O PSB foi um bom aliado, é importante e legítimo que tenha candidatura. Esse é um dos erros do PSDB, achar que é soberano.

Qual é o futuro político de Alckmin? A política é muito dinâmica. Quando ele perdeu a eleição para prefeito em 2008, ouvi muita gente especulando que a carreira dele estava encerrada. Foi governador de São Paulo com votações expressivas. Geraldo é quem tem toda a condição e reputação moral para liderar o processo de transformação do PSDB e da política nacional. É um homem verdadeiro.

Ainda pode disputar eleição? Óbvio. Ninguém tem mais legitimidade do que ele. A qual cargo, Geraldo não faz política pensando em eleição. 

Caso se eleja, o sr. aposta que Doria vai governar já pensando na próxima eleição? Já fez isso. E vai repetir, é da postura. Precisamos de um governador que pense no estado. Márcio vai ter esse foco, tem demonstrado capacidade de unir. O flá-flu, nós contra eles, não acrescenta em nada.

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