Descrição de chapéu Eleições 2018

Amigo de Bretas, ex-juiz teve campanha abraçada por filho de Bolsonaro no RJ

Witzel se afastou de responsável da Lava Jato para evitar suspeita de interferência nos processos

Sentado, Witzel gesticula com a mão. Em seu paletó há um adesivo de campanha.
O candidato do PSC ao governo do estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel discursa em debate na TV em setembro - Mauro Pimentel - 19.set.18/AFP
Italo Nogueira
Rio de Janeiro

Disputando a cadeira marcada pelo esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral, acusado de corrupção e preso por ordem da Justiça Federal, Wilson Witzel fez questão de adicionar ao seu nome de urna a alcunha “ex-juiz”. O Tribunal Regional Eleitoral orientou a retirada, mas sua relação com a decadência do MDB-RJ não se limita ao cargo.

Quando o juiz Marcelo Bretas recebeu a medalha Pedro Ernesto, em julho de 2017, o ainda juiz Witzel discursou na cerimônia na Câmara Municipal comparando o magistrado a um bom vinho que ficou por alguns anos fermentando em Petrópolis, onde atuava, até se destacar na condução da Operação Lava Jato do Rio de Janeiro.

Também foi ao lado de Bretas que Witzel se postou quando o Tribunal Regional Federal da 2ª Região anunciou o reforço da segurança do magistrado por ameaças.

“Marcelo, Simone [Bretas]. São queridos amigos. Não gosto de falar muito dele porque estão num momento muito difícil”, disse ele, em entrevista concedida em maio ao vereador Otoni de Paula (PSC), que propôs a entrega da medalha a Bretas.

Os dois são amigos de toga. Ambos afirmam que cortaram contato quando Witzel oficializou suas pretensões políticas, em março. O objetivo era evitar rumores de que a condução da Lava Jato no período eleitoral pudesse sofrer alguma acusação de viés político. 

Fato é que, sem qualquer evidência de intenção de interferência no processo eleitoral, atos da Justiça Federal afetaram adversários do ex-juiz ao longo da campanha.

A três dias da eleição, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) foi acusado pelo ex-secretário Alexandre Pinto de coordenar fraudes a licitações em grandes obras e receber propina em depoimento ao juiz Marcelo Bretas.

Anthony Garotinho (PRP), por sua vez, foi condenado criminalmente mês passado pelo TRF-2, ao qual Witzel era ligado.

Se seu vínculo ao Judiciário foi a estratégia inicial, Witzel abraçou a bandeira da segurança pública defendida pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Ex-fuzileiro naval, passou a defender na campanha que qualquer pessoa que portasse um fuzil deveria ser abatido pela polícia.

Witzel cercou o presidenciável no início da campanha. Sentou-se no fundo da plateia de uma palestra do capitão reformado no Clube da Aeronáutica ainda em agosto a fim de tentar garantir um apoio oficial. O presidenciável, assim como na maioria dos estados, não abraçou a candidatura regional.

O ex-juiz, contudo, conseguiu o apoio de Flávio Bolsonaro (PSL). Após realizarem algumas agendas juntos, as campanhas dos dois passaram a ter praticamente um comando único, principalmente nas redes sociais. É nelas, e sua atuação no debate da TV Globo, que seus aliados atribuem a disparada final.

Apesar das agendas conservadoras destacadas na campanha do primeiro turno, Witzel quando magistrado já deu decisões concedendo pensões por morte a casais homoafetivos. Ele também tem um filho transexual. É católico praticante.

Paulista de Jundiaí, ele se mudou ao Rio com 17 anos para seguir carreira militar. Tinha o desejo de ser piloto da Força Aérea, mas não pôde por usar óculos. Também foi servidor do Previ-Rio (Instituto da Previdência de Servidores da Prefeitura do Rio de Janeiro), onde organizou cartas de crédito para funcionários de baixa renda do município.

Foi defensor público entre 1998 e 2001, período em que almejou uma candidatura a deputado pelo PSDB. Contudo, passou para o concurso da Justiça Federal, quando se tornou juiz.

Em 2011, ele atuava numa vara criminal no Espírito Santo quando passou a ser ameaçado por uma quadrilha de traficantes. Passou a usar colete à prova de balas, mas teve a rotina da família fotografada.

Após viver sob regime de segurança, decidiu pedir transferência para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar na execução fiscal. A decisão foi alvo de ataques na campanha deste ano, tendo sido chamado de frouxo pelo senador Romário (Podemos).

Witzel se dedicou também a comissões da Associação de Juízes Federais, tendo presidido a entidade no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Participou de comissões para elaboração de projetos de lei, inclusive junto com o juiz Sérgio Moro.

Na Ajufe, também envolveu-se com uma polêmica sobre a cessão de campos na Granja Comary e material esportivo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para um torneio de futebol de juízes. Witzel era diretor de esportes da associação de classe e a CBF, à época comandada por Ricardo Teixeira, acumulava réus na Justiça Federal.

O candidato do PSC deixou a magistratura em fevereiro deste ano. Lançou sua pré-candidatura em março, com direito a discurso do polêmico Nelson Bornier (Pros), ex-prefeito de Nova Iguaçu.

Witzel se reuniu com todos os então favoritos na pré-campanha. Recebeu Romário, Eduardo Paes (DEM) e Anthony Garotinho (PRP), tendo sempre recebido convites para ocupar a posição de vice na chapa.

Sua resposta costumava ser irônica. Um completo desconhecido do eleitorado retrucava oferecendo aos interlocutores a vice na chapa a ser encabeçada pelo PSC. As conversas nunca andaram. Ele chega ao segundo turno com mais de 40% dos votos válidos e disputará com Paes, que não chegou a 20%.

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