Descrição de chapéu Eleições 2018

'Antídoto' contra impeachment, Mourão coleciona polêmicas

Candidatos formam chapas com nomes que, por polêmicas ou desavenças partidárias, podem mais atrapalhar que ajudar

O general Antonio Hamilton Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (PSL)
O general Antonio Hamilton Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (PSL) - Nelson Almeida - 4.out.2018/AFP
Anna Virginia Balloussier
São Paulo

Fosse na hierarquia militar e seria inaceitável um general de quatro estrelas, condecoração máxima no Exército, acatar ordens de um mero capitão reformado.

Quis o jogo eleitoral, contudo, que Antonio Hamilton Mourão, 65, virasse o vice daquele que foi seu calouro da Academia Militar das Agulhas Negras, Jair Bolsonaro, 63. E com direito a bronca pública.

"Falei para ele ficar quieto porque está atrapalhando. [...] Um vice geralmente não apita nada, mas atrapalha muito", repreendeu o presidenciável do PSL após Mourão (PRTB) definir o 13º salário como uma "jabuticaba brasileira" indigesta para o empregador.

Pois o general voltou a criticar o direito trabalhista e, em outra fala que municiou os que apontam tendências ditatoriais na chapa bolsonatista, propôs a criação de uma nova Carta. No mundo ideal, ela seria formulada por uma comissão de notáveis --nomes ele não deu, mas disse que "uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo".

Em agosto, dias após ser ungido vice de Bolsonaro, Mourão rechaçou à Folha uma hipótese que vinha ganhando força então: o general seria um a espécie de vacina anti-impeachment do capitão.

Quem, afinal, vai querer entregar a faixa presidencial àquele que defende a intervenção militar se o Judiciário "não solucionar o problema político", como disse em fala a "irmãos maçons", em 2017?

As polêmicas se empilham. Numa das mais ruidosas, afirmou que o Brasil herdou a "indolência" dos indígenas e a "malandragem" dos africanos —à reportagem Mourão criticou o "politicamente correto" e definiu como "baboseiras" tentativas de enquadrá-lo no papel de "eu sou o terror".

Lembrou que, à Justiça Eleitoral, ele, neto de cabocla, se declarou indígena. "Se me puser um cocar, passo tranquilamente numa [aldeia]."

Mourão não foi a primeira escolha para a vice. Antes dele vieram outro general (Augusto Heleno), um astronauta (Marcos Pontes), uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma (Janaina Paschoal) e até um herdeiro da família real, o "príncipe" (Luiz Philippe de Orléans e Bragança). Nenhum prosperou.

O filho de militar com professora universitária herdou do pai a aversão ao comunismo. Admirador de missas aos domingos e um "uisquinho" à noite, passou a presidir o Círculo Militar em maio, após ser afastado de cargos altos no Exército —por criticar os presidentes Dilma e Michel Temer e chancelar uma homenagem a Brilhante Ustra, chefe da repressão na ditadura.

Se o vice às vezes "não apita nada" e "atrapalha muito", Mourão colabora na aproximação entre a cúpula do Exército com Bolsonaro, com histórico de problemas disciplinares. Um apito e tanto.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.