Descrição de chapéu Eleições 2018

Apesar de imagem arranhada, Dilma e Aécio devem ter bom desempenho em Minas

Petista e tucano podem ser os candidatos mais bem votados para o Congresso Nacional no estado

Belo Horizonte

Ele é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção passiva e obstrução de Justiça. Ela foi alvo de um processo de impeachment por causa das chamadas pedaladas fiscais.

Mesmo assim, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) podem ser os candidatos mais bem votados para o Congresso Nacional em Minas Gerais neste domingo (7). Ele disputa vaga de deputado federal, ela, de senadora.

Em um evento da campanha do presidenciável Fernando Haddad (PT) e sua candidata a vice, Manuela D'Ávila, nesta sexta-feira (5), na periferia de Belo Horizonte, a estrela foi Dilma. Ao descer da van, a ex-presidente foi a mais saudada por militantes que fechavam a rua sob o sol de meio-dia.  O público gritava o nome dela e declarava amor pela petista. Vestindo uma camiseta estampada com o rosto de Lula, sua escolha habitual nas últimas semanas de campanha, a ex-presidente retribuiu com beijinhos e sorrisos.

“Pronto, tirei uma foto da Dilma, posso ir embora”, comemorou Fabrício Lisboa, 22, estudante de engenharia da UFMG, que passou por ali na saída da academia. 

Há dois anos, o clima era outro. Dilma Vana Rousseff, hoje com 70 anos, ouvia o bater de panelas em praticamente todo o país e, ao ser forçada a deixar o governo, se recolheu em Porto Alegre, onde viveu boa parte da vida, apesar de nascida em Belo Horizonte.


Desde que assumiu a campanha e se mudou para Minas, no fim de junho, foi hostilizada por antipetistas em apenas três ocasiões, tendo passado por 25 cidades.  


“Os paneleiros estão morrendo de vergonha. Quando vem a percepção de que o golpe piorou a vida das pessoas, há um reconhecimento, um voto de desagravo em relação a Dilma”, disse o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), coordenador da campanha petista em Minas. 


Em geral, Dilma está rodeada de apoiadores, felizes por conseguirem uma selfie ou simplesmente por terem tocado na ex-presidente.


Não fosse o forte cerco de seguranças e membros do MST que a isolam na chegada e saída de quase todos os eventos públicos, ela não teria espaço para se movimentar. 


Por conta do assédio, Dilma às vezes mantém agendas discretas e se recusa a falar com jornalistas.
“Não pensem que eu esqueci não. Eu sei a campanha misógina e machista que fizeram contra mim”, disse no início da campanha. “Não vou dar moleza para a imprensa.”


Dilma só pôde participar desta eleição porque o Senado, ao cassar seu mandato, manteve seus direitos políticos, numa interpretação controversa da Constituição. Apesar de receber dez contestações, a Justiça Eleitoral aprovou a candidatura. 


De acordo com o Datafolha desta quinta-feira (4), Dilma tem 27% das intenções de voto e lidera isolada. A petista chegou a alcançar 29% --o teto de simpatizantes do PT no estado varia entre 25% e 30%. 

Lisboa, o estudante que fez a foto com a candidata, explica seu voto na ex-presidente: “Primeiro porque ela foi injustiçada. E devo muito a ela. Tudo o que conquistei de educação foi graças ao PT”. 

Para os petistas, a eleição soa como um reconhecimento de que houve um erro. “É o início de uma reparação de danos”, diz Lopes. Cida de Jesus, presidente do PT-MG, vê como um resgate não só da líder política, mas da democracia e dos direitos sociais.  Além desse aspecto, a trajetória de Dilma e a ausência de denúncias ou provas que a envolvam diretamente em corrupção a redimem, segundo analistas políticos. 

Para Malco Camargos, doutor em ciência política e professor da PUC Minas, o antipetismo está ocupado com os cargos que julga relevantes e já foi mais forte.

“Aquele clima agressivo contra o PT se arrefeceu quando outros partidos foram envolvidos em corrupção, como o MDB e o PSDB. O PT pagou ao menos parte da sua dívida com a opinião pública sendo muito punido em 2016”, afirmou o professor, referindo-se ao impeachment.
 

A intenção de votos para cargos proporcionais é mais difícil de ser aferida por pesquisas. Mas políticos mineiros têm a expectativa de que Aécio Neves seja, se não o mais bem votado, um dos mais bem posicionados candidatos à Câmara.

O hoje senador evita multidões. Faz campanha discreta, longe dos holofotes, geralmente em cidades do interior.

Bem diferente do altivo senador que, desde que foi derrotado por Dilma na eleição presidencial de 2014, estava sempre diante de câmeras e microfones, disposto a comentar qualquer assunto, principalmente se fosse alguma trapalhada do PT ou investigação policial que tivesse o partido como alvo.

Agora, seus eventos não são divulgados e o senador tem evitado jornalistas. Aécio deu a largada de sua campanha, em agosto, em uma fazenda em Teófilo Otoni, cidade natal do pai dele, Aécio Cunha, no norte de Minas. O acesso não era dos mais fáceis e um motel da região precisou ser usado como ponto de referência no convite.


Correligionários dizem que Aécio tem pedido votos em contatos por telefone, em pequenas reuniões e em aparições na internet, onde, sem poder ser diretamente contestado, fala sobre tudo, como, por exemplo, seu filme favorito --disse que é O Destino de uma nação, sobre a atuação de Winston Churchill na Segunda Guerra Mundial.

Mineiro de Belo Horizonte, Aécio Neves da Cunha, 58, tornou-se um problema para seu partido a partir de 2017, quando foi divulgada gravação de conversa entre ele o empresário Joesley Batista, da JBS, em que o senador pede R$ 2 milhões sob o pretexto de pagar advogados.

Condição para que o senador Antonio Anastasia (PSDB) aceitasse disputar o governo de Minas Gerais era que Aécio não tentasse um cargo majoritário. Ele, então, desistiu da reeleição, mesmo bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto, e optou por tentar a Câmara.

Nas campanhas de Anastasia, primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, e do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), que tem apenas 8%, segundo Datafolha de quinta passada, Aécio tornou-se radioativo e seu nome não é mencionado, a não ser por adversários, que tentam associá-lo aos candidatos tucanos.

O “fator Aécio” é um dos itens listados por aliados para o mau desempenho de Alckmin nesta eleição.

“O senador Aécio é candidato a deputado federal. Tem feito sua campanha, vai ser eleito e exercerá seu mandato na Câmara. Não há nenhum problema”, desconversou Anastasia ao ser questionado pela Folha em evento de campanha em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, na sexta-feira.

Foi pelas mãos de Aécio que Anastasia, então seu vice-governador, foi eleito para o Palácio da Liberdade pela primeira vez, há oito anos. Agora que a dobradinha é prejudicial, o slogan do candidato a governador é “Anastasia é Anastasia”, para descartar qualquer ligação com o agora mal visto padrinho.


Mas o que explica uma perspectiva de votação que o coloca entre os possíveis mais bem votados do estado? Aiados --que só falaram sobre o colega com a condição de não serem identificados para não se indisporem com ele--  respondem que isso se deve ao recall do período em que Aécio foi governador.

De 2003 a 2010, a economia brasileira ia bem e o tucano mantinha uma boa relação com o então presidente Lula. À frente do governo mineiro, Aécio conseguiu levar obras para vários municípios do interior do estado, o que pulveriza os votos de agradecimento que ele tem.


Mas se esta pulverização ajuda Aécio numa eleição proporcional, não agrada outros candidatos que tentam uma cadeira na Câmara, já que suas bases eleitorais foram invadidas pelo novo adversário.

Para Malco Camargos, Dilma e Aécio não estão dando uma volta por cima com a possível vitória, mas recebendo do eleitor uma espécie de prêmio de consolação com cargos menores que aqueles que ambos ocuparam no passado.


“Dificilmente, se fosse um cargo que o eleitor prestasse mais atenção, lograriam o sucesso que estão logrando. Dilma e Aécio estão sendo premiados pelo eleitor mineiro, mas não é uma expectativa em relação ao que eles vão fazer, mas uma compensação pelo que já fizeram", afirma. 

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