Descrição de chapéu Eleições 2018

Bolsonaro conquista votos nas áreas com mais qualidade de vida

Presidente eleito vence em cidades de maior IDH, mas perde nas mais pobres

Daniel Mariani Raphael Hernandes
São Paulo

Os votos em Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente neste domingo (28), se concentraram nas cidades brasileiras com melhor qualidade de vida.

Levantamento feito pela Folha com base nos dados de votação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos municípios mostra que Bolsonaro venceu nos 50% das localidades com melhores indicadores sociais. Nesses locais, obteve 63% dos votos válidos. 

Para a análise, a reportagem dividiu as cidades do país de acordo com o seu IDH. Um quarto delas foram classificadas como tendo o índice "muito baixo", outro quarto como "baixo", o seguinte como "alto" e o último quarto como "muito alto". 

A classificação foi feita de modo a tornar possível a comparação dos municípios brasileiros entre si.

Nos 25% dos municípios mais pobres, a vantagem foi de Fernando Haddad (PT), com 77% dos votos —logo, 23% dos eleitores optaram por Bolsonaro nessas regiões.

O padrão foi consistente em todo o país, com a vantagem de Bolsonaro aumentando conforme cresce o IDH dos municípios e Haddad conquistando as localidades menos desenvolvidas

O presidente eleito foi mais dominante nas regiões Centro-Oeste e Sul, onde conquistou também a maioria dos votos nas áreas classificadas como tendo qualidade de vida baixa —e perdeu apenas nas muito baixas.

No Sudeste, dominado pelo capitão reformado tanto no primeiro quanto no segundo turno, Haddad ainda conseguiu levar a maioria dos votos na metade mais pobre dos municípios. A mesma divisão acontece na região Norte.

O Nordeste, tradicional reduto eleitoral petista —e que preferiu Haddad se considerada a votação como um todo—, foi o único local onde Bolsonaro perdeu inclusive nas áreas de maior desenvolvimento. Apesar disso, os números do presidente eleito foram melhores nesses locais do que nos de pior qualidade de vida.

Em Maceió, por exemplo, Bolsonaro teve 62% dos votos válidos. A capital de Alagoas está classificada como tendo IDH muito alto na divisão feita pela Folha.

Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, também classificadas como IDH muito alto, o percentual foi de, respectivamente, 60% e 66%.

 

Apesar do desempenho melhor proporcionalmente nos municípios menos desenvolvidos, a maior parte dos votos recebidos por Haddad (63%) veio de regiões com melhor qualidade de vida. Esse movimento acontece porque as cidades brasileiras com IDH mais alto tendem a ser também mais populosas.

O padrão notado neste domingo (28) foi semelhante ao do primeiro turno. Análise feita pela Folha mostrou que, na ocasião, Bolsonaro já obteve vantagem sobre Haddad nos municípios com melhores indicadores sociais e perdia nas cidades mais pobres.

Na votação do dia 7 de outubro, Bolsonaro teve média de 58% dos votos nos municípios de IDH mais alto e de 18% nos que têm índice mais baixo. Haddad ficou com, respectivamente, 20% e 66%.

Apesar de ter tido desempenho pior do que o seu adversário nos locais de baixo IDH, Bolsonaro havia sido melhor nessas localidades se comparado à votação de Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno de 2014, quando também enfrentou um candidato do PT, a ex-presidente Dilma Rousseff. 

O tucano havia obtido 15,7% dos votos nas 25% cidades de menor desenvolvimento. Bolsonaro teve 18%.  

O IDH é um dos melhores indicadores da condição socioeconômica de um município, por considerar diferentes variáveis e estar disponível para todo o país. ​

O índice leva em consideração a expectativa de vida ao nascer, a educação e a renda da população.

Há, porém, um problema para a análise: os dados mais recentes são de 2010. Por isso, no primeiro turno, a reportagem avaliou também a proporção de pessoas que recebem Bolsa Família (quanto mais pessoas no programa, mais carente o município), cujo cadastro é atualizado anualmente.

Os resultados utilizando essa base tiveram alta correlação com os resultados vistos a partir do IDH municipal.

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