Após reconhecer falha na estratégia política que poupou Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno da eleição, o comando da campanha do PT vai tentar, nesta reta final, desconstruir o capitão reformado e recuperar os votos, principalmente na região Sudeste.
Em reuniões nos últimos dois dias, depois da divulgação de pesquisas que mostraram Bolsonaro até 11 pontos à frente de Haddad, dirigentes petistas admitiram que a campanha está pelo menos uma semana atrasada no ataque ao candidato do PSL.
A partir de agora, inclusive no debate desta quinta-feira (4), na TV Globo, a ordem é atacar o capitão reformado em “todas as frentes”, principalmente em suas propostas, na tentativa de mostrar que um eventual governo de Bolsonaro seria uma afronta à democracia, além de contribuir para a retirada dos direitos dos trabalhadores e a piora da crise econômica.
Aliados de Haddad dizem que foi um erro acreditar que seria possível ir para o confronto direto com o líder das pesquisas somente após 7 de outubro e que a busca pelos votos do legado do ex-presidente Lula bastaria para consolidar a candidatura do petista, levando-o ao segundo turno em uma situação “mais confortável”.
A preocupação do QG de Haddad, alarmado com o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, é de que a disputa acabe no primeiro turno, como mostrou a Folha na terça-feira (2). A onda de votos evangélicos contra Haddad somada à proliferação de notícias falsas nas redes sociais são vistas como causas externas à campanha para o cenário desfavorável ao PT.
Internamente, parte dos petistas elenca pelo menos três pontos, além de poupar Bolsonaro, que levaram ao avanço do capitão reformado, inclusive sobre as mulheres e o eleitorado de Lula.
O primeiro foi não focar a construção da imagem de Haddad como um líder inspirado no ex-presidente, mas não dependente dele. O segundo foi priorizar o Nordeste, onde as campanhas petistas têm autonomia, devido a palanques regionais fortes, como na Bahia.
A personalidade excessivamente moderada de Haddad é também apontada como um freio no que chamam de necessária ofensiva na reta final.
Os poucos ataques a Bolsonaro, dizem integrantes da campanha, restringiram-se ao aspecto comportamental e moral do capitão reformado, área na qual não há desgaste entre seus eleitores.
Na avaliação destes petistas é necessário deter o crescimento do candidato do PSL no Sudeste antes de um eventual segundo turno.
A preocupação principal, além de chegar à segunda etapa, é conseguir um patamar não muito distante do líder das pesquisas, sob pena de não conseguir reverter a liderança dele.
Parte dos petistas lamenta não ter captado antes o que chamam de onda conservadora em apoio a Bolsonaro, que conseguiu aderência inclusive entre a centro-direita, como setores do PSDB.
Uma das razões seria o fato de o condutor da estratégia política de Haddad, o ex-presidente Lula, estar preso há seis meses.
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