Descrição de chapéu Eleições 2018

'Candidato do Maluf' em SP prega combate à corrupção e defende padrinho

Guilherme Ribeiro, filho de assessor do deputado cassado, diz que representa 'renovação pura'

Joelmir Tavares
São Paulo

O "candidato do Maluf" tem um jingle que canta "chega de malandro, chega de ladrão", se apresenta como representante da renovação política e não tem vergonha de dizer que é, sim, o escolhido do ex-deputado Paulo Maluf, cassado após a condenação a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro.

Guilherme Ribeiro (PRB) em agenda de campanha na zona leste de São Paulo. Ele é candidato a deputado federal pelo PRB e afilhado político de Paulo Maluf
O candidato a deputado federal Guilherme Ribeiro (PRB) em ato de campanha na zona leste de São Paulo - Rodrigo Silveira/Divulgação

"Quem é Maluf vota Guilherme Ribeiro", estampa o panfleto do postulante a deputado federal pelo PRB em São Paulo. O "doutor Maluf", como o administrador de empresas de 35 anos chama o padrinho político, cumpre pena em prisão domiciliar desde abril (após três meses na penitenciária da Papuda, em Brasília).

Mas faz campanha para Guilherme como pode: pediu que colassem cartazes do novato na fachada de sua casa, nos Jardins (zona oeste), e mandou postar o apoio a ele em seus perfis nas redes sociais. "Ele só não está fazendo [campanha] com mais afinco porque não pode, pela situação dele", diz o postulante.

A relação dos dois é quase familiar. O administrador é filho de Jesse Ribeiro, amigo e assessor de Maluf há 42 anos.

Na quarta-feira (3), na reta final de campanha, Guilherme falava a um grupo de 35 pessoas na Vila Bela (zona leste de São Paulo). "Nos últimos quatro anos, foi cada deputado pensando em si, corrupção, impeachment ou não impeachment. Tenho minhas propostas. Se vão ser aprovadas, é uma coisa que não depende do Guilherme Ribeiro. Primeiro eu preciso estar lá", discursou.

Ele tentou se eleger para a Câmara dos Deputados pelo PP (partido de Maluf) em 2014 e teve 41.527 votos, mas não conseguiu uma vaga. Conta que visitou mais de 150 cidades do estado nos últimos meses, "sem prometer nada que não possa cumprir".

Além do aval de Maluf, ele propagandeia também a relação com o Palmeiras —é diretor social do clube desde o ano passado. Na função voluntária, organiza festas, jantar de Dia das Mães, comemoração junina. Seu comitê de campanha fica grudado no Allianz Parque, a arena do time alviverde.

Veio do principal patrocinador do clube a maior contribuição em dinheiro para a campanha de Guilherme até agora. José Roberto Lamacchia, dono da Crefisa, deu R$ 150 mil à candidatura, segundo a prestação de contas no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A segunda maior ajuda, de R$ 100 mil, foi dada pelo empresário Flávio Maluf, um dos filhos de Paulo Maluf. O próprio aspirante a deputado investiu R$ 85 mil do próprio bolso na campanha até agora.

Guilherme fala que não há nenhum constrangimento em associar sua imagem à do ex-prefeito da capital (1969-1971 e 1993-1997) e ex-governador de São Paulo (1979-1982). Ele chegou a pedir autorização à Justiça para que Maluf gravasse vídeo em seu apoio, mas o pleito foi negado.

"Eu não nego as minhas origens. Não tenho vergonha. Tenho muito orgulho, porque ele sempre abriu as portas para mim", diz o candidato, com "ojeriza a ingratidão". Ele não acha, entretanto, que sua eventual eleição seria fruto puramente da influência do padrinho famoso.

Entram na conta, crê, o esforço de ir ao encontro dos eleitores e a forcinha dos colegas de torcida (um de seus motes é "palmeirense vota em palmeirense").

Maluf "tem muito trabalho para mostrar, muitas obras e programas", enfatiza Guilherme, à maneira do padrinho, que não perde a chance de dizer que pontes e viadutos não existiriam se não fosse por suas gestões.

"Eu não questiono a Justiça, mas só Deus pode julgar definitivamente", segue, negando qualquer constrangimento com a condenação de Maluf e os processos que o acusam de corrupção (veementemente contestados por ele e seus advogados).

"Tenho contato com ele [Maluf] há 20 anos. Em nenhum momento ele me fez um pedido, um questionamento ou algo que fosse imoral ou ilegal ou contrário ao que eu penso. Se ele não fez para mim, não teria por que fazer com os outros também", afirma Guilherme.

E emenda outro argumento: "Saíram todas as listas aí, de mensalão, petrolão, mensalinho, o escambau a quatro, e o Maluf não esteve em nenhuma lista. Se ele é tão corrupto assim quanto dizem...".

O currículo de Guilherme inclui, além da amizade com Maluf e do trabalho no Palmeiras, um período de três anos como chefe de gabinete na CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), ligada ao governo do estado e território dominado por sua antiga legenda, o PP.

Em 2014 a Folha mostrou que Carlos Eduardo, outro filho de Jesse Ribeiro, usava o horário de serviço na Cohab para fazer campanha política para o partido. Na época, a sigla também tinha controle sobre cargos no órgão da Prefeitura de São Paulo, responsável por construir casas populares. O Ministério Público arquivou investigação sobre o caso do irmão por falta de provas, diz Guilherme.

Outra experiência do candidato a deputado foi como coordenador de um departamento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) entre 2015 e 2017.

Guilherme afirma que o combate à corrupção "é e sempre será" uma de suas bandeiras. Promete também, se eleito, incentivar o empreendedorismo, desburocratizar o acesso a remédios e "representar o esporte em Brasília".

"Sei do que eu sou e por onde eu passei. Sou chato com dinheiro dos outros como se fosse meu. Não venho de nenhuma família [de políticos] e nunca tive mandato. Eu sou renovação pura", diz o herdeiro político de Maluf.​

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