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Eleições 2018

Cenário eleitoral é favorável para variações na reta final

Índice dos eleitores que cogitam trocar de candidato ainda é suficiente para provocar variações decisivas

Mauro Paulino e Alessandro Janoni
São Paulo

Se na pesquisa anterior foram as mulheres as principais responsáveis pelo avanço de Jair Bolsonaro (PSL), hoje são especialmente os homens que levam o ex-deputado a alcançar 39% dos votos válidos na disputa pela Presidência da República. O capitão reformado subiu mais quatro pontos no segmento masculino, estrato onde chega a 45% dos válidos. Entre as mulheres tem 33%.

O contraste é ainda mais marcante quando se combina a variável demográfica à renda familiar e à região onde o eleitor mora. Se fosse possível reunir a população adulta do país em uma rua, ao se abordar um homem com renda familiar superior a 5 salários, na grande maioria das vezes o escolhido seria um eleitor do candidato do PSL.

Se o procedimento fosse no Sul, a renda nem precisaria ser tão alta –a intenção de voto em Bolsonaro entre os homens da região já passa a ser majoritária entre os que ganham a partir de 2 salários mínimos. Em ambos os estratos, Bolsonaro seria eleito presidente no primeiro turno, com mais da metade do total de votos. 

A evolução dos dados sugere migração gradual de eleitores de outros candidatos para o ex-deputado. A maior parte do que ele ganhou nos últimos dias, no entanto, saiu do contingente dos que pretendiam votar em branco ou anular o voto.

Ao se observar os resultados fica a dúvida do quanto a onda de apoio à sua candidatura atingiu o teto para o primeiro turno, ou se ainda pode continuar até o dia da eleição. O dado de cristalização do voto já ultrapassa 70%, mas o índice dos que cogitam trocar de candidato (cerca de um quarto do eleitorado) ainda é suficiente para provocar variações decisivas.

Isso fica evidente quando se cruza a tendência por intenção de voto. Os mais convictos são os que querem votar em Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), segmentos onde a possibilidade de se trocar de candidato fica entre 10% e 13%, respectivamente. Mas quando se focaliza os eleitores de Marina Silva (Rede), por exemplo, 61% cogitam a hipótese. Entre os de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) a ideia é considerada por aproximadamente 40%. O cenário sugere terreno fértil para a prática do voto útil por parte da população no dia da eleição.

Em relação ao destino desses votos, as opções pulverizam-se entre os principais candidatos da disputa. Com isso, para simular o potencial dos nomes hoje, o Datafolha aplicou um exercício de projeção considerando-se a capacidade de atração imediata que cada um demonstra ter junto ao eleitorado volúvel.

Caso Bolsonaro concretizasse seu potencial total como segunda opção dos brasileiros, o ex-deputado chegaria à véspera da eleição com cerca de 38% do total de votos, contando brancos e nulos. Herdaria dois pontos percentuais de Ciro e Alckmin juntos, e mais um ponto dos demais. Alcançaria com isso 42% dos votos válidos e entraria no dia decisivo precisando de sete ou oito pontos para fechar a disputa no primeiro turno. Considerando-se para isso um índice de brancos e nulos próximo à taxa de “sem-candidato” —incluídos os indecisos— do Datafolha de hoje, que é de 11%.

O cálculo foi feito antes do último debate na TV, que pode ou não alavancar os outros candidatos, considerando-se que o capitão reformado não participará do evento. Com um bom desempenho no programa, Haddad poderia converter de imediato os eleitores que o consideram como segunda opção e subir de 22% para 26% do total, por exemplo. Roubaria um ponto tanto de Ciro e Alckmin como também de Bolsonaro. O ponto restante viria dos demais. Ciro, por sua vez, poderia chegar a 15% das intenções de voto, caso os que o cogitam como segunda opção resolvessem escolhe-lo de fato.

Outra evidência de possíveis variações refere-se ao conhecimento do número dos candidatos. A variável, métrica indireta de fidelização, mostra que tanto entre eleitores de Bolsonaro quanto entre os de Haddad, a memorização dos algarismos supera 80%, taxa que cai para patamares próximos de 50% entre os de Ciro e Alckmin e fica em apenas 9% entre os que pretendem votar em Marina Silva.

Todo esse raciocínio deve avançar nos próximos dias e é legítimo no processo de decisão do voto. Em 2014, 23% dos eleitores definiram candidato para presidente na última semana. Neste ano, esse índice pode aumentar, embalado pelo acirramento da disputa numa eleição onde o medo e o desencanto se mesclam à importância que se atribui à democracia no país – pelos dados, ela nunca foi tão valorizada.



 






 

Mauro Paulino é Diretor-Geral do Datafolha Alessandro Janoni é Diretor de Pesquisas do Datafolha

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