Descrição de chapéu Lava Jato

Com base em delação da Odebrecht, três ex-prefeitos de São Carlos (SP) se tornam réus

Justiça federal aceita a primeira ação civil de improbidade da força-tarefa da Lava Jato paulista

José Marques
São Paulo

Três ex-prefeitos de São Carlos (a 240 km de São Paulo), dois do PT e um do PSDB, se tornaram réus em ação civil de improbidade sob acusação de enriquecimento ilícito por suposto recebimento de repasses da Odebrecht na campanha de 2012.

O processo foi aceito pelo juiz federal João Roberto Otávio Júnior, da 2ª Vara Federal de São Carlos, e envolve Newton Lima Neto (PT, que governou a cidade de 2001 a 2008), Oswaldo Baptista Duarte Filho, o Oswaldo Barba (PT, 2009 a 2012), e Paulo Altomani (PSDB, 2013 a 2016).

Foi a primeira ação civil oferecida à Justiça pela força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, em dezembro do ano passado, com base no acordo de leniência da empreiteira.

Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress

Segundo dois delatores da empreiteira, Barba, que era o prefeito à época, recebeu R$ 350 mil da Odebrecht enquanto disputava a reeleição. O repasse teria sido feito por intermédio de seu padrinho político Newton Lima, que à época era deputado federal.

Barba foi derrotado por Altomani, que recebeu R$ 150 mil da empreiteira, também de acordo com os colaboradores. Em ambos os casos, os valores não foram declarados na prestação de contas à Justiça Eleitoral.

Os delatores, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Guilherme Pamplona Paschoal, que também se tornaram réus, dizem que as doações tinham como objetivo o estabelecimento de relações que pudessem favorecer a empresa em futuras licitações municipais —especialmente à concessão de serviços de água e esgoto para a Odebrecht Ambiental. 

O caso também tramita em ação penal, que corre em sigilo. Os ex-prefeitos têm negado as acusações.

Ao aceitar a ação, no entanto, o juiz afirma que "dos relatos dos colaboradores resulta fundada suspeita de que houve promessa de contrapartida em favor da empresa que prestou a contribuição". 

"Além disso, ao contrário do que sustentaram Newton Lima Neto e Oswaldo Baptista Duarte Filho em suas manifestações prévias, a petição inicial não está assentada unicamente nos depoimentos dos colaboradores", acrescenta.

"Nesse aspecto, destaco que também foi juntada com a inicial planilha oriunda dos sistemas internos da empresa Odebrecht referente aos supostos pagamentos realizados em favor de Oswaldo Baptista Duarte Filho e Paulo Roberto Altomani", diz o juiz na decisão.

"Acompanharam a inicial, ademais, documentos relativos a registros eletrônicos de aparelhos celulares dos requeridos, os quais revelam a existência de comunicações entre eles em período próximo ao das eleições municipais de 2012, o que, por consequência, reforça o relato prestado pelos colaboradores."

O Ministério Público Federal pede que os ex-prefeitos tenham direitos políticos suspensos e paguem multa civil. Além disso, querem que eles paguem uma indenização por dano moral coletivo, já que entendem que houve impacto no equilíbrio econômico entre os candidatos à prefeitura na época.

Procurada, a defesa de Newton e Oswaldo Barba afirma, em nota, que "refuta veementemente a narrativa dos colaboradores da Odebrecht, considerando que o relato é plenamente contraditório com a realidade histórica das respectivas gestões municipais, quando houve melhoria e expansão dos serviços de saneamento público em São Carlos, sem se cogitar a hipótese de privatização, por convicção ideológica e programática".

Segundo o advogado Igor Tamasauskas, que representa os dois ex-prefeitos, "na gestão do Newton Lima foi construída a estação de tratamento de esgoto com recursos públicos e apoio da ANA (Agência Nacional de Águas)" e "na gestão do ex-prefeito Oswaldo houve aprovação de Lei Orgânica que expressamente impedia a privatização do saneamento". 

"A defesa reafirma que todas as doações eleitorais foram recebidas e declaradas conforme disciplinava a legislação vigente à época. Serão apresentados os esclarecimentos no âmbito judicial", diz a nota.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Altomani. Nos autos, o ex-prefeito afirma que jamais recebeu, de maneira irregular, recursos não contabilizados para sua campanha eleitoral de qualquer empresa do Grupo Odebrecht.

Também diz que não privatizou o serviço de esgoto do município e que a Odebrecht Ambiental não fez nenhuma contratação com a cidade de São Carlos nos quatro anos da sua administração.

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