Descrição de chapéu Eleições 2018

Com cargos e promessas, Márcio França busca eleitor de PT e Bolsonaro

Governador nomeou ex-aliados petistas, mas faz campanha com apoiadores do PSL

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São Paulo

Apesar de ter nomeado pessoas que tiveram vínculo com o PT e seus partidos satélites para importantes cargos em seus seis meses de governo, Márcio França (PSB) passou a se aproximar de aliados de Jair Bolsonaro (PSL) durante a sua campanha para a reeleição em São Paulo.

Assim, tenta desidratar o adversário João Doria (PSDB), que apoia abertamente Bolsonaro, e conquistar os eleitores do capitão reformado, que recebeu 53% dos votos válidos no estado no domingo (7).

Na quarta-feira (10), o governador estava ao lado de Paulo Skaf (MDB) quando o adversário eleitoral e agora apoiador declarou que votaria 40 em São Paulo e 17 para a Presidência, citando os números de França e de Bolsonaro.

Márcio França (PSB) recebeu apoio político do Major Costa e Silva (DC) no Obelisco do Ibirapuera, na sexta (11)
Márcio França (PSB) recebeu apoio político do Major Costa e Silva (DC) no Obelisco do Ibirapuera, na sexta (11) - Danilo Verpa/Folhapress

Partidos coligados com França, como o PSC de seu secretário Gilberto Nascimento e o PTB do deputado Campos Machado, estão fazendo campanha aberta pelo voto "Françonaro". Aliados relatam pressão de prefeitos do interior por uma declaração oficial de apoio do governador ao capitão reformado —os dois foram colegas na Câmara dos Deputados. 

O entorno do pessebista fez circular a declaração de voto em França de Major Olímpio, senador eleito pelo PSL e um dos interlocutores mais próximos de Bolsonaro. Na quinta (11), o bolsonarista Major Costa e Silva (DC), que ficou em quinto lugar na disputa ao Bandeirantes, reforçou a campanha do governador.

No entanto, ao lado deles, França não apoia abertamente e nem diz que votará em Bolsonaro, declarando apenas que não é eleitor do PT e pregando a neutralidade. 

Uma de suas máximas é que não se deve trazer a disputa nacional para dentro do estado —o que Doria tem tentado fazer. Com isso, evita confrontar tanto um lado como o outro.

Ele tem frisado que, em suas gestões na Prefeitura de São Vicente (Litoral Sul), sempre teve a oposição dos petistas, mas acrescenta que respeita o partido. "A gente está orientando o Brasil a produzir união", disse nesta quinta (11). "Ao longo de mais de 30 anos de vidas públicas, eu não produzi inimizades."

Assim, também mira no apoio do eleitor do petista Luiz Marinho, que conseguiu 2,5 milhões de votos no estado (12% dos válidos). 

O PT não vai apoiar abertamente França, mas orientará que eleitores de Marinho não votem em Doria. "É natural que o voto vá para o Márcio", diz o deputado Vicente Cândido, coordenador da campanha do petista ao governo. 

Ele afirma que não apoiar abertamente o candidato "é uma cautela à brasileira".

A campanha de França acredita que a trajetória do candidato, filiado a um partido de centro-esquerda como o PSB, já lhe garante espaço no campo progressista contra Doria.

Além disso, desde que assumiu o governo de São Paulo, após a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) em abril, França tem acomodado em secretarias filiados a legendas que apoiariam a sua candidatura ao governo.

Assim, nomeou para a Casa Civil o ex-ministro Aldo Rebelo (SD), que foi filiado por 40 anos ao PC do B e ocupou ministérios nos governos Lula e Dilma Rousseff, além da presidência da Câmara na gestão petista. Rebelo deixou seu abraço em aliados do governador no domingo (7), na festa para o resultado da eleição.

Do Pros, Cacá Camargo, que defende a candidatura de Haddad à Presidência foi nomeado para a pasta de Esporte, Lazer e Juventude.

Também há secretários oriundos de partidos de esquerda que aderiram ao PSB, cuja direção estadual foi comandada por França.

É o caso de Junior Aprillanti (Turismo, era do PC do B) e de Ricardo Bocalon (Desenvolvimento Econômico, ex-filiado ao PT). Ambos deixaram seus partidos para concorrerem às eleições municipais de 2016.

Apesar das nomeações, o governador sempre buscou um eleitorado que não é cativo seu. Começou mirando no eleitor tradicionalmente tucano, frustrado com o partido sob Doria e ligado à ala social-democrata, mais à esquerda no partido. 

Agora, a meta é buscar o paulista mais conservador.

Doria, desde antes do início oficial da campanha, tenta colar em França o rótulo de esquerdista e exibiu comerciais na TV em que o pessebista, um dos fiadores das alianças que garantiram a eleição do tucano à Prefeitura, aparece ao lado de Lula.

O primeiro gesto do governador para driblar a estratégia do adversário foi convidar para sua vice a coronel PM Eliane Nikoluk, filiada ao PR.

Ela mantém contato direto com a corporação, em sua grande maioria eleitora de Bolsonaro, pessoalmente ou em grupos de WhatsApp. A coronel já declarou preferência pelo capitão reformado.

Os policiais e agentes de segurança, tidos como bolsonaristas, também têm sido alvo de promessas de aumento de salário e de pagamentos de bonificações por França, em vídeo e eventos públicos.

Costa e Silva, ao anunciar o apoio ao pessebista nesta sexta, disse que o governador "abraçou diversas pautas do meu plano de governo e se comprometeu pessoalmente comigo em levá-las à frente e torná-las realidade". 

Sem entrar em detalhes, ele disse que as pautas incluiriam a "valorização dos policiais".

“Eu não vou entrar nessa polarização, antes era PT x PSDB e agora é Bolsonaro x PT. Esse jeito de enxergar a política é pobre e só tem prejudicado o país. São Paulo precisa conduzir o Brasil, como fez em toda a sua história. Não rotulo, não tenho preconceito. Se outros políticos preferem estimular a intolerância, eu sou do diálogo, da conversa”, afirmou o governador à Folha.

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