Com 343,7 mil eleitores, Santos viu o governador Márcio França (PSB) vencer João Doria (PSDB) por apenas 17 votos de diferença no segundo turno.
Aprovação à imagem de gestor moderno transmitida pelo tucano ou a falta de opção ao ex-prefeito da capital foram os principais pontos que dividiram o eleitorado santista no domingo (28).
A campanha em Santos dividiu até mesmo casais. É o caso os namorados Matheus Rodrigues Leite Barbosa e Karimi Machhour Ali, ambos de 18 anos, que seguiram por caminhos diferentes no voto para governador.
“Escolhi o Doria por me identificar mais com ele”, diz o rapaz. “O França não foi minha opção no primeiro turno, porque votamos no Skaf. Mas agora votei nele”, afirma ela.
O metroviário aposentado Gilberto Sansão Borges, 65 anos, votou confiante de que França ganharia a eleição. “Eu não votaria nesse Doria de jeito nenhum. Na Prefeitura em São Paulo, ele só queria aparecer. Mas ele ganhou, né, fazer o quê?”
A professora Elizabete Vieira Guerra, 63, foi de Doria. “Nenhum dos dois era minha primeira opção, mas conheço França, sei de todo o histórico dele em São Vicente. Acredito que o Doria vai tentar fazer alguma coisa”, diz.
Nem todo apoio a Doria foi baseado somente nas propostas do candidato tucano. O gestor comercial Joaquim Fernandes, 78, votou no tucano como forma de rejeitar os partidos de esquerda. “O Brasil está sendo governado pelos vermelhos, que fizeram bem só para eles. A corrupção é constante e o Márcio França sempre foi vermelho, há muito tempo.”
O fato de ter sido ex-prefeito de São Vicente, cidade vizinha de Santos, não significou apoio imediato a França por parte dos eleitores santistas.
“Já morei em São Vicente e não gostei do que ele fez por lá. Ele segue uma linha política que não é a minha. O Doria tem uma política mais de direita, mais liberal, por isso optei por ele”, afirma o auxiliar de caixa Erick Venicius Cabral Pinheiro, 19.
O estivador Mariano de Assis, 55, votou por exclusão. “Ontem, foi uma eleição difícil. O Doria é o último prego no caixão do PSDB. Votei não pelo França, mas contra o Doria. Para a cultura, nem o Bolsonaro soa tão desastroso quanto o Doria”, afirma.
Resultado reflete situação no estado
A divisão entre os eleitores de Santos no segundo turno é um reflexo da polarização ocorrida no estado.
Essa é a avaliação de Eduardo Grin, cientista político da FGV-EAESP (Fundação Getúlio Vargas-Escola de Administração de Empresas de São Paulo).
“Como governador em exercício, Márcio França acabou se valendo da máquina pública durante a campanha, tendo apoio de vários prefeitos, inclusive alguns do PSDB. João Doria conseguiu equilibrar as forças com uma campanha eficiente, colando aspectos negativos no concorrente”, diz.
Em Santos, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) deu apoio a França e criticou duramente Doria durante a campanha. Barbosa chegou a dizer, em entrevista, que o tucano não representava os ideais do partido e era movido por oportunismo eleitoral.
“Doria teve sucesso ao se colocar, principalmente para o eleitorado de fora da Grande São Paulo, como um gestor, um novo na política. Ao mesmo tempo, a propaganda moldou em França a imagem de um homem da velha política, que também esteve ligado ao PT. Isso favoreceu muito Doria entre o eleitorado anti-petista”, avalia.
Para Grin, a campanha de França, por sua vez, também conseguiu emplacar em parte dos eleitores que Doria não cumpriu a palavra ao abandonar a Prefeitura de São Paulo para concorrer a governador, por isso a diferença apertada entre eles.
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