Descrição de chapéu Eleições 2018

Eleição em Mato Grosso do Sul tem Judiciário como protagonista

Se enfrentam o juiz aposentado Odilon de Oliveira e o atual governador Reinaldo Azambuja

Estelita Hass Carazzai
Curitiba

Um dos candidatos é um juiz federal aposentado. O outro foi alvo de investigação em meio à campanha. E um terceiro, que quase concorreu, acabou preso antes.

Essa é a eleição para o governo de Mato Grosso do Sul, que, quatro anos atrás, foi uma das mais caras do país —e, agora, tem no Judiciário um de seus protagonistas.

Neste segundo turno, se enfrentam o juiz aposentado Odilon de Oliveira (PDT) e o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

Odilon, 69, fez fama com o combate ao crime organizado na fronteira com o Paraguai. Ameaçado de morte após mandar prender traficantes como Fernandinho Beira-Mar, dormia no fórum e ganhou proteção policial. Virou tema de filme e se aposentou no ano passado, já com planos políticos.

Nesta eleição, ele diz representar a moralização da política, e promete auditorias e um "estado livre da corrupção".

"Passei a vida inteira combatendo a criminalidade", afirma, em sua propaganda eleitoral, que mostra um eleitor pedindo "ao menos uma meia dúzia de Odilon, para mandar essa cambada pra cadeia".

Além de se beneficiar da onda de rejeição a políticos tradicionais e do clamor anticorrupção, ele "aproveitou um vácuo à esquerda e outro à direita para crescer" no cenário estadual, segundo o cientista político Daniel Miranda, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

À esquerda, o flanco foi aberto com a queda do ex-senador petista Delcídio do Amaral, preso na Lava Jato e hoje delator. À direita, houve a prisão do ex-governador André Puccinelli (MDB), o terceiro personagem da história, que era favorito para a disputa, mas foi detido em 2017 sob suspeita de desvios milionários em contratos estaduais.

O juiz aposentado, filiado a um partido associado à esquerda, mas defensor de valores conservadores, acabou representando "um casamento esquisito", segundo Miranda, mas que ganhou adeptos entre o eleitorado. "No fim das contas, o eleitor vota no candidato, no que ele representa", comenta o professor.
Foi um novo movimento da Justiça que levou o ex-juiz a cavar uma vaga no segundo turno: uma investigação contra Azambuja.

O governador, 55, tinha a expectativa de se reeleger em primeiro turno. De estilo conciliador e imagem de bom gestor, tem 46% de aprovação, segundo o Ibope, e o apoio de prefeitos pelo interior.

No meio da campanha, porém, o tucano foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que apurava o pagamento de propina pela JBS, em troca de benefícios fiscais. Sua casa foi alvo de buscas e seu filho, detido temporariamente para depor.

Azambuja acusou a investigação de ser "midiática", e negou as suspeitas. Mas sentiu o golpe. Acabou indo ao segundo turno, ainda em primeiro lugar, com 44% dos votos, contra 31% de Odilon.

A pauta anticorrupção veio com mais força agora. Odilon diz que "o eleitor é o juiz". "Tem candidato que finge que é honesto, mas essa mentira não cola mais", afirma sua propaganda.

O estreante, porém, sofreu um revés na última semana: seu filho e coordenador de campanha, Odilon Júnior, fez uma visita a Puccinelli, na prisão --supostamente para sacramentar a aliança do MDB com o PDT no segundo turno.

A campanha do juiz nega que a visita tenha sido motivada por interesses eleitorais, e diz que Odilonzinho visitava o filho de Puccinelli, preso na mesma cela. Mas precisa lidar com esse desconforto na reta final.

Azambuja, por sua vez, colou sua imagem à do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que gravou um depoimento em seu apoio e fez 55% dos votos do estado no primeiro turno. Pesquisa do Ibope, divulgada na sexta (19), mostrou o tucano à frente, com 53% dos votos válidos, ante 47% de Odilon.

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