Descrição de chapéu Eleições 2018

Eleitor está vacinado contra fake news, diz Ratinho Junior

Governador eleito do Paraná diz não ver risco à democracia, e afirma que o eleitor votou mais em conceitos do que em propostas

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Curitiba

Eleito em primeiro turno como governador do Paraná, com 60% dos votos válidos, o deputado estadual Ratinho Junior (PSD), filho do apresentador de televisão Ratinho, relativizou a importância das notícias falsas nas eleições deste ano e afirmou que o brasileiro está vacinado contra fake news.

"As pessoas estão muito atentas a isso. Até na guerra há regras", afirmou, durante entrevista à Folha. Para ele, o brasileiro deu um recado de renovação nas urnas, e votou mais inclinado a escolher um novo modelo de política do que preocupado com propostas específicas –o que ajuda a explicar a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL), em quem irá votar. "As pessoas querem ordem, querem um projeto de nação."

Ratinho Junior (PSD), governador eleito do Paraná
Ratinho Junior (PSD), governador eleito do Paraná - Rodrigo Félix Leal

Sócio de um conglomerado empresarial que reúne emissoras de rádio e TV, Ratinho Junior concedeu entrevista num escritório nos fundos da Rádio Massa, em Curitiba, onde tem recebido membros da equipe para definir a transição no governo estadual. Ele diz que as empresas serão críticas ao seu governo, e que não há qualquer orientação editorial para que atuem em sentido contrário.

O sr. disse, após a votação, que o brasileiro passou um recado claro de renovação nas urnas. Isso é bom para a política brasileira? Eu acho que é bom. O recado é: "Não queremos mais esse modelo tradicional da política". Na minha visão, esse modelo faliu. Quem está na vida pública vai ter que se reinventar.
O sr. teme que a onda de renovação seja aproveitada por políticos despreparados ou sem espírito democrático? Não, eu acho que o Brasil está bem consolidado nesse sentido. A gente ouve rumores de um lado ou de outro, "ah, esse aqui vai radicalizar". Eu não vejo ambiente para isso.

A gente está muito estruturado nesse sentido, [temos] a Justiça, o Ministério Público, o Parlamento. O recado do eleitor foi que ele quer um modus operandi diferente. Eu vejo pela nossa campanha: alguns candidatos, e isso por todo o país, ficaram preocupados em falar de propostas, de como iriam atingir a vida individual das pessoas. Nós trabalhamos um conceito: acabar com secretaria que não tem necessidade de existir, cortar mordomias, tornar a máquina pública mais eficiente. Quando que você imaginou que cortar secretaria seria legal? "Ah, vão cortar cultura, educação", ia virar um rolo. Hoje, não: as pessoas falam que tem que cortar, que está demais. Quem conseguiu entender esse novo momento da sociedade brasileira, de um novo conceito de política, como gestão, se deu bem.

O sr. acha que esse conceito, para o eleitor, foi mais importante do que as propostas em si? Essa é uma exigência da população. Com esse movimento de rejeição à política convencional, as pessoas começam a exigir novos métodos. É um simbolismo que se estende às demais áreas do governo. Isso estava muito mais fervoroso na vontade popular nesta eleição do que a preocupação com as questões do dia a dia, de saúde, segurança... Que não deixam de ser importantes. Eu via candidato, por exemplo, dizendo que vai baixar o preço do gás. As pessoas não estão preocupadas com isso. Elas querem ordem, querem um projeto de nação. "Ah, eu vou dar luz e gás". Não é isso que elas querem. Não adianta ter luz e gás se o país não andar, se não houver ordem. Isso também é política. É uma proposta.


Até que ponto o sr. atribui essa onda de renovação à Operação Lava Jato? Muito. A Lava Jato, com a cobertura da imprensa, fez com que se começasse a ter uma consciência coletiva da necessidade de mudar o modelo político. Do toma lá dá cá. Esse modelo de relacionamento entre os poderes não é sadio. A Lava Jato também trouxe uma esperança, de que o tubarão, o poderoso, também vai para a cadeia. Foi uma ruptura na Justiça. O que aconteceu com o judiciário está acontecendo com a política. É o mesmo processo. É uma maturação, algo normal numa democracia jovem como a brasileira.

Alguns políticos afirmam que está havendo uma demonização da política.A política sempre é criticada, no mundo todo. É um relacionamento difícil. Agora, quando você tem um bom governo, não há raiva. Numa situação como está o Brasil, com desemprego alto, gente sem dinheiro para pagar o aluguel, denúncias de corrupção, a raiva com a política aumenta. E acho que é natural. O eleitor tem razão, ele não pode se conformar com aquilo que está ruim.

O sr. está na política há 16 anos: começou como deputado estadual, federal, secretário e agora foi eleito governador. Por que afirma que representa o novo? O novo não é de idade. É de metodologia, de projeto. O Paraná é governado há 40 anos por duas ou três famílias. Eu não venho de nenhuma dessas castas, e eu não as condeno. Colaboraram, ajudaram o Paraná. Mas o fato de eu não ter vindo dessas oligarquias me fez construir um novo time. Eu não fui apadrinhado: tive que construir um time para poder ser uma opção ao Paraná. E isso é novo.

Mas o sr. também fez uma trajetória política. Filiou-se a diferentes partidos, elegeu bancada, foi secretário.Sim, porque não tem outro caminho. Como é que vou me filiar a um partido e, no outro dia, me eleger governador? Isso é extremamente difícil. Você tem que construir um projeto. Até porque, quando você faz política, você não faz sozinho. Não tem nada de ruim eu construir bancada, reunir um grupo de prefeitos. São pessoas com um objetivo comum. Ninguém entra na vida pública e vira governador de uma hora para outra.

Qual seu projeto para o Paraná? O que pretende priorizar? Eu quero governar o Paraná como um país, em termos estratégicos, de planejamento. O mais importante é fazer planejamento a médio e longo prazo, em termos de infraestrutura, de proteção de fronteiras, com métricas.
Como funcionará sua relação com as empresas da família? Eu saí da presidência do conselho de administração no início do ano. Sou sócio da holding, mas não das empresas de comunicação. As concessões não estão no meu nome. No mais, eu vou tratar as empresas como a lei determina. Hoje, existe uma regra de distribuição de verba de publicidade [do governo]. É uma lei nacional, de acordo com a representatividade do share de mercado. É assim que será conduzi.

Vai haver alguma diretriz nas empresas de comunicação para a cobertura do seu governo? Elas vão cobrir da mesma maneira que sempre fizeram. Eu nunca usei das empresas para me beneficiar. Se eu tivesse essa vontade, eu apresentaria um programa diário na televisão, o que não faço.

Mas o sr. apresentou um programa de rádio diário [ele deixou de apresentar o programa no início do ano, e não pretende fazê-lo enquanto estiver no governo] Aí é uma questão de profissão. Eu nunca falei de política. Falo muito mais de esporte, fofoca de artista... Eu comecei minha vida no rádio. Comecei a trabalhar nisso aos 13 anos. Se eu não estivesse na vida pública, esse seria o meu ganha-pão. E não é para fazer política; eu faço um programa de entretenimento.

Em 2012, uma das emissoras do grupo foi alertada pela Justiça Eleitoral por favorecê-lo em uma cobertura. Eu não lembro desse fato. Mas nunca teve [nenhuma orientação]. Até porque nós somos uma afiliada. Temos regras a serem seguidas, estabelecidas pelo SBT. Não podemos brincar.

No dia seguinte à sua eleição, o sr. foi ao programa Tribuna da Massa e passou quase uma hora no ar, com lágrimas, depoimentos da família, num tom bem emotivo. Essa é uma cobertura equilibrada? Eu estive na Globo primeiro, e depois lá. Ali, realmente, foi uma coisa muito mais de relacionamento pessoal, de amigos. O relacionamento que a minha família tem com os colaboradores [da Rede Massa] é de amizade. A gente trabalha com quem a gente gosta. Muitos que estão ali gostam da gente, sofreram quando a gente perdeu em 2012 e ficaram felizes com a vitória neste ano. Então, foi um gesto de carinho. Mas não é um desequilíbrio. Até porque, em algum momento, eu vou ser criticado por uma atitude que tomarei no governo. Não adianta esperar que só vá ter coisa boa. Já houve casos em que a emissora bateu nos deputados, e eu estava no meio. Fazer o quê? É assim mesmo.

Eleitores relataram inconsistências nas urnas neste primeiro turno. O sr. vê gravidade nesses episódios? Eu não acho que a urna eletrônica tenha sido fraudada. Não acredito em uma conspiração para fraudar um pleito nacional. Mas questiono por que um país desenvolvido não tem urna eletrônica. É um questionamento, como cidadão. Mas eu tenho boa-fé. Acho que jamais o TSE deixaria que houvesse uma eleição fraudada no país.

Por que o sr. apoia Jair Bolsonaro no segundo turno? Eu acredito que o PT já teve sua possibilidade de contribuir com o Brasil. O país tem que experimentar um novo modelo, um novo grupo político. O PT cometeu erros e acertos. Mas vamos virar a página e dar oportunidade para uma nova modelagem de governo, uma nova maneira de se pensar a nação.


O Bolsonaro é o candidato ideal para isso? Ele é o candidato do momento para impor as rupturas políticas necessárias e que a sociedade quer, como demonstrou nas urnas.

Ele e outras pessoas em seu entorno fizeram recentemente críticas pesadas ao STF, à imprensa e à oposição (no caso de petistas, dizendo que "ou deixam o país, ou vão para a cadeia"). É uma atitude democrática? Há exageros dos dois lados. Não tem bonzinho nisso. No segundo turno, os ânimos afloram e aí é narrativa. Quem está com o Bolsonaro hoje é porque não quer mais o modelo do PT. Então, tem que realmente discursar que não vai fazer o que o PT fez. Eu não vejo risco à democracia, nenhum. Eu vejo boa-fé nele; não acho que ele tenha outro tipo de interesse a não ser fazer um bom projeto, dentro daquilo que as leis e a democracia determinam.

Como candidato, qual é sua avaliação do peso das redes sociais nessa campanha? Houve algum desequilíbrio? É possível que tenha desequilibrado em algumas regiões do país. Porque você não tem controle disso, e é difícil responsabilizar. Alguém joga uma notícia de um celular do Paraguai, de Miami... você não consegue achar a ponta. Só que são essas leis eleitorais que fazem no Brasil, né. O maior beneficiado com toda a lei eleitoral brasileira foi o Facebook. Você tinha o outdoor, que poderia ser uma alternativa. Era feito de uma maneira democrática, por sorteio, dividido por partido... Proibiram. Foram limitando tanto a maneira de se fazer campanha que sobrou qual alternativa? O zap-zap. Ou o Facebook. Só quem ganhou foi o Mark Zuckerberg.

Mas houve contribuição para o debate democrático? Eu acho que as redes sociais dão a oportunidade para as pessoas terem opinião. De certa forma, é democrático, porque a pessoa pode falar o que quiser. Tem excessos, como no caso das fake news. Eu tenho coisas que recebi [contra mim]. Mas as fake news só acabam tendo importância se a pessoa que está sendo atacada tiver fragilidades. Se o seu passado dá margem para alguma dúvida, a fake news passa a ter credibilidade. Aí pode ser uma bomba. No meu caso, as pessoas já me conhecem, não acreditam [em fake news]. Ou, veja o exemplo do vídeo do Doria: eu acho que é fake news. Mas é algo tão nojento que acabou potencializando o Doria. Porque foi muito baixo. Até na guerra, há regras. Acho que as pessoas estão muito atentas a esse tipo de informação, estão vacinadas.

Então o sr. acha que isso não interferiu na decisão eleitoral? Não acho. As pessoas estão muito conscientes.

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