Descrição de chapéu Eleições 2018

Em baixa, PT pode sofrer derrota no Acre após 20 anos de domínio

Aumento de violência é citado como razão para estador ter se tornado um reduto de Jair Bolsonaro

Angela Boldrini
Rio Branco

Com brigas internas e o antipetismo em alta, o Partido dos Trabalhadores pode sofrer uma derrota em um de seus mais antigos redutos eleitorais, o Acre.  

Pesquisa Ibope divulgada nesta sexta-feira (5) apontou apoio de 51% dos eleitores acreanos a Gladson Cameli (PP) contra 33% para o ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre (PT). 

Caso se confirme esse cenário, será a primeira derrota petista no estado desde 1998, quando o hoje senador Jorge Viana assumiu o Palácio Rio Branco.

Depois de dois mandatos, entregou o cargo a Binho Marques, que por sua vez repassou a cadeira em 2010 ao irmão de Jorge, Tião Viana. 

A perda do Acre é simbólica para o partido. Além de governá-lo há duas décadas, foi em Rio Branco que o PT conseguiu eleger seu único prefeito de capital em 2016 —Marcus Alexandre, que deixou o cargo para concorrer neste pleito.

Além disso, em meio a uma disputa interna, Jorge Viana corre o risco de ficar sem mandato: aparece em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Sérgio Petecão (PSD) e Márcio Bittar (MDB), da chapa de Cameli.

As explicações dadas por eleitores, apoiadores e opositores ouvidos pela Folha são as mesmas: o desgaste dos sucessivos governos, a crise petista nacional e o aumento da violência no estado alimentaram a derrocada do PT e do clã Viana nas eleições de 2018. 

Jair Bolsonaro faz comício em Rio Branco, no Acre
Jair Bolsonaro faz comício em Rio Branco, no Acre - Fábio Pontes - 1.set.2018/Folhapress

O mesmo aumento de violência que é citado como principal razão para que o Acre tenha se tornado, em 2018, um dos principais redutos de Jair Bolsonaro (PSL). A ascensão do capitão reformado antipetista —em visita ao estado, ele afirmou que iria "fuzilar a petralhada"— também beneficiou Cameli. "Uns 80%, até mais, dos meus eleitores está casando o voto Gladson-Bolsonaro", afirma o senador. "E no dia que o Bolsonaro veio muito deles fizeram camiseta [da dupla] por conta própria."

"Domingo é Bolsonaro, é Gladson", gritava da caçamba de uma caminhonete Valdemar Queiroz, 54, fantasiado de Batman e com adesivos da chapa —que trazem o nome de Alckmin— colados ao peito. 

O "Batman acreano", como ele próprio se denomina, participou nesta sexta da carreata de encerramento da campanha do candidato do PP, em que o clima de apoiadores era de euforia. "É no primeiro, é no primeiro", entoavam militantes e membros da campanha.

Na Baixada da Sobral, local escolhido para o ato, os muros das casas de alvenaria exposta ou madeira vêm muitas vezes pichados com os dizeres "B13" ou "CV". Leia-se: Bonde dos 13 ou Comando Vermelho, duas facções que disputam a região de uma das capitais mais violentas do Brasil.

É uma identificação comum em uma das regiões mais violentas da capital acreana, onde em 2017 a Polícia Militar do estado admitiu haver o maior número de organizações criminosas da cidade.

À medida que os carros passavam, gritos de "Bolsonaro" podiam ser ouvidos entre os moradores reunidos para a assistir à passagem dos veículos, muitos dos quais usando adesivos com o rosto de Cameli e seu vice, o tucano Major Rocha. 

Oficialmente, Cameli apoia o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, para a presidência. Seus apoiadores, porém, não hesitam em pedir voto para Bolsonaro. Além disso, o próprio senador já afirma que, caso haja um segundo turno entre o deputado e Fernando Haddad (PT), abraçará a candidatura do primeiro. 

Enquanto a oposição parece já festejar vitória, os petistas se envolvem em disputa interna. De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, desagradou a Jorge Viana a decisão de Ney Amorim, presidente da Assembleia Legislativa, de se candidatar ao Senado. Com dois candidatos, o partido corre o risco de não eleger nenhum.

No Ibope, Viana aparece com 18% das intenções de voto, seguido por Amorim com 16%.

A Folha entrou em contato com ambos, mas não obteve resposta. 

Nas ruas de Rio Branco, apesar da derrota que se aproxima, ouve-se elogios à gestão do atual senador, que ficou à frente do governo entre 1998 e 2006. "Ele mudou a cara do Acre, isso é inegável", afirmou o motorista Michel Rodrigues, 30.

De 1991 a 2010, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado subiu de 0,402 para 0,663. A expectativa de vida também cresceu, de 63,7 anos para 71,6. Já a mortalidade infantil foi de 41,9 mortes a cada mil nascidos para 23 no período, de acordo com dados do Atlas Brasil. 

Já Marcus Alexandre é definido como "trabalhador". "Até quem é contra ele respeita o trabalho dele", diz Rodrigues, que vai votar em Cameli e Bolsonaro neste domingo (7).

A Folha procurou os petistas para falar sobre o cenário, mas não houve manifestação até a publicação desta reportagem. 

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