Descrição de chapéu Eleições 2018

Em busca de voto útil, Alckmin repete discurso de Covas de 1989

Vinte e nove anos depois, presidenciável usa argumentos de tucano histórico para tentar atrair eleitores

Brasília

“A estratégia do PSDB para conseguir votos hoje em todas as zonas eleitorais do país foi estabelecida na semana passada. Os militantes tucanos vão utilizar a tese do voto útil.”

O enunciado acima poderia descrever a eleição presidencial deste ano, quando Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, ainda tenta sair do cenário de estagnação pregando o voto útil contra Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

O trecho, no entanto, foi publicado pela Folha no dia 15 de novembro de 1989, quando o padrinho político de Alckmin, Mário Covas, primeiro presidente do PSDB, estava em situação semelhante à de seu afilhado e tentava se projetar como terceira via contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor (PRN), que acabou vitorioso.

Na tentativa de se viabilizar como uma alternativa de centro para chegar ao segundo turno, Alckmin tem reproduzido a mesma estratégia adotada por Covas. Em 1989, contudo, ela não foi eficaz. O tucano acabou a disputa em quarto lugar, com 11,51% dos votos válidos.

Desde agosto, a pesquisa Datafolha aponta Alckmin estacionado entre 9% e 10% das intenções de voto, e tecnicamente empatado em terceiro lugar com Ciro Gomes (PDT).

Na disputa de 1989, Leonel Brizola, também do PDT, acabou em terceiro lugar, com 16,51% dos votos válidos.

“Os institutos de pesquisa revelam que mais da metade do eleitorado, 54%, ainda não sabem em quem votar. As pesquisas mostram também que, no segundo turno, o candidato Mário Covas é o mais forte e é o único que tem condições de derrotar Collor de Mello”, dizia o locutor no programa eleitoral do tucano de 1989.

Vinte e nove anos depois, Alckmin usa o mesmo argumento para tentar atrair eleitores.

“Datafolha e Ibope já provaram: Bolsonaro perde para Alckmin e, principalmente, Bolsonaro perde fácil para o PT. A campanha de Bolsonaro vai querer te convencer que ele pode vencer o PT. Mas isso não é verdade”, afirma o narrador da atual campanha tucana.

As coincidências não param por aí. Nas peças do horário eleitoral, ambos se apresentam como uma opção mais equilibrada entre os candidatos dos extremos, que são chamados de radicais pelos dois filmes publicitários.

“Mário Covas sempre esteve muito longe das posições conservadoras ou reacionárias. E tampouco pode ser apontado como um radical”, afirmava o ator Gianfrancesco Guarnieri, que pedia votos para Covas.

“São dois lados de uma mesma moeda: a do radicalismo. Se qualquer desses lados vence, o país perde. Sou oposição a ambos, porque sou favorável do Brasil”, diz Alckmin em propaganda divulgada na semana passada.

Eles também se apresentaram nas duas disputas presidenciais como nomes experientes diante de adversários.

“Também já caímos no conto do vigário, com um presidente sem apoio, que se dizia o novo, contra tudo e contra todos. Não podemos repetir os mesmos erros”, afirma Alckmin.

“Verifique, em primeiro lugar, quem tem vergonha de se dizer político. Porque mal ou bem, o Presidente da República vai ter que exercer a função política”, criticava Covas.

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