Em campanha anti-PT, Alvaro Dias realiza sonho de tentar a Presidência

"Até podem dizer que eu tenho vaidade física, mas jamais política", diz o candidato

Estelita Hass Carazzai
Curitiba

As aspirações do político paranaense Alvaro Fernandes Dias já estavam estampadas no Monza verde-metálico que ele dirigia no início da década de 1990: a placa era AFD-1995. Segundo os amigos, as iniciais e ano de posse do futuro presidente da República.

Governador do Paraná à época, com passagens pelos Legislativos estadual e federal, Dias não escondia o sonho de ser presidente, cargo ao qual o atual senador concorre, enfim, neste 2018 pelo Podemos —uma empreitada que alguns adversários atribuem à sua reconhecida vaidade.

“Vaidade coisíssima nenhuma”, comentou Dias à Folha, dizendo que, à época, foi sondado para o cargo, mas não pensava em concorrer. 


“Até podem dizer que eu tenho vaidade física, mas jamais política. Concorrer é muito mais uma responsabilidade do que um sonho”, declarou o senador. 


O senador de 73 anos, nascido em uma família de agricultores entre 11 irmãos, fez fama como radialista no Norte do Paraná. 


Eleito vereador em Londrina pelo MDB, em 1969, era conhecido como um “político galã” e bom comunicador. 


Opositor do regime militar, encampou atos pelas Diretas-Já e foi pioneiro na realização de showmícios, com artistas como Wando (1945-2012) e Belchior (1946-2017). 


Cioso de sua imagem, fez implantes de cabelo para esconder a calvície precoce.


“Ele sempre teve uma antena ligada no que o público está pensando; nunca perdeu a verve do comunicador”, afirma Fábio Campana, que foi seu secretário de Comunicação.


À frente do governo do Paraná, para o qual foi eleito em 1986, investiu em um programa de obras, que sinalizava com um símbolo em concreto, apelidado de “a casinha do Alvaro”.


“A gente brinca que, daqui a milênios, arqueólogos ainda irão encontrar as casinhas espalhadas por aqui”, diz o professor Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR (Universidade Federal do Paraná). “É um negócio indestrutível.”


Com um investimento massivo em propaganda, em especial por meio do Banestado, banco público estadual, Dias construiu uma imagem de “novo” e “honesto”. 


Sua equipe de comunicação cresceu: equipes filmavam seus atos, e outdoors estampavam a alcunha de “governador mais popular do Brasil” —o Datafolha, ao final de seu governo, indicava aprovação de 66%.
Foi nessa época que o político passou a encampar mais fortemente a pauta do combate à corrupção e às mordomias: revogou uma licitação milionária de uma hidrelétrica estadual, demitiu e prendeu funcionários corruptos, cortou diárias de servidores e enxugou a máquina pública. 


Mas seu objetivo, segundo políticos ouvidos pela Folha, seria minar o poder do antecessor José Richa, então companheiro de MDB e que patrocinou sua candidatura ao governo. 


“O que o Alvaro queria era ser o primeiro e único líder político paranaense; o rei da cocada”, diz o jornalista Cícero Cattani, 78, que trabalhou na primeira campanha do político ao governo.
Para Dias, essas são “intrigas” de críticos interessados em promover o afastamento dos dois, o que acabou ocorrendo. 


Foi a única vez que ele esteve à frente do Executivo. Sua imagem acabou arranhada após a repressão a uma manifestação de professores, em 1988, com o uso da cavalaria da Polícia Militar. 


Ele afirma que o episódio foi um factoide e que não houve feridos.


Ainda assim, Dias conseguiu construir uma carreira de sucesso no Senado. Nos últimos anos, tornou-se uma voz de oposição aos governos do PT, sempre disponível para a imprensa. 


Foi relator de CPIs e pediu a investigação de suspeitas de corrupção nos governos de FHC, Lula e Dilma. Em 2014, foi reeleito pela quarta vez, com 77% dos votos no Paraná.


“Ao longo do tempo, ele foi caminhando cada vez mais à direita”, diz Oliveira. 


Na campanha à Presidência, o discurso anticorrupção e, mais recentemente, anti-PT foram a tônica de seus pronunciamentos.


“[Fernando Haddad] é o porta-voz da tragédia, o representante do caos. O PT se especializou em distribuir a pobreza para todos e a riqueza para seus líderes”, afirmou, durante debate dos presidenciáveis no final de setembro promovido por Folha, UOL e SBT. 


O político diz que escolheu ser um “porta-voz da indignação”. 


Para desafetos, é um oportunista que vive de imagem e foi filiado a sete partidos. Já o próprio senador se define como um rebelde que sempre foi oposição e que fez uma campanha com autenticidade.


Com 2% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha divulgada na última terça-feira (2), o candidato reclama do exíguo tempo de TV, em especial nos noticiários, e da frustração de repasses partidários. 


Também faz críticas às pesquisas, dizendo que ainda tem chance de ir ao segundo turno.

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