Descrição de chapéu Eleições 2018

Em terra de Ciro Gomes, Fortaleza guarda nichos de Bolsonaro

Haddad tem melhor desempenho em bairros da capital cearense com IDH baixo

Fortaleza

O Colégio Salesiano Dom Bosco, no bairro Joaquim Távora, de classe média alta em Fortaleza, recebeu 13 seções da 80ª zona eleitoral da cidade no primeiro turno, em 7 de outubro.

Ciro Gomes (PDT) venceu por ali entre os presidenciáveis, com pouco mais de 400 votos de vantagem para Jair Bolsonaro (PSL), segundo colocado.

Fernando Haddad (PT), que teve votação expressiva no Nordeste, conseguiu menos da metade dos votos de Bolsonaro naquela escola, o que foi a regra na capital.

Heitor Freire, deputado federal eleito pelo PS, e Jair Bolsonaro
Heitor Freire, deputado federal eleito pelo PS, e Jair Bolsonaro - 10.out.2018/Divulgação/Facebook

Se o Ceará, com o fator Ciro Gomes, foi terreno hostil para Bolsonaro se dividindo entre o seu ex-governador e o candidato petista alavancado por Lula, Fortaleza se mostrou mais receptiva a ele.

Bolsonaro teve 34,3% dos votos na capital cearense, ficando atrás de Ciro (40,1%), mas à frente de Haddad (19,3%).

Em uma das zonas eleitorais da cidade Bolsonaro conseguiu bater Ciro Gomes, que além de governador foi prefeito de Fortaleza no fim dos anos 1980 e início dos 1990.

A 3ª zona eleitoral acompanha o perfil nacional do eleitorado de Bolsonaro: englobando os bairros de classe alta de Aldeota, Meireles e Praia de Iracema, entre outros, é formado por pessoas com maior escolaridade e renda.

Em outros dois setores com o mesmo perfil ele teve diferença pequena para Ciro, e grande vantagem sobre Haddad.

“O Bolsonaro ganha em Fortaleza [do Haddad] pelo perfil do eleitor. Em outras localidades, porém, não vejo tão natural a transferência de votos do Ciro, por exemplo. Ele foi uma terceira via e acho que muitos podem optar pelo branco e nulo”, disse Paula Vieira, cientista política do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará.

A 500 metros do Dom Bosco, seguindo à frente na mesma avenida, o PSL inaugurou na terça (16) o comitê de Jair Bolsonaro em Fortaleza. Pode parecer estranho abrir o espaço a menos de duas semanas do fim da campanha, mas no primeiro turno a estrutura do partido na cidade —e no estado— era pequena.

Ela se resumia ao escritório de Heitor Freire, empresário que preside o PSL no Ceará e que se elegeu deputado federal na esteira do sucesso do presidenciável —em 2014 ele tentou, sem sucesso, uma cadeira como vereador em Fortaleza pelo PSC.

“Nesses bairros com acesso mais facilitado à internet, à informação, o Bolsonaro ganhou [do PT]. É um grande sentimento anti-PT que, agora, será mais ligado ao Bolsonaro”, disse Freire.

Ele afirmou que ganhou apoio de membros de partidos que no primeiro turno estavam em coligações diferentes, como o PSDB, e até do Pros, que ainda faz parte da coligação nacional do PT.

“E temos um novo cabo eleitoral, Cid Gomes”, ironizou Freire. Na segunda (15), em ato político pró-Haddad em um hotel de luxo de Fortaleza, o senador eleito irmão de Ciro Gomes criticou o PT, cobrou desculpas e disse que o partido vai perder a eleição por não ter feito um mea-culpa.

Haddad perdeu de Bolsonaro em todas as zonas eleitorais de Fortaleza. Seu melhor desempenho ocorreu em áreas mais pobres, em bairros como Conjunto Palmeiras e Barroso, dois dos que têm os menores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade.

O Conjunto Barroso é próximo do local onde ocorreu a maior chacina da história do Ceará, em janeiro de 2018, quando 14 pessoas morreram após ataque de membros de uma facção criminosa.

As cinco maiores cidades do Ceará, incluindo Fortaleza, receberam auxílio de forças federais para segurança no primeiro turno depois de pedido da Procuradoria Eleitoral do Ceará.

Investigação do Ministério Público indicou que integrantes de facções estavam intimidando moradores de bairros periféricos a não votar em candidatos ligados à polícia ou militares.

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