Descrição de chapéu Eleições 2018

Entidades civis veem ameaça em discurso de Bolsonaro

Para ONGs, candidato desrespeita lei ao incitar violência e prisão de rivais

Apoiador de Jair Bolsonaro participa de protesto em apoio ao presidenciável do PSL na avenida Paulista, em São Paulo
Apoiador de Jair Bolsonaro participa de protesto em apoio ao presidenciável do PSL na avenida Paulista, em São Paulo - Nacho Doce - 21.out.2018/Reuters
Géssica Brandino
São Paulo

O discurso do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) no domingo (21) a apoiadores fere os princípios da Constituição de 1988, afirmam organizações não governamentais ouvidas pela Folha.

Com larga vantagem na intenção de voto para o segundo turno, disputado neste domingo (28), Bolsonaro afirmou que se eleito "vagabundo vai ter que trabalhar e deixar de fazer demagogia junto ao povo" e disse que mandará para a cadeia seu opositor, Fernando Haddad (PT).

"Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês", afirmou, acrescentando que as "Forças Armadas serão altivas" e que ações do MST serão tipificadas como terrorismo.

Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, o teor remete a 1968.

"Ele faz discurso desconectado do que está previsto na nossa Constituição em termos de garantias de direitos, usurpando funções que são da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. Ele precisa olhar o debate político com olhos de 2018 e não com olhos de 1968, ano do AI-5", disse, em alusão ao decreto emitido na ditadura militar que endureceu a repressão.

Diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques diz que Bolsonaro ignora o funcionamento das instituições e faz promessas vazias.

"A Polícia Civil e a Polícia Militar trabalham no Brasil inteiro com retaguarda jurídica dada pela Constituição. Não há nada que um presidente possa fazer a mais que a Constituição já prevê. Há uma incitação e promoção de ideia de que hoje nada funciona", diz.

Segundo o diretor-adjunto da ONG de direitos humanos Conectas, Marcos Fuchs, o candidato do PSL "desafia os princípios de associação e assembleia garantidos pela Constituição, à qual o próximo presidente da República deve obrigatoriamente se submeter", afirmou, citando direitos que só são subtraídos em estados de exceção.

"Uma democracia pressupõe o respeito às divergências políticas e partidárias, bem como uma sociedade civil forte, atuante e livre para denunciar abusos e cobrar melhorias do Estado."

Marques diz ainda que propor alterações no funcionamento das forças policiais e a tipificação da conduta de movimentos sociais como terrorismo mostra que Bolsonaro continua a pensar como deputado.

"A gente sabe que as organizações policiais têm problemas, mas cabe pouco ao presidente a possibilidade de alterações legislativas. A mesma coisa em relação aos movimentos sociais. Os movimentos sociais que cometem ilegalidades têm que ser punidos de acordo com a lei, que já existe e já funciona." ​

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