Estudo aponta para automação no envio de mensagens e orquestração entre grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro

Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS) monitorou 110 grupos políticos abertos

Chicago

Pesquisa inédita que monitorou, durante a última semana, grupos de WhatsApp das eleições 2018 aponta para a ação automatizada, ou seja, para o envio coordenado de informações em múltiplos grupos, a grande maioria deles ligados ao candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Esses grupos apresentam alto grau de interconexão e número elevado de administradores e membros comuns, muitos com atividade dezenas de vezes acima da média dos demais usuários.

O estudo —que monitorou 110 grupos políticos abertos e analisou seu grau de coordenação e interdependência— é do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS), centro de pesquisa independente que reúne professores de diversas universidades brasileiras e do laboratório de mídia do MIT (Massachussets Institute of Tecnology), nos EUA.

Aplicativo WhatsApp
Aplicativo WhatsApp - Thomas White - 25.set.2018/REUTERS

Seus achados são peças do quebra-cabeças revelado pela Folha que aponta para empresas comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp, prática ilegal por se tratar de doação não declarada para a campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL), configurando crime eleitoral.

Os contratos para o disparo de mensagens chegariam a R$ 12 milhões, atingindo dezenas de milhares de brasileiros com conteúdo político contrário ao candidato Fernando Haddad (PT).

Segundo pesquisa do Ibope, 56% dos eleitores brasileiros afirmavam que seriam influenciados de algum modo pelas redes sociais e 36% diziam que seriam essas redes que definiriam seu voto.

No estudo do ITS, uma amostra de grupos abertos de WhatsApp disponíveis em repositórios na internet foi usada para o monitoramento.

"Os repositórios estão dominados pelos grupos de apoiadores de Bolsonaro. Existem alguns poucos grupos a favor de outros candidatos, mas muitas vezes os links de acesso foram revogados", explica Caio Machado, um dos autores do estudo, mestrando em ciências sociais da internet pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

"Ao buscarmos o que está na web, reproduzimos na nossa amostragem a provável proporção de grupos presentes ali", diz, para justificar a quase onipresença de grupos pró-Bolsonaro na pesquisa.

Segundo ele, o principal achado foi a potencial automação de envio de mensagens. Enquanto alguns usuários fizeram 360 postagens no período estudado, a média dos demais era de dez mensagens. O intervalo entre envios de mensagens de uma mesma série eram mínimos: entre 1 e 20 segundos. Segundo o relatório, boa parte desses perfis não trazia nome próprio nem foto pessoal. 

Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio
Gráfico do estudo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio - Reprodução

"São indícios muito fortes de automação. Pode ser o que chamamos de bots, ou robôs, que disparam mensagens, ou pode ser um usuário que utiliza algum nível de automação para difundir conteúdo, o que chamamos de ciborgue", afirma.

Uma análise qualitativa das postagens desses usuários hiperativos apontou que o conteúdo disseminado não era o de mensagens de opinião própria, mas majoritariamente a retransmissão de informação e de mídias (vídeos e fotos).

Numa segunda análise, foi mapeada a presença de membros ao longo dos grupos. E alguns deles chegavam a compartilhar 50 usuários. Outros quatro usuários administravam mais de 17 grupos. 

Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio
Gráfico de estudo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio - Reprodução

As atividades entre os grupos se mostraram intensas, sugerindo um grau de orquestração e coordenação.

Observamos uma via de disseminação de conteúdos. Há evidências de algo arquitetado, criando uma malha e uma estrutura de coordenação entre os grupos de modo a orquestrar a disseminação de informações através dos grupos de forma rápida e com o uso de alguma automação, sejam bot, sejam ciborgues.

Esta é a primeira campanha eleitoral que usa a internet, após resolução do TSE que autorizou o uso impulsionamento digital, mas vetou o uso de bots.

Nesta semana, comentários pró-Bolsonaro em posts feitos no Twitter pela Folha que continham palavras como "bolso" e "bolovo" levantaram suspeitas do uso de robôs pela campanha de Jair Bolsonaro.

Em um dos posts, que tratava da competição entre joalherias e galerias de arte pelo bolo dos super-ricos, usuária sob suspeita de automação comentou: "Cadê as provas, Folha? Não tem, né? Pq não existem. Vcs estão com medo de perder os milhões que o governo PT banca vcs, né?"

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.