General de Alckmin não consegue reproduzir desempenho de Bolsonaro

Nome tucano ao governo do Ceará não empolga eleitores e frustra expectativa do partido

General Guilherme Theophilo
General Guilherme Theophilo - Folhapress
Fortaleza

Ele se considera um nome de fora da política tradicional, empunha a bandeira da segurança pública, é contra a intervenção no Rio de Janeiro e chama o golpe militar de 1964 de um "contragolpe democrático".

O general da reserva Guilherme Theophilo, candidato do PSDB ao governo cearense, guarda muitas semelhanças com o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, mas, diferentemente dele, tem patinado nas pesquisas eleitorais e frustrado dirigentes tucanos.

Escalado para viabilizar um palanque estadual a Geraldo Alckmin, o general quatro estrelas foi filiado ao partido pelo senador Tasso Jereissati na esteira do fenômeno das candidaturas de militares e na esperança de repetir no estado o êxito nacional do capitão reformado.

 

O resultado foi o oposto do esperado. Ele não tem conseguido romper a barreira de um dígito nas sondagens eleitorais, não tem alavancado no estado a candidatura de Alckmin e tem apresentado desempenho inferior a de candidaturas de oposição ao grupo político de Ciro Gomes em eleições anteriores ao governo cearense. 

"É um preço que o partido talvez tenha de pagar por ter feito uma renovação. Como o tempo foi curto para torná-lo conhecido junto ao eleitor cearense, ele acabou engolido", resumiu o deputado federal Danilo Forte (PSDB-CE). 

Segundo a última pesquisa Ibope, divulgada na terça-feira (2), o general apresentou 7% das intenções de voto, contra 69% do atual governador Camilo Santana, do PT, que seria reeleito no primeiro turno.

Em levantamento anterior, feito no final de setembro, o mesmo instituto de pesquisa mostrou que Alckmin oscilou de 5% para 3% no estado.

"Ele é exótico ao Ceará e o PSDB não pode querer que, faltando seis meses para a eleição, alguém vire candidato", avaliou o ex-governador Cid Gomes (PDT), para quem a candidatura do tucano acabou ajudando a do petista.

A relação entre Bolsonaro e Theophilo não se resume apenas ao discurso. Eles se consideram amigos desde o tempo da academia militar. No estado, contudo, o postulante ao Palácio do Planalto apoia outro candidato, Hélio Góis (PSL), e já fez reparos ao general. 

"Lamento, no final da carreira, ele se prestar a esse papel de apoiar o Alckmin", disse Bolsonaro, quando visitou Fortaleza, em junho. 

A postura do general também é criticada por dirigentes nacionais do PSDB. Para eles, o militar errou ao ter afirmado que não houve ditadura no país. A avaliação é de que o militar acabou se contrapondo a discurso de Alckmin, que tenta se diferenciar do que chama de radicalismo e extremismo de Bolsonaro.

"Essa é uma posição do candidato e não tem nada a ver com o partido, já que é uma declaração estapafúrdia", disse o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman (PSDB). Ele lembra que, em 1964, o movimento foi realmente civil e militar, mas que o golpe se concretizou em 1968.

A escolha do general como candidato tucano foi feita após Tasso ter afirmado que não disputaria o governo estadual pelo PSDB e ter defendido uma renovação política. Cid até tentou costurar um acordo para que o tucano apoiasse a reeleição de Camilo, mas a necessidade de criar um palanque para Alckmin prevaleceu.

No ano passado, segundo relatos feitos à Folha, Tasso chegou a considerar um apoio a Camilo se ele deixasse o PT e se filiasse a outra sigla. Na época, brincou que o governador tinha um "jeitão tucano".

O flerte, contudo, não foi para frente, apesar de o petista ter nomeado um tucano para a secretaria estadual do planejamento.

Com o lançamento do general, o PSDB acabou isolado na disputa estadual, compondo apenas com o PROS, enquanto que o PT fechou aliança com um total de quinze partidos, incluindo os adversários nacionais DEM e PPS.

"Tasso tem liderança e conta com respeito no Ceará. Mas, olhando friamente, os últimos movimentos dele têm sido isolados", avaliou Cid.

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