Descrição de chapéu Eleições 2018

Haddad não deve manter visitas semanais a Lula e PT admite rever programa

Estratégia faz parte da modulação do discurso para ampliar alianças no 2º turno

Marina Dias Catia Seabra
São Paulo

O ex-presidente Lula liberou seu herdeiro político, Fernando Haddad (PT), de fazer visitas semanais a ele em Curitiba e autorizou o PT a revisar pontos do programa de governo para tentar ampliar as alianças —e o discurso— no segundo turno.

A instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte, por exemplo, deve ser uma das propostas retiradas do plano.

Nesta segunda-feira (8), Haddad se reuniu com Lula na sede da Polícia Federal, na capital paranaense, e ouviu do ex-presidente que era preciso “ir para a rua fazer campanha” e tentar conter o avanço da onda em apoio a Jair Bolsonaro (PSL).

Lula deu carta-branca ao candidato para firmar sua identidade própria e conversar com diversos partidos, sem restrições. 

A ideia é que os acordos formais se deem entre siglas de centro-esquerda, como PDT, PSB e PSOL, mas haja espaço para formar uma frente em defesa da democracia. 

Nesse grupo, poderiam entrar líderes de partidos como o PSDB, por exemplo, que tem como um de seus ícones o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem boa relação com Haddad.

Em São Paulo, o candidato relatou a conversa com Lula para dirigentes do PT em um encontro ampliado da coordenação de sua campanha.

Depois da reunião, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi escalada para verbalizar publicamente as decisões e afirmou que as visitas de Haddad a Curitiba vão “depender da dinâmica da campanha”.

“Temos agora menos de 20 dias [de campanha]. Não sei qual será o tempo e a disposição para isso [manter visitas semanais a Lula]. Se for possível, ele vai, se não for possível, vai fazer campanha”, declarou Gleisi.

Ela admitiu ainda que há uma “solicitação” de partidos para que a Assembleia Nacional Constituinte não conste do programa de governo e que “possivelmente haverá uma revisão” do texto.

Gleisi repetiu Haddad em seu pronunciamento no domingo (7) e disse que o PT fará um “chamamento aos democratas”, e que não haverá restrição a partidos para as conversas no segundo turno.

“Não temos restrição. Se as pessoas tiveram noção do que está em jogo e defenderem a democracia [conversaremos]. Não significa um pacto programático e que possamos mudar substancialmente propostas”, completou.

A campanha de Haddad também incorporou o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner, para comandar as articulações políticas.

Fernando Haddad (PT) dá coletiva de imprensa após visitar Lula na cadeia nesta segunda (8)
Fernando Haddad (PT) dá coletiva de imprensa após visitar Lula na cadeia nesta segunda (8) - Heuler Andrey / AFP

Wagner tem bom trânsito entre políticos, empresários e integrantes das Forças Armadas —ele foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff— e vai integrar a equipe de Haddad nas três semanas do segundo turno.

O clima na campanha petista um dia após ser chancelado o segundo turno contra Bolsonaro é de apreensão. A avaliação é de que reverter o quadro de votos, 46% para o capitão reformado contra 29% de Haddad, é “muito difícil”. 

Bolsonaro venceu em todas as regiões do país, menos no Nordeste, mas avançou sobre estratos do eleitorado petista e tem o apoio da maior parte do mercado financeiro seduzido pelas ideias de seu guru, o economista Paulo Guedes.

De perfil conciliador, Wagner chega justamente para tentar ampliar o arco do diálogo, não só com políticos mas também com empresários e tentar esfriar os ânimos dentro do PT.

Uma ala importante da coordenação defende que o eixo do segundo turno seja o debate econômico, com a radicalização do discurso e sem acenos ao mercado, enquanto o grupo mais próximo a Haddad quer que o candidato faça movimentos que amplie seu arco de apoio, inclusive com empresários e investidores.

A desconstrução de Bolsonaro se dará pelos direitos sociais, tentando mostrar inconsistências de suas propostas e que ele vai retirar direitos da população.

A preocupação da campanha é que não será possível vencer a eleição conquistando apenas os votos da centro-esquerda e centro-direita, mas também o eleitor tradicionalmente lulista que migrou para Bolsonaro.

Por isso, avaliam, o discurso focado no eleitorado mais pobre é tão importante.

A campanha, porém, ainda não encontrou um antídoto eficaz para combater as notícias falsas contra o petistas que circulam nas redes sociais e querem reforçar essa área no segundo turno.

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