A eleição de 2018 já tem uma marca. Nunca o horário político, que encerrou nesta sexta-feira (26), foi tão pouco importante na disputa presidencial.
Com tempos iguais na televisão no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) tiveram cerca 22 minutos de exibição diária, cada, somados inserções na programação e blocos no horário eleitoral. Atingiram, assim, milhões de pessoas em todo o país pela televisão.
Na Grande São Paulo, entre o dia 11 e 24 de outubro (excluindo domingos), a audiência média domiciliar das exibições do horário eleitoral (vespertino e noturno) foi de 38 pontos, segundo o Ibope. Cada ponto equivale a 201.061 indivíduos.
Como, então, defender a pouca importância desse canhão?
Revisar o passado recente ajuda a entender a mudança.
Em 2014, Marina Silva chegou a estar empatada com Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto na disputa presidencial. Liderada pelo marqueteiro João Santana, a campanha petista levou ao ar no horário eleitoral uma peça em que mostrava para o público sua versão — bem exagerada— sobre o que poderia acontecer se a proposta de Marina de autonomia ao Banco Central fosse implementada.
Em uma uma peça de 30 segundos, a comida sumia do prato de uma família. O locutor avisava que decisões importantes para a vida dos brasileiros passariam a ser tomadas por banqueiros e não por representantes eleitos.
Sem nenhum outro fato determinante na campanha, Marina despencou de 34% no Datafolha, em agosto, para 19% no resultado final do primeiro turno.
Tiros semelhantes foram dados por candidatos no horário eleitoral em 2018. Nenhum com efeito parecido. O meio diz mais do que o conteúdo na mudança de 2014 para 2018.
A internet roubou primazia e protagonismo na disputa. As redes eram usadas diariamente pelos dois candidatos à presidência –e também por seus eleitores e apoiadores. Foram as páginas no Facebook e os grupos de WhatsApp que abasteceram os brasileiros de notícias. E também com fake news.
Apostas de narrativas e ataques eram testadas e disseminadas antes nas redes, seja Youtube, Facebook ou grupos de WhatsApp.
Assuntos debatidos no segundo turno, como quem iria ajudar mais o Nordeste ou qual dos dois transformaria o Brasil numa Venezuela, chegaram ao horário eleitoral já velhos, depois de serem replicados em mídias — imagens com montagens verdadeiras e mentirosas — em grupos de WhatsApp.
Quando chegavam à tela da TV, os temas já haviam sido pautados pelas redes.
O tempo na televisão acabou sendo utilizado — sem sucesso, é claro— na tentativa de desmentir notícias falsas propagadas na internet. Já era tarde.
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