Descrição de chapéu Eleições 2018

Mandatos coletivos de ativistas se multiplicam na Câmara e Assembleias

Grupos que dividirão a mesma vaga são eleitos no Rio, em Minas, em São Paulo e em Pernambuco

Gabriela Sá Pessoa João Valadares
São Paulo e Recife

Marielle Franco virou semente, diz uma colagem que circula nas redes sociais com fotos de deputadas eleitas domingo (7). Parte da colheita é de candidaturas coletivas que, como a da vereadora carioca assassinada em março, se propõem a unir forças e demandas de ativistas de diferentes movimentos sociais em um gabinete.

Parte do mesmo coletivo de Marielle, o Ocupa Política, as candidaturas dos grupos Bancada Ativista, de São Paulo, e do Muitas, em Minas Gerais, emplacaram deputadas entre as mais votadas no estado.

Mônica Seixas (PSOL), da Bancada Ativista, foi o rosto nas urnas que representou outras sete co-candidaturas, como o grupo prefere denominar. Ela ficou em 10º lugar na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), com quase 150 mil votos.

Membros do coletivo Muitas, de Minas Gerais, que elegeu Áurea Carolina para a Câmara; na foto, estão sentados erguendo a faixa "somos muitas"
Membros do coletivo Muitas, de Minas Gerais, que elegeu Áurea Carolina para a Câmara - Divulgação

Áurea Carolina, do Muitas, recebeu 162,7 mil votos e conquistou a primeira vaga do PSOL mineiro na Câmara dos Deputados como o quinto nome mais votado no estado.

O coletivo de Minas Gerais também conquistou uma vaga na Assembleia mineira, com Andreia de Jesus (PSOL).

Em Pernambuco, a maior novidade da eleição proporcional foi a vitória da chapa coletiva Juntas (PSOL), com cinco mulheres feministas. Formalmente, quem vai ocupar a tribuna e votar é a ambulante Jô Cavalcanti.

Elas tiveram 39.171 votos e vão ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa. As co-deputadas vão ganhar exatamente a mesma remuneração e dividir as tarefas para exercício do cargo eletivo.

Em comum, esses mandatos defendem tomar decisões coletivas para defender pautas como feminismo, direitos humanos, demarcação de terras indígenas e quilombolas e segurança pública.

Em comum, também, é a deliberação de como atuar no Legislativo, unindo a representatividade de diversos movimentos sociais.

No entanto --ao menos, no caso da Bancada Ativista e do Muitas-- a prioridade no Parlamento se concentrará menos na proposição de leis do que no acompanhamento das que já existem, além da fiscalização do Executivo.

"A maior potência é a fiscalização e cumprimento das leis que já existem. Nesse sentido, vamos avançar bastante. Quando eu recebia uma denúncia, ia bater na porta de um deputado estadual, pedindo favor. Às vezes conseguiam atender, às vezes tinham outras prioridades. Ter a caneta ali do lado para encaminhar aquilo em que acredita é muito potente", diz Raquel Marques, da Bancada Ativista.

Sua companheira de gabinete, Anne Ranni, diz que os mandatos coletivos são uma resposta do campo progressista à crise de representação da democracia, em meio ao naufrágio da política tradicional."

"Eles são a materialização estratégica de como o campo progressista pode ocupar as Assembleias Legislativas e espaços de decisão unindo forças do poder popular, ao invés da política personalista, que tenta eleger salvadores da pátria. Focamos no poder da coletividade", afirma Ranni.

A mineira Áurea Carolina diz que as candidaturas coletivas de mulheres levarão adiante o legado de Marielle Franco. "Ela vive em nós, não vai ser em vão. A gente precisa tornar esses espaços de poder cada vez mais próximos daquilo que a Marielle trazia no seu corpo --espaços mais femininos, mais negros, mais LGBTs."

Na prática, os coletivos vão conviver com bancadas mais conservadoras do que em legislaturas anteriores, com a ascensão de partidos de direita. Todos preveem um cenário de fortes embates, mas dizem querer construir diálogo.

Para Anne Ranni, progressistas precisam observar as táticas com que o conservadorismo ganhou terreno nas eleições. "O campo progressista disputa muito entre si, enquanto a direita avança mexendo no imaginário das pessoas. Sem dúvida, precisamos dialogar, com verdade, com as pessoas e criar um imaginário de esperança, de que a transformação é possível e pode ser pelo caminho da esperança."

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