Descrição de chapéu Eleições 2018

'Medir impacto de fake news nas eleições é difícil', diz chefe de missão da OEA

Para Laura Chinchilla, a proliferação de notícias falsas aumentou no segundo turno

Letícia Casado
Brasília

Chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que acompanhou as eleições no Brasil, Laura Chinchilla afirmou nesta segunda-feira (25) que a proliferação de notícias falsas na internet teve impacto no pleito, mas que não é possível medir sua extensão. 

"Confirmamos o fenômeno que se deu no Brasil do uso das redes sociais de maneira ampla para a difusão de notícias falsas", disse Laura durante a apresentação do relatório da OEA sobre as eleições.

"Medir o impacto disso é muito difícil porque não há medidas específicas e concretas. Mas é importante procurar uma maneira de conter", acrescentou. 

Chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que acompanhou as eleições no Brasil, Laura Chinchilla
Chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que acompanhou as eleições no Brasil, Laura Chinchilla - Evaristo Sa - 08.out.2018/AFP

Segundo ela, "embora esse fenômeno já tenha sido observado em processos eleitorais de outros países, as eleições no Brasil apresentaram novos desafios, como a utilização de sistemas [de mensagens] criptografados para a divulgação massiva de desinformação". 

"Apesar dos esforços feitos no Brasil para combater a desinformação, a missão notou que a proliferação de informação falsa observada na ocasião das eleições de 7 de outubro intensificou-se no segundo turno das eleições, estendendo-se para outras plataformas digitais, como o Whatsapp", disse.

Ela considerou positiva a reação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e de outras autoridades, meios de comunicação, agências de checagem e site para intensificar a campanha de combate a notícia falsas.

Para a chefe da missão, é necessário que os partidos políticos e os militantes se envolvam no combate a fake news. 

Ela destacou que o Brasil implementou mecanismos para reduzir o impacto das notícias falsas, "apoiados por autoridades oficiais, meios de comunicação, organizações não-governamentais e por algumas plataformas tecnológicas que estão caminhando na direção correta".

Na semana passada, Chinchilla disse que a divulgação de notícias falsas no país via WhatsApp pode ser um "fenômeno sem precedentes".

"O debate político se deu especialmente nas redes sociais, estendendo-se à plataforma de mensagens privadas Whatsapp no segundo turno eleitoral. A missão lamenta o uso irresponsável que vários setores políticos fizeram dessas ferramentas, que, quando empregadas de forma positiva, podem contribuir ao intercâmbio de informação entre candidatos e eleitores, e ajudar a autoridade eleitoral a aproximar a cidadania do processo eleitoral", afirmou. 

"A missão observou com preocupação a utilização de plataformas digitais para propagar desinformação e lançar ataques, inclusive às instituições e ao sistema eleitoral", disse.

Ela acrescentou que a Justiça Eleitoral mandou remover conteúdo difamatório da internet durante a campanha. 

Chinchilla, que já foi presidente da Costa Rica, cumprimentou o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e seu adversário na disputa, Fernando Haddad (PT).

Ela destacou que a polarização da eleição brasileira gerou ambiente de tensão e condenou as ameaças e agressões a jornalistas, candidatos e simpatizantes políticos. 

Chinchilla citou levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) que registrou mais de 130 ataques contra jornalistas durante 2018, "dos quais mais da metade ocorreu em manifestações político-partidárias". 

"Os dados fornecidos à missão mostram também dezenas de agressões a jornalistas em redes sociais e ferramentas digitais. A maioria desses casos se refere à 'exposição indevida da imagem de comunicadores', ou seja, usuários que compartilham imagens de um jornalista sugerindo que é simpatizante de uma determinada ideologia e incitando outros a agredi-lo", disse.

"A missão manifesta sua reprovação aos ataques realizados contra comunicadores. Tal como expressado pela relatoria especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, os atos de violência contra jornalistas não somente atentam contra o direito destas pessoas de expressar opiniões e ideias livremente, mas também afetam o direito dos cidadãos de buscar e receber informação, algo especialmente importante nos processos eleitorais", acrescentou.

No dia da eleição, os observadores da OEA visitaram 392 seções eleitorais de 121 locais de votação em 11 estados e no Distrito Federal. Por outro lado, disse Chinchilla, foi baixa a presença de representantes dos partidos para fiscalizar os locais de votação. 

"Do mesmo modo, constatou-se a ausência de observadores nacionais, figura que não está contemplada na lei. A missão reitera a importância de que os partidos e a sociedade civil se envolvam na fiscalização das distintas etapas do processo eleitoral", afirmou.

A missão tomou conhecido de problemas com identificação biométrica de eleitores, mas que foram resolvidos, e de casos isolados de vandalismo. 

O grupo elaborou recomendações técnicas para aprimorar o sistema eleitoral do Brasil e vai apresentar um relatório ao Conselho Permanente da OEA e ao TSE. 

Pela primeira vez, uma missão da OEA acompanhou as eleições no Brasil.

O grupo para o segundo turno no Brasil foi integrado por 30 especialistas e observadores de 17 países e por seis pessoas que acompanharam o voto na Argentina, na França, no México, no Canadá, no Chile e nos Estados Unidos.

A OEA também alocou um grupo para observar o primeiro turno. No total, 83 pessoas foram mobilizadas pela organização. 

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