Descrição de chapéu Eleições 2018

Na véspera da eleição, Doria samba, ora, usa camisa BolsoDoria e reclama de 'campanha suja'

Candidato a governador de São Paulo cruzou da zona sul à zona leste paulistana

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

Em seu último dia de campanha, João Doria virou a noite numa vigília evangélica, fustigou o "conteúdo ideológico" em universidades, prometeu processar um vereador, acusou seu rival de fabricar fake  news, disse passar "pela mais suja das campanhas políticas do Brasil", fez seu sinal de "acelera" a bordo de um jipe acelerado, desfilou entre militantes com chapéus de tucano de pelúcia, sambou com uma passista e repetiu tantas vezes quanto pode: Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro.

A horas de sair a derradeira pesquisa Datafolha da temporada, que o mostrou pela primeira vez atrás de Márcio França, mas na margem do empate técnico (49% vs. 51%), o candidato do PSDB ao governo de São Paulo definiu este ciclo eleitoral como “muito duro e muito sujo”.

O candidato a governador João Doria (PSDB) faz campanha corpo a corpo com eleitores no bairro do Capão Redondo
O candidato a governador João Doria (PSDB) faz campanha corpo a corpo com eleitores no bairro do Capão Redondo - Luiz Claudio Barbosa/Código19/Agência O Globo

E seu estado, segundo ele, caprichou na dose. “A mais suja das campanhas políticas do Brasil foi feita aqui”, afirmou na manhã deste sábado (27), em ato com motoboys no Capão Redondo (zona sul paulistana). 

Como de praxe, ele buscou se associar ao presidenciável do PSL. “Foi muito suja também em relação ao candidato Jair Bolsonaro.” A primeira de muitas menções ao capitão reformado que, no fim das contas, se esquivou de declarar voto ao tucano em São Paulo.

"É impressionante o grau de maldade dos partidos aglutinados em torno do Márcio França, e com a condescendência dele. Se ele não fez, permitiu que se fizesse”, disse Doria, que vestia uma camiseta amarela onde se lia BolsoDoria, tudo em frente a uma lanchonete chamada McChina.

Minutos antes, um carro de som passou pela rua já lotada de motoqueiros com bandeiras da campanha tucana, mas sem sinal do candidato, e o motorista falou no megafone: "Pede um carro pro João, este tem dinheiro!". Alguns dos cabos eleitorais disseram estar ali mediante pagamento.

Doria afirmou que na segunda-feira (29) entrará com duas queixas-crime contra o vereador Camilo Cristófaro (PSB), que chegou a apresentar o laudo de um perito para sustentar que um vídeo em que Doria supostamente aparece fazendo orgia com várias mulheres é verdadeiro.

O ex-prefeito tem outro parecer que afirma se tratar de montagem. “O líder disso é um vereador do PSB, que tem uma ficha criminal de mais de um metro. É o Camilo Cristófaro, que está cassado."

​Doria vai à igreja

A comunidade evangélica está inquieta desde o vazamento do vídeo com o ex-prefeito supostamente envolvido no sexo grupal. 

O apóstolo Agenor Duque, da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, tinha boas relações com Doria e, em campanhas passadas, com outros tucanos, como Geraldo Alckmin e José Serra. 

Mas divulgou um vídeo não só declarando apoio ao oponente do tucano neste pleito, como classificando a participação (não comprovada) de Doria na orgia como um "ato maligno, diabólico". E ainda: "Quando o ímpio governa, o povo geme".

A equipe responsável pelo contato de Doria com igrejas intensificou a agenda religiosa do chefe às vésperas da campanha. Na sexta (26), o tucano foi a dois templos da Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago, famoso por usar um chapéu de vaqueiro. Saiu depois das duas da manhã.

Reuniu, ainda, vídeos de pastores endossando a candidatura tucana —disparados para uma rede evangélica de contatos. Um deles menciona a gravação da noite de sexo, chamada de montagem.

Diz o missionário Ezequiel Pires: "Você pode ter certeza que as pessoas ficam subestimando a inteligência do povo. Ninguém acreditou naquele vídeo".

Doria se voltou a um assunto caro a evangélicos: o que chama de excessiva presença de "conteúdo ideológico" no ensino brasileiro. “Quem faz política faz fora da escola”, afirmou.

O ex-prefeito se alinha, assim, ao ideário pregado pelo projeto Escola Sem Partido, que quer expurgar o que entende como infestação ideológica no ensino. E isso em meio à polêmica das operações policiais em universidades (que ele diz ser contra, por achar que é preciso ganhar essa guerra "pelo convencimento").

Disse o tucano: "Não é na universidade nem na escola que se pode ter conteúdo ideológico. Universidade é para aprender, estudar, qualificar, colocar as pessoas em condições de serem profissionais, serem professores, serem cientistas, não políticos”.

Se vitorioso amanhã, ele comandará o estado responsável pela maior rede estadual de ensino e pela universidade do Brasil, a USP.

Em entrevista a jornalistas, o candidato a governador também comentou o apoio que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa deu a Fernando Haddad (PT), por sentir medo de um candidato, Bolsonaro, “pela primeira vez em 32 anos de exercício de voto”.

Doria, que constrói sua campanha em torno do voto casado BolsoDoria, disse que “cada um faz a sua opção, e eu não faço a opção pela esquerda, mas por Jair Bolsonaro”. Frisou, em seguida, respeitar quem toma outra decisão eleitoral. 

‘Quem não puder ir estará de coração’

O ex-prefeito listou aliados que se juntarão a ele neste domingo (28) de eleição, num clube na avenida Paulista: do vereador de seu partido João Jorge à deputada eleita pelo PSL Joice Hasselmann. 

Só não quis responder se na lista de RSPV está Geraldo Alckmin.

“Nós não estamos fazendo convite individual. Todos que desejarem estar, poderão estar. Os que não puderem estar, eu compreenderei também. Os que não puderem estar, estarão de coração”, disse no segundo ato do dia, pelas ruas do Tatuapé (zona leste paulistana). 

Alckmim foi seu padrinho político em 2016 e, após terminar o primeiro turno da eleição presidencial em quarto lugar, insinuou numa reunião do tucanato que Doria era um traidor.

Mesmo na primeira fase do pleito, o ex-prefeito não disfarçou sua simpatia a Bolsonaro, em quem tenta colar esperando colher frutos eleitorais.

“Geraldo Alckmin é um companheiro, continua sendo presidente do meu partido. Espero que ele estar”, afirmou ao ser questionado pela Folha se o ex-governador faria parte da festa (caso ganhe) ou reunião na Paulista. 

Doria ignorou a pergunta sobre os dois colegas de partido já terem conversado no segundo turno. Sua militância começou a gritar “boa, João!” quando ele se esquivou da questão e repetiu que quem quisesse ir seria bem-vindo. 

Em sua última fala à imprensa antes da eleição, o ex-prefeito se estendeu em agradecimentos à família, a Deus e a Jair Bolsonaro.

A poucos metros, algumas militantes gracejavam com o bordão de Cabo Daciolo, que concorreu a presidente pelo Patriota. Na versão delas, o "glória a Deus" virou "Doria a Deus". 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.