Descrição de chapéu Eleições 2018

No DF, candidato milionário banca campanha e avança nas pesquisas

Filiado ao MDB, Ibaneis tenta se descolar dos colegas de partido investigados

Ibaneis Rocha, candidato do MDB ao governo do DF em campanha
Ibaneis Rocha, candidato do MDB ao governo do DF, durante ato de campanha - Divulgação
Bernardo Caram
Brasília

Em uma disputa com candidatos que tentam se ancorar na influência de velhas lideranças políticas para chegar ao governo do Distrito Federal, um milionário aposta no investimento pesado de recursos do próprio bolso para a campanha. E está vendo resultado. Em menos de um mês, Ibaneis (MDB) foi catapultado da posição de candidato nanico à liderança isolada das intenções de voto.

Nascido em Brasília, Ibaneis Rocha Barros Junior, 47, foi presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) seccional Distrito Federal entre 2013 e 2015. Hoje, é diretor do Conselho Federal da OAB e comanda escritório de advocacia que leva seu nome.

Enquanto Ibaneis injetou R$ 2,8 milhões do próprio bolso na campanha, nenhuma doação de pessoa física foi registrada em seu nome. Ele também não recebeu nada do MDB através do fundo partidário.

“Eu estou jogando dentro das regras”, disse à Folha. “Todo mundo sabe que ainda não temos no Brasil uma cultura de participação política que se reverta em doações a candidatos".

Até a primeira semana de setembro, o candidato mais rico do Distrito Federal, com patrimônio declarado em R$ 94 milhões, aparecia no pelotão inferior da pesquisa Datafolha, com 4% das intenções de voto.

Três semanas depois, atingiu 24%, o que o coloca em primeiro lugar, à frente da ex-deputada distrital Eliana Pedrosa (Pros), que vinha liderando e agora tem 16%. O atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), figura na terceira posição, com 12%.

O MDB não foi a primeira opção de Ibaneis quando decidiu entrar na disputa. Antes, ele procurou o PDT, mas diz ter desistido depois que a sigla preferiu dar prioridade à campanha de Ciro Gomes à Presidência.

“Eu entrei para vencer. E para isso eu precisava de um partido que fosse enraizado no Distrito Federal e com tempo de televisão também. Sem tempo de televisão, eu não ia ser nada”, afirmou.

Com dinheiro na mão, convenceu o MDB, assim como o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles fez na campanha à Presidência da República. A diferença é que Meirelles já gastou R$ 45 milhões do próprio bolso na campanha e segue estagnado com 2% das intenções de voto.

Ibaneis diz não se preocupar com o fato de dividir o mesmo partido com investigados pela Operação Lava Jato e ter relação direta com o dirigente da sigla no DF, Tadeu Filippelli, ex-vice governador que chegou a ser preso em operação contra desvio de recursos públicos na construção do estádio Mané Garrincha.

“Corruptos são pessoas, não são os partidos. O MDB tem excelentes quadros. Se um ou outro resolveu se meter com corrupção, que pague sua conta com a Justiça”, disse.

Nas propagandas eleitorais na televisão, ele afirma ter vivido uma juventude humilde, distribui abraços pelas ruas e promete abrir mão de salário, residência oficial, motorista e veículo oficial.

Na avaliação do cientista político Antonio Testa, da Universidade de Brasília, Ibaneis vem se beneficiando da capilaridade do MDB no Distrito Federal e da boa publicidade, que é justificada pela situação financeira do candidato.

“É fácil fazer campanha com tanto dinheiro”, afirmou, ressaltando que o emedebista adotou um tom paternal em suas falas. “A população continua vulnerável ao discurso populista superficial”.

Outro fator que contribui para a ascensão de Ibaneis é a pulverização das candidaturas, com um racha em um campo político que tentou marchar unido. Depois que o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) desistiu da candidatura, o grupo se dividiu em mais de um nome.

A campanha passou a ter uma disputa pelo espólio eleitoral de ex-governadores considerados influentes e populares, apesar de terem histórico controverso.

Eliana Pedrosa, Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD) brigam pela herança de influência do popular ex-governador Joaquim Roriz, morto na última semana, que teve carreira marcada pelo populismo e escândalos. O apoio formal da família Roriz, porém, foi dado a Eliana Pedrosa (Pros).

Os três candidatos ainda têm proximidade com José Roberto Arruda, que tem histórico de condenações judiciais, renúncia ao cargo de senador, mandato de governador cassado e impedimento de candidatura.

“O Arruda tem braço na campanha da Eliana Pedrosa, do Rosso e do Fraga. Ele está jogando em todas as frentes”, disse o cientista político Leonardo Barreto.

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