Descrição de chapéu Eleições 2018

No Rio Grande do Sul, eleição ao governo opõe dois estilos de política

José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) encabeçam a disputa

Estelita Hass Carazzai
Curitiba

De um lado, um governador de 70 anos, voz rouca e bigode, que carrega como bandeira a recuperação fiscal de um dos estados mais endividados do país. Do outro, um ex-prefeito de 33 anos, de barba rala e calça cáqui, que quer fazer do Rio Grande do Sul um polo tecnológico.

Líderes nas pesquisas, José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) encabeçam a disputa pelo governo gaúcho com posturas opostas. Ainda que, do ponto de vista administrativo, compartilhem a necessidade da recuperação fiscal e planos de privatizar estatais, os candidatos usam discursos diferentes. 

Sartori, governador em primeiro mandato, reconhece que parcelou salários de servidores porque não tinha dinheiro, e não faz grandes promessas.

O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (MDB), que é candidato à reeleição
O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (MDB), que é candidato à reeleição - Alan Marques - 26.ago.2016/Folhapress

“Nós não ‘vamo’ fazer milagre. Não vou mentir. Quem é lá da colônia já conhece meu jeito”, afirmou, em entrevista recente à RBS, minutos depois de comparar a administração estadual a um Fiat 147 que passou a um Corolla. 

O emedebista diz representar “simplicidade” e “honestidade”. À Folha, declarou que “não vende ilusões nem faz promessas demagógicas”.

Suas propagandas falam de realizações que seu governo “não prometeu, mas fez”, como delegacias rurais e redução de filas na saúde, e lembram do tabu de que o Rio Grande do Sul nunca reelegeu um governador

“O que é melhor: continuar no rumo certo, ou começar tudo do zero outra vez?”, questiona. 

Leite, por outro lado, promete reduzir a carga tributária, fazer concessões na infraestrutura e gerar empregos, acelerando a economia. Usa como bandeira sua gestão à frente de Pelotas, de onde saiu com boa aprovação, e, apesar de até recentemente evitar criticar Sartori, afirma que o governador faz “a velha política”.

“O olhar do governador ficou apenas nos cofres do governo”, afirmou à Folha. “Nós não precisamos nos contentar com o pouco que ele oferece.” 

O PSDB era aliado do governo Sartori até pouco tempo atrás. O nome de Leite chegou a ser cogitado como vice do emedebista. Mas o partido decidiu deixar a gestão no fim do ano passado para construir uma candidatura própria.

O tucano, que se filiou aos 16 anos e já foi vereador, secretário municipal e prefeito de Pelotas, nega oportunismo e diz não temer o estigma do político. Ele afirma ser diferente: deixou de concorrer à reeleição em todos os cargos que ocupou.

“Esse preconceito que alguns tentam colar é desonesto, porque é uma questão de vocação. Eu gosto de política pela possibilidade de transformação”, afirmou à Folha.

Desde o início da campanha, o tucano saiu de 8% das intenções de voto e chegou ao empate técnico com Sartori, segundo o Ibope: marcou 30%, contra 29% do emedebista.

Para Leite, o atual governador se resignou com a situação fiscal do estado e deixou de promover o crescimento do estado. A insatisfação, segundo ele, levou os eleitores a procurarem uma alternativa.

Sartori, que se autodenomina “gringo” (uma alcunha para os descendentes de italianos da Serra Gaúcha), diz trabalhar com a verdade e critica os candidatos que têm “um discurso bonito”.

“Não é a vaidade, a aventura nem o populismo que vão nos conduzir para o futuro”, disse à Folha. “Muito do que os nossos adversários estão dizendo na campanha eleitoral nós já estamos fazendo”, afirmou, citando concessões de rodovias e redução do prazo para licenciamentos.

Nas últimas semanas, ele centrou críticas em Leite. Suas últimas inserções falam de uma investigação sobre fraudes em exames de câncer em Pelotas. Em uma das unidades de saúde da cidade, que foi governada pelo tucano, todos os exames colhidos deram negativo desde 2014, o que levantou suspeitas de fraude. Ainda não foram comprovadas irregularidades.

“Crítica política faz parte da democracia”, afirmou Sartori. “É obrigação do homem público responder objetivamente, sem se vitimizar com isso.”

Leite reagiu, disse que a atual gestão apura o caso e lamentou “o uso eleitoreiro desse assunto”.

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