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No segundo turno em MG, Zema e Anastasia querem votos de Bolsonaro e deixam petistas órfãos

Com PT fora da disputa, candidatos mantêm oposição ao partido e acenam ao conservadorismo

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Belo Horizonte

Disputando o segundo turno em Minas Gerais, o empresário Romeu Zema (Novo) e o senador Antonio Anastasia (PSDB) mantiveram a estratégia do primeiro turno de acenar ao conservadorismo buscando os votos de Jair Bolsonaro (PSL) e de se apegar ao antipetismo —receita que tirou o governador Fernando Pimentel (PT) da corrida.

Até o início de outubro, Zema havia crescido de 4% para 9% nas intenções de voto segundo o Datafolha. Avançou a 15% e depois a 19% após pedir voto a Bolsonaro em debate na TV —ainda que tenha recuado do movimento, condenado pelo Partido Novo, que tinha João Amoêdo como presidenciável.

Empresário Romeu Zema, candidato a governador de Minas Gerais pelo partido Novo
Empresário Romeu Zema, candidato a governador de Minas Gerais pelo partido Novo - Fred Magno - 08.out.2018/O Tempo/Folhapress


 
Bolsonaro, por sua vez, não declarou apoio nem a Zema e nem a Anastasia, abrindo caminho para que as duas campanhas se associem a ele.

Reportagem da Folha desta quinta (18) mostrou que a campanha de Zema pagou por disparos de mensagens no WhatsApp veiculando o voto em Zema ao voto em Bolsonaro.

Para petistas e tucanos ouvidos pela reportagem, foi a onda bolsonarista que levou Zema a terminar em primeiro, com 42,73% dos votos válidos. Na semana que se seguiu ao primeiro turno, o empresário buscou continuar surfando. 

Zema afirmara que seguiria a orientação do Novo sobre apoio no segundo turno, mas, na terça (9), quando o partido se declarou neutro (mesmo reforçando a oposição ao PT), o empresário declarou voto em Bolsonaro.
 
“Tenho a certeza que na nossa gestão, em parceria com a de Bolsonaro presidente, Minas voltará a ser protagonista no cenário nacional”, publicou em redes sociais, com a #Bolsonaro17Presidente.
 
Em entrevistas na segunda (8) e na terça (9), porém, Zema afirmou à imprensa que todo apoio era bem-vindo, inclusive o de Pimentel, o que repercutiu mal entre eleitores e levou o empresário a fazer acusações de que havia fake news contra ele. “Não concordo de forma alguma com o que o PT prega”, enfatizou.

A equipe de comunicação da campanha foi demitida no dia 9. Assessores disseram que não houve ligação com o caso e que o contrato só duraria mesmo até o primeiro turno. Novos jornalistas foram contratados. 
 
Anastasia aproveitou a brecha para reforçar sua oposição ao PT. Em vídeo divulgado nas redes sociais, disse estar “estarrecido” com o pedido de apoio a Pimentel. “Custamos tanto a derrotar o PT. Eu não vou governar com PT”, afirmou.
 
Com 29,06% dos votos válidos, o tucano também manteve o discurso antipetista no segundo turno, ainda que não tenha abraçado Bolsonaro explicitamente e nem declarado voto.
 
“Reitero minha firme posição política contrária ao PT, por causa dos males causados pelos governos petistas no Brasil e em Minas Gerais. As lideranças que nos acompanham e nos apoiam neste segundo turno estadual terão toda liberdade em manifestar suas posições e o meu voto pessoal será mantido reservado”, afirmou em nota.
 
Aliados justificaram a posição como institucional, para garantir um bom relacionamento com Bolsonaro ou Fernando Haddad (PT) no Planalto. O entorno de Anastasia, contudo, embarcou no candidato do PSL, o que já vinha ocorrendo desde o primeiro turno.
 
Presidente do PSDB em Minas, o deputado federal Domingos Sávio, divulgou na quarta (10) um vídeo ao lado de Bolsonaro, afirmando que “tem que botar pra correr o PT do Brasil inteiro”.

Rodrigo Pacheco (DEM), senador eleito na chapa de Anastasia, e Marcos Montes (PSD), candidato a vice, também já adotaram o capitão reformado.

Antonio Anastasia, que disputa o segundo turno em MG
Antonio Anastasia, que disputa o segundo turno em MG - Hugo Cordeiro - 07.out.2018/Folhapress

Os encontros dos candidatos também buscaram o voto conservador. Zema esteve com líderes pastores, líderes da Igreja Católica, militares, policiais e delegados, além de lojistas, empresários e magistrados.

Anastasia buscou entidades filantrópicas, mas também discursou para o conselho de pastores da região metropolitana. Ambos concentraram os compromissos em Belo Horizonte.
 
Nas propagandas de TV, além de ataques ao adversário, os candidatos reforçam suas bandeiras. Zema condena “a velha política” e o “balcão de negócios”, afirmando que cortará mordomias, privilégios e corrupção. Já Anastasia pede que os eleitores comparem propostas e trajetórias, enfatizando sua experiência na gestão pública.
 
“Nunca se circulou tanta fake news como desde a eleição. Todo dia sai uma coisa diferente a meu respeito. Talvez eu só não tenha sido acusado de ser canibal e vampiro, do resto já me acusaram. Isso é desespero de quem vai perder os privilégios e as mordomias e já estava acostumado com elas há mais de 20 anos”, disse Zema em Ipatinga, nesta quarta (17).
 
“Esse segundo turno é uma campanha de comparação das propostas dos candidatos, do que estamos apresentando, das nossas trajetórias profissionais”, afirmou Anastasia no mesmo dia, em BH.

 

PETISTAS ÓRFÃOS

 
Questionados pela Folha, coordenadores de ambas as campanhas afirmaram que não haveria uma estratégia para atrair votos petistas. Nenhuma proposta, propaganda ou fala seria moldada com esse intuito.
 
Nas palavras de Anastasia, “a campanha é feita a todos os mineiros indistintamente”.
 
Sem receber gestos de nenhum dos candidatos, o eleitorado petista de Pimentel, que alcança 23,12% dos votos válidos, ficou órfão.

Para o deputado Rogério Corrêa (PT), a militância deve votar nulo —o PT de Minas indicou posição de neutralidade no estado. 
 
As falas do tucano a favor de servidores públicos e contra a privatização de estatais não foram suficientes para conquistar petistas, segundo Corrêa.

“Ele não quis se engajar no combate ao fascismo. Ao contrário, ataca o PT para ganhar votos de Bolsonaro.”

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