Descrição de chapéu
Eleições 2018

Painel do eleitor: Acirramento da disputa leva angústia a indecisos

Manicure se diz assustada com Bolsonaro, jardineiro vota útil e advogado reavalia decisão

Ricardo Balthazar
São Paulo

Os dois filhos da manicure Maria do Socorro Rodrigues dos Santos decidiram votar em Fernando Haddad (PT) para presidente. Eles entraram na faculdade com ajuda de programas lançados durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando Haddad era ministro da Educação, e são gratos por isso.

Socorro cansou dos petistas e não sabe como votar. No salão de beleza em que trabalha, num bairro nobre de São Paulo, a maioria das clientes torce por Jair Bolsonaro (PSL), que consideram o único capaz de impedir o PT de voltar ao poder. Várias colegas da manicure também decidiram votar no capitão neste domingo (7). 

Mas ela afirma que não se sente confortável para fazer a mesma escolha. Socorro, 44, criou os dois filhos sozinha e ficou ofendida quando o general Hamilton Mourão, o vice da chapa de Bolsonaro, comparou famílias como a sua a "fábricas de desajustados" durante uma palestra.

A manicure Maria do Socorro Rodrigues dos Santos, 44, e seu filho Pedro Rodrigues dos Santos, 25, assistem ao debate de presidenciáveis em sua casa, na zona oeste de SP
A manicure Maria do Socorro Rodrigues dos Santos, 44, e seu filho Pedro Rodrigues dos Santos, 25, assistem ao debate de presidenciáveis em sua casa, na zona oeste de SP - Rafael Hupsel - 09.set.2018/Folhapress

A manicure diz que poderá votar no capitão se ele enfrentar Haddad no segundo turno, mas está insegura. "Sei que um presidente não decide nada sozinho, mas me assusta imaginar uma pessoa extremada como ele com poder na mão", explica Socorro.

Na quinta (4), ela chegou tarde do trabalho e teve tempo de acompanhar metade do último debate dos presidenciáveis, na TV Globo. Ficou até bem impressionada com Haddad em alguns momentos, mas se decepcionou com os candidatos. "Eles não se respeitam", disse Socorro.

Segundo o Datafolha, 11% dos eleitores ainda não tinham candidato a presidente definido no dia do debate. A indecisão era maior entre as mulheres, segmento em que alcançava 14%, do que para os homens, entre os quais 8% ainda não tinham um nome.

Longe de Socorro, o jardineiro Jadson Bonfim Santos, 45, chegou a uma conclusão parecida com a dela após assistir ao debate da Globo na quinta. "Se for analisar as propostas, a melhor opção seria votar nulo", afirmou. Ele votou no PT em todas as últimas quatro eleições presidenciais.

Santos diz que votaria mais uma vez em Lula se a candidatura do ex-presidente preso em Curitiba não tivesse sido barrada pela Justiça Eleitoral. Na sua opinião, Haddad não terá condições de governar, porque todos os partidos políticos se voltarão contra o PT se ele vencer a eleição. 

O jardineiro também tem medo do que pode acontecer com o país se Bolsonaro vencer. "Só vai aumentar a violência e a intolerância", disse Santos, que vive na periferia da cidade e há alguns anos teve um irmão morto a pauladas, em circunstâncias nunca esclarecidas pela polícia.

Espremido entre os dois polos formados pelo acirramento da disputa eleitoral, o jardineiro chegou ao fim da semana inclinado a votar em Ciro Gomes (PDT). Seria o caminho para impedir Bolsonaro de assumir o poder, sem os riscos que um novo governo petista acarretaria, afirmou.

O jardineiro Jadson Bonfim dos Santos, 45, assiste ao debate entre presidenciáveis. Ele ainda está indeciso quanto ao seu voto
O jardineiro Jadson Bonfim dos Santos, 45, assiste ao debate entre presidenciáveis. Ele ainda está indeciso quanto ao seu voto - Rafael Hupsel - 17.ago.2018/Folhapress

​Bolsonaro foi o alvo preferencial dos adversários no debate da Globo. De repouso em casa por recomendação médica, para se recuperar das cirurgias que sofreu após levar uma facada no início de setembro, ele se afastou das ruas na reta final da campanha e não participou do evento.

A ausência incomodou o advogado Fabio Carvalho, 51. "Ela levanta suspeita sobre suas intenções e a maneira como tem explorado o atentado", disse. Uma entrevista gravada com Bolsonaro foi exibida pela TV Record durante o bloco inicial do debate da Globo. 

Carvalho é um dos que foi arrastado pela onda conservadora que deu impulso à candidatura de Bolsonaro na reta final da campanha. O advogado votou no PSDB nas últimas quatro eleições presidenciais, mas agora está disposto a trocar de camisa para barrar o PT.

Na sua faixa de renda, em que as pessoas ganham mais de dez salários mínimos por mês, Bolsonaro alcançou 53% das intenções de voto no fim da semana, segundo o Datafolha. Para Carvalho, a corrupção e a má administração da economia nos governos petistas levaram o país à ruína.

Mas o acirramento dos ânimos nos últimos dias começou a preocupá-lo. Ele teme que, em vez de unir o país, uma vitória de Bolsonaro tenha efeitos semelhantes ao da volta do PT, com manifestações populares, ódio nas ruas e impasses no Congresso. "As pessoas estão radicais", disse. "Parece que estamos na arquibancada na final do campeonato."

 

A Folha acompanhou os debates do primeiro turno da corrida presidencial com um grupo de eleitores de São Paulo que se declarava sem candidato definido no início da campanha. O advogado Carvalho é o único inclinado a apoiar Jair Bolsonaro (PSL). O casal formado por Joyce e Juliano Bernardes se dividiu. Ela está disposta a votar em Geraldo Alckmin (PSDB) e ele vai com Ciro Gomes (PDT), assim como o jardineiro Jadson. O estudante Fernando Safadi chegou à véspera da eleição ainda sem candidato definido, como a manicure Socorro. A empregada doméstica Antônia Rodrigues Oliveira continua decidida a votar em branco.


 

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