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Eleições 2018

Painel do Eleitor: Avessa à política, doméstica que se decepcionou com PT rejeita candidatos

Para Antônia, 62, "vai ser uma guerra" se Bolsonaro cumprir promessa de armar a população

Ricardo Balthazar
São Paulo

No dia em que milhares de manifestantes foram às ruas protestar contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), a empregada doméstica Antônia Rodrigues Oliveira, 62, viajou até Minas Gerais para um casamento. Não viu as notícias no sábado (29), nem se importou quando soube.

A doméstica Antônia Rodrigues Oliveira, 62, em sua casa para assistir ao debate dos presidenciáveis na TV Record no domingo (30)
A doméstica Antônia Rodrigues Oliveira, 62, em sua casa para assistir ao debate dos presidenciáveis na TV Record no domingo (30) - Jardiel Carvalho/Folhapress

Ela diz não ter interesse na vida pessoal do líder da corrida presidencial, que no passado foi acusado pela ex-mulher de esconder o patrimônio e fazer ameaças em meio a uma disputa pela guarda do filho do casal. Também dá de ombros quando ouve falar de suas ofensas às mulheres.

O que mais assusta Antônia é a promessa do capitão reformado do Exército de que irá liberar o porte de armas sem as restrições previstas pela legislação brasileira. “Se ele der arma para todo mundo, vai ser uma guerra”, ela afirma.

Na noite de domingo (30), Antônia reuniu parte da família para ver os candidatos no debate promovido pela TV Record. Bolsonaro, que ficou em casa por ordem dos médicos que o acompanham desde que levou uma facada no início do mês, virou  alvo preferencial dos adversários.

Eleitora do PT nas últimas quatro disputas presidenciais, Antônia não sabe em quem votar desta vez. Decepcionou-se com o partido ao ver Luiz Inácio Lula da Silva envolvido com corrupção e acha que o ex-presidente mente sobre o triplex e o sítio  que empreiteiras reformaram para ele.

A maioria à sua volta já decidiu. A irmã sempre apoiou os candidatos tucanos e agora é uma seguidora entusiasmada de Bolsonaro, do tipo que duvida das urnas eletrônicas, acredita em notícias falsas e acha que jornais e redes de televisão recebem dinheiro para criticar seu candidato.  

O marido, que trabalha com pequenas obras e reformas e sempre votou no PT, está entre aqueles que consideram Lula o melhor presidente que o Brasil já teve. Vai votar em Fernando Haddad, o candidato indicado pelo líder preso em Curitiba para substitui-lo na corrida presidencial.

Antônia está preocupada com a crise econômica e o desemprego. Lembra da era lulista como o tempo em que os filhos conseguiram se formar em faculdades particulares com financiamento do governo e ela podia viajar de avião uma vez por ano  para rever os parentes no Ceará.

Durante o debate de domingo, quando Henrique Meirelles (MDB) mencionou sua participação no governo Lula como presidente do Banco Central, ela lembrou de sua passagem recente pelo governo Michel Temer, de quem foi ministro da Fazenda.  “Fizeram o Brasil afundar”, disse.

Pouco tempo depois, ao ouvir o tucano Geraldo Alckmin acusar os petistas de esconder a ex-presidente Dilma Rousseff para não ter que discutir sua responsabilidade pela recessão em que o país mergulhou durante o seu governo, Antônia achou  graça e riu.

A empregada doméstica diz ter pouca curiosidade pela política. Quando Guilherme Boulos (PSOL) criticou Haddad por andar no Nordeste com políticos que apoiaram o impeachment de Dilma, como os senadores emedebistas Renan Calheiros (AL)  e Eunício Oliveira (CE), ela disse que não conhece nenhum dos dois.

Questões práticas lhe interessam muito mais. Marina Silva (Rede) prometeu bolsas para estudantes que concluírem o ensino médio antes de ingressar no mercado de trabalho. Antônia, que parou de estudar no terceiro ano do ensino fundamental,  acha que as escolas públicas são muito ruins e os alunos só perderão tempo ali. “Os jovens têm que trabalhar, em vez de viver às custas dos pais”, afirmou.

Quando Ciro Gomes (PDT) falou em sua proposta de renegociação das dívidas de quem estiver com o nome sujo na praça, ela lembrou da explicação que ouvira sobre o assunto antes no rádio. “Ele é maluco”, disse. “Nunca vai conseguir fazer  isso.”

Antônia acha que Haddad não foi um bom prefeito quando administrou São Paulo, entre 2013 e 2016, e esse é o motivo que apresenta para não vota no petista. Após duas horas observando os candidatos no domingo, ficou com a impressão de que  são todos muito parecidos. “Vão todos afundar o Brasil ainda mais”, disse.

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